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Paulo Sampaio

Em hotel no Marrocos, hóspedes são "despejados" e acampam no aeroporto

Aviso afixado em porta de quarto de hotel no Marrocos - Divulgação
Aviso afixado em porta de quarto de hotel no Marrocos Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

18/03/2020 13h38

No Marrocos desde o dia 14 para comemorar cinco anos de casados, o engenheiro paulista Alexandre Paulino Bruno, 46 anos, e a mulher, a dentista Maria Guilhermina Izar, 42, encontraram um aviso afixado na porta do quarto, informando que terão de deixar o hotel hoje (19). A hospedagem do casal iria até o domingo, 22. "Antes de vir, procuramos nos informar a respeito da situação aqui, disseram que poderíamos ficar tranquilos", diz Alexandre, que está com a mulher em Marrakesh.

Ele e Maria Guilhermina não são os únicos brasileiros postos na rua. Segundo informam, havia até ontem "cerca de 200 pessoas sem ter para onde ir", muitas instaladas nos jardins do aeroporto. Elas aguardam com turistas de vários países que as autoridades locais decidam quando (e como) conseguirão embarcar. O governo do Marrocos decretou o fechamento das fronteiras para entrada e saída. Eles contam também com o apoio da embaixada brasileira.

O engenheiro Alexandre Bruno e a dentista Maria Guilhermina receberam comunicado de "expulsão" do hotel, no Marrocos - Reprodução - Reprodução
O engenheiro Alexandre Bruno e a dentista Maria Guilhermina receberam comunicado de "expulsão" do hotel, no Marrocos
Imagem: Reprodução

Alexandre sofreu um infarto no passado e toma remédios controlados. No grupo da guia Rosalia Alvarenga também há uma senhora com câncer, que está com o medicamento contado. Do Brasil, a jornalista Mariana Seabra tenta monitorar a situação da mãe, que está com 14 mulheres de 60+ (ela é hipertensa e também depende de medicamentos).

Maria Guilhermina afirma que a desinformação com que os abandonaram aumentou a sensação de desespero. Os táxis estão cobrando o equivalente a R$ 100 por uma corrida para qualquer ponto da cidade.

Em um grupo de whatsapp que reúne boa parte dos brasileiros, a turista Lola escreveu: "O que precisamos é de um voo de repatriação, como está acontecendo com turistas de outros países". Um brasileiro radicado na França chamado Augusto diz que tem parentes visitando o Marrocos e tenta ajudar, mas encontra muitas dificuldades.

Turistas expulsos de hotéis se acumulam no gramado do lado de fora aeroporto - Reprodução - Reprodução
Turistas expulsos de hotéis se acumulam no gramado do lado de fora do aeroporto
Imagem: Reprodução

Sem opção de estadia, alguns dos viajantes aceitaram a oferta de outros que alugaram apartamentos em sites de locação por curto período. Uma pessoa identificada apenas por um número de telefone posta a mensagem: "Eu moro em Beni Melal, a 180 km de Casablanca. Minha casa grande está aberta para você até encontrar a solução. Posso passar no meu carro e levá-la comigo." Recebeu de volta, de uma das integrantes do grupo, a figurinha de duas mãos em concha, rodeadas de corações.

Só de mineiros, informa a consultora de TI Bruna Dias Lobo, 36 anos, há por volta de 45 pessoas entre Casablanca e Marrakesh. "A agência está dando todo o suporte possível, só que precisamos de algo muito além disso, uma atitude das autoridades brasileiras. A única solução que eu vejo é o governo enviar um avião para nos resgatar aqui."

Ela diz que "os marroquinos têm sido bastante atenciosos e a embaixada do Brasil afirma que está empenhada em ajudar". "Eu falo em primeira pessoa, e acredito que seja uma exceção porque me encontro em uma situação privilegiada por conta da agência que nos trouxe e da operadora dela no Marrocos. Acontece que eu não posso pensar apenas em mim, ou no meu estado, tenho de pensar no Brasil como Nação."

Na página da embaixada no facebook, informa-se que as autoridades brasileiras têm sido atualizadas sobre a situação dos turistas, e que a missão tem feito "repetidas gestões junto ao governo do Marrocos e da cia aérea do país, na busca de uma solução urgente".

Bruna conta que, entre os brasileiros, há muitos em situação desesperadora, sem internet, sem dinheiro e com o limite do cartão estourado. "Mesmo para os que têm poder aquisitivo, não existe a possibilidade de comprar uma passagem e pegar um voo. A grande maioria está vivendo uma situação de pânico."

Outra integrante do grupo, Elisa Walleska, informa que existe um canal de comunicação com as autoridades do Brasil chamado "Fale com o presidente"; ao que Ana Paima responde: "De que presidente vocês estão falando? Vocês estão brincando né?"