Topo

Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Brasil não merece ser presidido pela estupidez

Colunista do UOL

21/06/2021 17h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Fora de si, Bolsonaro voltou a mostrar o que tem por dentro: destempero e desqualificação. De passagem por Guaratinguetá (SP), o presidente escalou os cascos ao ser questionado sobre o fato de ter chegado à cidade sem máscara. "Cala a boca", disse a uma repórter. Chamou-a de "canalha". Desancou a TV Globo. "Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa", Atacou a cobertura da CNN às manifestações anti-bolsonaristas do último sábado. "CNN? Vocês elogiam a passeata né? Jogaram fogos de artifício em vocês e vocês elogiaram ainda."

Bolsonaro ainda não se deu conta. Mas o papel da imprensa numa democracia não é o de apoiar ou de se opor aos governos. Sua tarefa é a de levar à opinião pública tudo o que tenha interesse público. E interessa muito à plateia um presidente que briga com a máscara depois de ter sancionado, em julho de 2020, a lei número 14.019, que torna obrigatório o uso de apetrecho durante a pandemia. Bolsonaro adoraria que a imprensa ajustasse a realidade ao Brasil paralelo em que decidiu viver. Mas a ausência dos 500 mil mortos por covid intima os repórteres a informar constantemente que o país paralelo do presidente leva à morte.

O presidente da República está acuado por uma CPI e pelo ronco do asfalto. Mas nada debilita mais Bolsonaro do que a sua própria língua. No relacionamento entre a imprensa e os políticos, não há perguntas embaraçosas, apenas respostas constrangedoras. As entrevistas do capitão sempre foram marcadas pelo constrangimento. Constrangem não pelas perguntas que o personagem é obrigado a ouvir, mas pelas respostas que ele não é capaz de fornecer. Na falta de respostas para as perguntas incômodas, Bolsonaro perde a linha.

Já questionou a sexualidade de um repórter, ofendeu a mãe de outro, fez gracejos sexistas em relação a uma jornalista que fez reportagem que não saiu ao seu gosto, chamou outra profissional de "quadrúpede". O presidente ameaçou "encher de porrada" a boca de um repórter que ousou indagar sobre a origem dos R$ 89 mil que o operador de rachadinhas Fabrício Queiroz depositou na conta da primeira dama Michelle.

O comportamento de Bolsonaro não é normal. É absurdo. Bolsonaro acha que desmerece a imprensa com seus ataques. É um engano. O presidente já não compromete apenas a sua reputação, da qual resta muito pouco. Incapaz de elevar a sua estatura, Bolsonaro rebaixa o teto da Presidência. O presidente não é apenas uma faixa. É preciso que por trás da faixa exista uma noção qualquer de honra. O Brasil não merece ser presidido pela desonra e pela estupidez.