'Tem que vazar tudo', dizia Bolsonaro sobre rachadinha que apavora família
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Faz um ano, nove meses e cinco dias que Jair Bolsonaro tomou posse. Nesse período, o presidente foi acometido de uma amnésia que contagiou o primogênito Flávio Bolsonaro. Em dezembro de 2018, quando o caso da rachadinha ganhou as manchetes, o capitão queria que tudo fosse jogado no ventilador. "Não sou contra vazamento", disse numa live transmitida a vivo nas redes sociais. "Tem que vazar tudo mesmo. Nem devia ter nada reservado. Tem que botar tudo para fora e chegar à conclusão."
Hoje, Flávio Bolsonaro vai às mesmas redes sociais para celebrar a decisão judicial que censurou a TV Globo, impedindo-a de expor dados do inquérito que pulveriza sua biografia e intoxica a conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro. "Acabo de ganhar liminar impedindo a #globolixo de publicar qualquer documento do meu procedimento sigiloso", festejou o Zero Um.
O Bolsonaro de dezembro de 2018, com o título de presidente estalando de novo, era adepto da política de pratos limpos, mesmo que o melado transbordasse da conta do operador de rachadinha Fabrício Queiroz. "Se algo estiver errado —seja comigo, com meu filho ou com o Queiroz— que paguemos a conta deste erro. Não podemos comungar com erro de ninguém."
Agora, Queiroz arrasta uma tornozeleira eletrônica em sua prisão domiciliar. E Flávio diz o contrário do que pratica. No gogó, revela um hipotético apreço à luz do Sol: "Não tenho nada a esconder e expliquei tudo nos autos." Na prática, esconde imagens rachadinhas —a sua e a do pai— sob o breu da censura: "As narrativas que parte da imprensa inventa para desgastar minha imagem e a do presidente Jair Bolsonaro são criminosas."
Antes de se acomodar no trono, Bolsonaro tinha pressa: "O que a gente mais quer é que seja esclarecido o mais rápido possível, que sejam apuradas as responsabilidades, se é minha, se é do meu filho, se é do Queiroz. Ou de ninguém." Desde então, Flávio ajuizou nas três instâncias do Judiciário uma dezena de ações protelatórias.
A soma dos depósitos de Queiroz na conta da primeira-dama já subiu de R$ 24 mil para R$ 89 mil. Mas Bolsonaro passou a avaliar que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. Perguntas sobre o tema despertam no presidente um desejo incontido de "encher de porrada" as bocas que ousam indagar.
Algo mudou no intervalo entre o "tem que vazar tudo mesmo" e o esconde-esconde atual. Exceto pela amnésia, Jair e Flávio Bolsonaro são os mesmos. O que há de diferente é o medo, o pavor, o pânico do que poderia ocorrer se as investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro levantassem todos os tapetes da família.
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