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Ernesto tira o corpo fora e culpa Pazuello por problemas na pandemia
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O ex-chanceler Ernesto Araújo usou o seu depoimento na CPI da Pandemia, nesta terça (18), para tirar o corpo fora e jogar responsabilidades por decisões equivocadas tomadas durante a pandemia de covid-19 nas costas do Ministério da Saúde, mais especificamente nas do general Eduardo Pazuello. O depoimento do ex-ministro à comissão está sendo ansiosamente aguardado para esta quarta.
Ao ser questionado sobre a razão do Brasil ter optado pela quantidade mínima de doses ao aderir, em setembro de 2020, ao Consórcio Covax Facility, da Organização Mundial de Saúde, o suficiente para atender apenas 10% da população, e desprezado os 50% disponíveis, Ernesto disse: "a decisão não foi minha, foi do Ministério da Saúde".
Cobrado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre "quem no Ministério da Saúde deu a ordem sobre os 10% e não sobre os 50%", o ex-chanceler respondeu: "Não sei quem deu a ordem, entendo que a decisão do Ministério da Saúde, responsabilidade do Ministro da Saúde".
Logo em sua declaração de abertura, Ernesto Araújo disse que a definição das estratégias contra a pandemia foi da pasta da Saúde e atribuiu ao Itamaraty um papel apenas de operador dessas decisões. Sua função seria a de contatar governos e facilitar a compra de equipamentos e medicamentos. Um despachante internacional.
Por exemplo, o ex-chanceler afirmou que a busca por importar cloroquina, remédio sem eficácia contra a covid-19, com graves efeitos colaterais e que tem em Jair Bolsonaro seu mais famoso garoto-propaganda, foi realizada pelo Itamaraty a pedido do Ministério da Saúde.
"Havia expectativa de que houvesse eficácia no uso da cloroquina para tratamento da Covid, não só no Brasil, mas no mundo. Isso baixou precipitadamente o estoque de cloroquina e fomos informados sobre isso pelo Ministério da Saúde. A pedido do ministério, buscamos facilitar a importação de insumos para a produção de cloroquina", afirmou.
Ele também declarou que o Ministério das Relações Exteriores participou de negociações para a aquisição de vacinas desenvolvidas pela Oxford/AstraZeneca e para a adesão ao Covax Facility, mas que a definição dos diálogos em busca de imunizantes também era do Ministério da Saúde.
Bolsonaro tem sido duramente criticado por médicos e cientistas por não ter diversificado a busca por vacinas e evitado fechar mais acordos com laboratórios, o que levou à atual falta de doses no Brasil, estendendo desnecessariamente a duração da pandemia e provocando mais mortes.
De acordo com depoimento do gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, à CPI da Pandemia, a terceira proposta da empresa ao governo federal, datada de 26 de agosto do ano passado, previa 70 milhões de doses, das quais 4,5 milhões seriam entregues entre dezembro de 2020 e o primeiro trimestre deste ano. Ela ficou dois meses sem uma resposta.
Em 17 de dezembro do ano passado, Bolsonaro criticou a vacina da Pfizer. "Se tomar e virar um jacaré é problema seu. Se virar um super-homem, se nascer barba em mulher ou homem falar fino", afirmou sobre os efeitos colaterais do imunizante. E defendeu mais uma vez o uso de cloroquina como solução para a covid-19.
Por conta da pressão da sociedade diante da alta de mortes na segunda onda da pandemia e a falta de vacinas para proteger cidadão e reabrir a economia, o governo botou o rabo entre as pernas e fechou um contrato com a Pfizer para a compra de 100 milhões de doses, em março, e anunciou a compra de mais 100 milhões logo depois.
O presidente também atacou duramente a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, e que fechou acordo de produção com o governador de São Paulo, João Doria. Neste momento, tanto o Instituto Butantan quanto a Bio-Manguinhos/Fiocruz estão sem a matéria-prima chinesa para a fabricação da CoronaVac e da AstraZeneca, respectivamente. O diretor do Butantan, Dimas Covas, aponta que as novas declarações de Bolsonaro contra a China, insinuando que o país inventou o coronavírus para uma guerra econômica, atrasou a exportação do produto fabricado.
Na CPI, nesta terça, Ernesto Araújo negou que tivesse atacado a China, o que teria contribuído para a situação em que nos encontramos. Questionado sobre um artigo que ele escreveu chamado "Chegou o Comunavírus", afirmou que não faz estocadas no gigante asiático apesar de efetivamente fazer - leia o artigo original aqui.