Um minuto de silêncio e constrangimento: a despedida de Nísia do governo
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O atraso nos eventos palacianos é algo bastante corriqueiro, mas na cerimônia desta terça-feira (25), em que a ainda ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou a vacina brasileira contra dengue a partir de 2026, a expectativa era diferente.
Com diversos aliados do presidente Lula já selando a saída da ministra para realizar ajustes ministeriais, Nísia subiu ao palco visivelmente emocionada. Em alguns trechos do discurso, chegou a embargar a voz.
Auxiliares do governo admitiam que a situação era "constrangedora" e que não entendiam a razão da demora de Lula em oficializar a saída da ministra. Houve até quem arriscasse um cenário em que Lula surpreenderia a todos e faria um discurso de permanência. A maior aposta, no entanto, era que o presidente faria falas de agradecimento.
Mas Lula se calou. Não fez discurso e, no fim da cerimônia, provocado por um repórter sobre as mudanças ministeriais, ele paralisou. Perguntou quem era e por instante pareceu que preparava uma resposta.
Mas preferiu ficar em silêncio. Um "fator externo" também sepultou as chances de Lula se pronunciar: a intervenção da primeira-dama, Janja, que irritada com os jornalistas disse que não era hora de perguntas.
Lula se reuniu com Nísia antes e após o evento e, depois disso, chamou Alexandre Padilha, que será o novo chefe da Saúde, para uma conversa. A demissão foi selada horas após o evento, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo e confirmada pelo UOL. Somente depois disso, por volta das 19 horas, a Secretaria de Comunicação da Presidência confirmou a demissão.
Agradecimentos, palmas e homenagem ao Papa
Alguns presentes no evento faziam a aposta de que Nísia teria pedido "pela despedida", queria mostrar o fim do ciclo, com trabalho e entrega. Auxiliares da ministra insistiam em dizer que ela estava trabalhando normalmente, mas não disfarçavam o desgaste por uma 'fritura tão deselegante".
Em sua fala, Nísia detalhou os investimentos da pasta e fez questão de aplaudir e agradecer os integrantes da sua equipe. Em dado momento pediu que todos os secretários presentes se levantassem para serem aplaudidos.
Antes disso, foram os servidores que puxaram um forte aplauso no momento em que a ministra foi anunciada na cerimônia. Era como se agradecessem e tentassem minimizar o desconforto de uma despedida iminente e puramente política. Não é por uma questão técnica, dizem.
É verdade que Lula segurou bastante a pressão do Congresso contra a ministra. Não é de hoje que o cargo dela é cobiçado e Lula sabe a importância do Ministério da Saúde. Justamente por isso escolheu Padilha, um dos auxiliares tidos como fiéis ao presidente.
Uma brincadeira —de gosto duvidoso— correu as conversas no Palácio quando Nísia falou da experiência de ter estado com o Papa Francisco e pediu um minuto de silêncio pela saúde do pontífice, que está internado em Roma.
A etiqueta comum prega que minutos de silêncio são dados quando as pessoas morrem. Devido a quebra de protocolo, alguns auxiliares de Lula rapidamente brincaram: esse um minuto de silêncio foi pela morte da Nísia como política. "Acabou pra ela", diziam.
A gentileza ficou por conta do vice
Diferente de Lula, o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, discursou. Bem-humorado, fez piada sobre meias coloridas e teceu diversos elogios à ministra.
Alckmin, que é médico, ressaltou a importância do avanço da medicina e da ciência em relação às vacinas e brincou que essas iniciativas fariam com que ele e o presidente Lula vivessem mais e que as mulheres sejam eternas.
"Presidente, que nós temos que tratá-los [os cientistas] bem, porque são essas novas moléculas que vão nos levar a 120 anos de idade. Nós temos que tratar bem. E a nossa meta é mais ousada ainda. Nós, homens, 120 anos, e que as mulheres não morram mais", concluiu Alckmin.
Com isso, o evento foi encerrado. Pouco mais de cinco horas depois, o adeus de Nísia no comando da Saúde foi finalmente selado.
Em uma nota curta divulgada no início da noite, o Palácio do Planalto disse que Lula comunicou a Nísia "a substituição na titularidade da pasta, que passará a ser ocupada pelo atual ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a partir da posse marcada para a quinta-feira, dia 6 de março". "O presidente agradeceu à ministra pelo trabalho e dedicação à frente do ministério", diz o texto.
117 comentários
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Marcos Fernandes dos Santos
A se fosse no governo Bozo, estava sendo chamado de misógino. Mas é o governo do amor, que privilegia as mulheres.
Wanessa Spiess
Impressionante como os políticos se superam em fazer o pior... a cada novo dia
Enilce Pilatti Nicolau
Lule finalmente inovou saiu do analógico e partiu para o digital pós moderno. Inventou a demissão pela imprensa, pois por fax, carta e WhatsApp estão muito atrasados.