Quem vive no buraco é rato, diz apoiador de Bolsonaro em manifestação em SP
Cerca de 30 apoiadores do presidente Jair Bolsonaro se reuniram hoje (5) em frente à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), na avenida Paulista, para protestar contra o isolamento social durante a pandemia de coronavírus. O encontro foi convocado por integrantes de grupos de whatsapp.
O ato era muito pequeno, mas enquanto aglomeração, desaconselhável. Mesmo assim, os poucos que usavam máscara diziam que não era por prevenção, apenas "em consideração às outras pessoas".
"Esse vírus é uma farsa! Nunca existiu! Alguém aqui conhece uma pessoa que esteja com ele?", perguntava, a plenos pulmões, o engenheiro Antônio Carlos Bronze, 64 anos.
Todos: "Nããããoooo!"
Indignado, Bronze esbravejava que precisou mandar para casa mais de 60 funcionários de sua empresa: "Vem trabalhar! Quem vive em buraco é rato!"
Sem máscara nem álcool
Sempre que o sinal fechava, a florista Josi Guimarães, 51, erguia no meio da avenida uma bandeira do Brasil. "Não uso máscara nem álcool, e não fui infectada. Eu sou patriota, quero que o nosso país volte à normalidade!"
De acordo com Josi, o (mini)ato chegou a contar com cem pessoas, mas uma parte desceu para a Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo). Ela lamentou: "Pena que você (repórter) chegou só agora. Tinha muito mais gente."
O militar da reserva Jurandir Alencar, 58, pediu um minuto de atenção à coluna para explicar sua teoria: "As pessoas têm morrido de outras comorbidades. O covid-19 apareceu na China em setembro, outubro, estourou no mundo, chegou aqui no Carnaval, e desde então foi amplamente disseminado. Isso criou resistência ao vírus. Muita gente já está imunizada. Foi um tiro no pé da esquerda (China)."
Os incríveis
De uma caixa de som saía a versão gravada em 1970 pelo grupo "Os Incríveis" da música "Eu te Amo meu Brasil", considerada o hino da ditadura militar.
Bronze sobe na jardineira e grita que a ditadura, assim como o coronavírus, nunca existiu. Ele brada o nome do general Newton Cruz — muito ativo no regime da repressão — e do SNI (Serviço Nacional de Informação), que foi um dos mais importantes instrumentos de controle dos opositores do governo militar.
"O que houve foi uma ação para não entregar o Brasil para os comunistas chineses!!"
O engenheiro e outros dois manifestantes estendem uma bandeira do Brasil junto com a de Israel. "Eles (israelenses) estão com a gente. Os Estados Unidos também, o Japão, e todos os países de direita da América do Sul. Sai do micro e vai para o macro", sugere Jurandir Andrade.
Quarentena vertical
O consultor empresarial Cláudio Rosel, 53, também cita Israel. Defensor da "quarentena vertical" (que propõe o isolamento social apenas para as pessoas dos grupos considerados mais vulneráveis, como o de idosos e pacientes de doenças crônicas), ele afirma que aquele país nunca seguiu a orientação do isolamento horizontal:
"Nem a Holanda, nem a Suécia! A população saudável tem de sair às ruas, para contrair o vírus e criar imunidade para o resto. Se ficar todo mundo em casa, a gente nunca vai resolver isso."
Na Paulista, motoristas a todo instante gritavam: "Bolsonaro imbecil! Vai pra casa, seus idiotas!" e eram xingados de volta. Um ou outro dava buzinadas de apoio à manifestação.
Para a advogada Eliane Maffei, 53, "os médicos têm de usar a cloroquina (medicamento antimalárico testado para combater o covid-19) logo no começo, não dá para esperar. A Itália esperou, olha no que deu!" Não há consenso na comunidade médica sobre o uso da cloroquina no combate ao vírus.
"Meu pai teve malária várias vezes, tomou muita cloroquina. Ele não pega o vírus de jeito nenhum!"
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