Lula requenta programas sociais na TV para reaver o voto-gratidão
Sidônio Palmeira, o ministro-marqueteiro, impõe à Secom uma lógica de comitê eleitoral. Percebeu nas dobras das pesquisas que a gratidão virou um sentimento envelhecido na base do eleitorado tradicional de Lula. Munido do diagnótico, reagiu como operador de campanha.
O chefe da comunicação do Planalto requentou dois programas sociais —Farmácia Popular e Pé-de-Meia—, colocou nos lábios de Lula um linguajar de blogueirinho populista —"A dupla não é sertaneja, mas está mexendo com o Brasil"; "olha que legal"; "é tudo de graça"—, jogou a mistura dentro de uma peça publicitária de dois minutos e levou ao ar. A rede nacional foi convocada com método.
Na noite de segunda-feira, o pronunciamento de Lula invadiu os lares dos brasileiros no horário nobre da TV, atrasando o telejornal e a novela. Na manhã desta terça, a voz do presidente soou nas emissoras de rádio. Nos dois casos, o alvo era o brasileiro pobre que passou a engrossar o índice de desaprovação do governo nas pesquisas.
Não havia data comemorativa nem novidade a anunciar. O Farmácia Popular foi lançado no primeiro mandato de Lula, há duas décadas. Desossado sob Bolsonaro, foi recriado há dois anos. A novidade é que subiu de 39 para 41 o número de itens gratuitos fornecidos à clientela do SUS. Mas a ministra Nísia Trindade (Saúde), com a corda no pescoço, já havia batido esse bumbo há duas semanas.
O Pé-de-Meia surgiu sob Lula 3. O governo encampou projeto da deputada Tabata Amaral. O lançamento ocorreu há mais de um ano. Em turnê pelos estados, o ministro Camilo Santana (Educação) relançou a iniciativa duas dezenas de vezes. Lula apenas trombeteou o pagamento, a partir desta terça, da parcela de R$ 1.000 aos alunos do programa que passaram de ano em 2024.
É improvável que Lula consiga ressuscitar o voto-gratidão servindo mais do mesmo a eleitores desiludidos. Lula repetiu a certa altura que recebeu um Brasil "destruído". O diabo é que ninguém o elegeu para passar quatro anos malhando o antecessor. A antiga gratidão transformou-se numa exigência difusa de novas realizações. De resto, discurso em rede nacional não barateia o preço do ovo.
Opinião
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