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Leonardo Sakamoto

Inflação dos pobres foi mais de duas vezes maior que a dos ricos em 2020

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia Paulo Guedes  - Mateus Bonomi/AGIF - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia Paulo Guedes Imagem: Mateus Bonomi/AGIF - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

16/01/2021 07h24

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A inflação para os brasileiros de renda muito baixa (menos de R$ 1650,50 por domicílio por mês) foi maior do que a inflação dos que têm renda alta (mais de R$ 16.509,66) em 2020. Em números, 6,22% frente a 2,74%.

O cálculo, divulgado, nesta sexta (15), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acabou escondido em meio à tragédia da falta de oxigênio em hospitais de Manaus. O ano começa com pandemia, desemprego e inflação em alta, mas sem auxílio emergencial.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) segue afirmando que não irá prorrogar o benefício. A mortalidade causada pela pandemia, contudo, não dá sinais que vai arrefecer nos próximos meses. Tampouco a inflação.

Na média, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, fechou o ano em 4,52%.

"Como para as famílias mais pobres os gastos com alimentos, energia e gás comprometem 37% dos seus orçamentos, os reajustes acumulados de arroz (76%), feijão (45%), carnes (18%), leite (27%) e óleo de soja (104%), além das tarifas de energia (9,2%) e do gás de botijão (9,1%), contribuíram para uma alta inflacionária bem mais intensa que a observada no segmento mais rico, cujo peso destes itens nas despesas mensais é de 15%", afirma documento do Ipea.

Por outro lado, itens com grande peso nas famílias mais ricas subiram pouco no primeiro ano da pandemia, como mensalidades escolares (1,1%) e serviços médicos e hospitalares (1,8%). Ou caíram, como passagens aéreas (-17%), seguro de automóvel (-8%) e gasolina (-0,2%).

Já não bastasse o fim do auxílio emergencial, a alta nos preços que impactam mais os mais pobres e o recrudescimento da pandemia (que afeta mais quem tem menos acesso a hospitais com recursos), o ano começa com desemprego com viés de alta: 14,1 milhões e subindo, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua do IBGE.

A recuperação de vagas com carteira assinada tem sido rápida, como previsto. Contudo, há um exército de trabalhadores informais que está saindo da quarentena, procurando serviço e não encontra.

Com o fim do auxílio, economistas acreditam que a inflação vá ceder. Até porque as pessoas comprarão menos comida - sim, a inflação nos alimentos durante a pandemia também serve como indicador de que estamos longe de garantir dignidade a todos. E acreditam que, com a volta do crescimento econômico, desempregados serão absorvidos e informais se tornarão formais, paulatinamente.

O problema de cálculos como esse é que o tempo das planilhas é diferente do tempo das pessoas. Entre uma coisa e outra, há um intervalo em que milhões de brasileiros, sem auxílio emergencial e sem serviço, encontrarão preços mais altos para comida e aluguel.

Soma-se a isso que, devido à demora no processo de vacinação e a ausência de perspectiva para imunizar toda a população, o coronavírus continuará matando especialmente os trabalhadores pobres, que não fazem home office e precisam ir para a rua devido à ausência de auxílio emergencial. Em outras palavras, o colapso da falta de oxigênio pode ser o primeiro de muitos.

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Aviso: Volto no dia 25 de janeiro

Para a alegria de todos e todas, ficarei uma semana de férias - essa herança sindicalista irresponsável que impede o crescimento econômico do país.

A menos que aconteça algo mais bizarro do que o nosso bizarro cotidiano.