Lojas esvaziam vitrines na rua Oscar Freire, tida como mais luxuosa de SP
Pelo menos cinco lojas da rua Oscar Freire e adjacências, na zona oeste de São Paulo, esvaziaram suas vitrines desde o início da quarentena decorrente da pandemia do covid-19; outras oito as cobriram com papel pardo. Frequentada por um consumidor de elite, a região já foi eleita duas vezes a oitava mais luxuosa do mundo*. A coluna esteve ali por volta das 20hs de quinta-feira (2).
Na quarta-feira (1), a filial de Ipanema da Osklen, no Rio de Janeiro, foi invadida e saqueada. Em entrevista, o estilista da marca, Oskar Metsavaht, minimizou o episódio. Disse que "não foi crime organizado, nem vandalismo". "Foram dois adultos, provavelmente dependentes químicos, que estavam com uma criança. Eles estavam desesperados. Talvez, procurando abrigo."
Fato isolado
Na Osklen da Oscar Freire, mantiveram-se apenas bancos, mesas e armários que antes serviam para a exposição das peças. As prateleiras estão vazias.
A assessoria de imprensa deles explica que o objetivo foi "reforçar o estoque de seu e-commerce". "A marca segue confiante nas ações do poder público para garantir a segurança no país. A invasão a uma de suas lojas no Rio de Janeiro foi um fato único e isolado, rapidamente resolvido pela polícia local."
Ruas desertas
O isolamento social recomendado pelas autoridades de saúde levou o governo de São Paulo a decretar o fechamento de todo o comércio e serviços não essenciais à população, a partir do dia 24 de março. A liberação para a reabertura seria amanhã (7), mas hoje o governador João Dória adiou para o dia 20. Nesse período, a região da Oscar Freire têm estado deserta.
As assessorias das marcas que responderam ao contato da coluna afirmam que a retirada das peças da vitrine não tem a ver com segurança. "Não é medo, é prevenção", diz a de Reinaldo Lourenço. "Além disso, se precisarmos ter acesso a algum produto, evitamos que alguém que trabalha na loja precise estar presente para a retirada. É uma medida para diminuir o contato entre pessoas."
Manequins sem roupa
Na Carmen Steffens, restaram apenas alguns manequins sem roupa a um canto da vitrine e ao fundo da loja. Procurada pelas redes sociais, a assessoria da marca não respondeu até o fechamento deste post. A outra marca do grupo, a CS Club, também recolheu as peças da loja.
Entre as que cobriram a vitrine com papel estão Jorge Bischoff, Carmim, Copodarte, Carlos Miele e Fiever (onde funcionários informam que "é para o interior não ficar tão visível"). A assessoria da loja não respondeu ao contato.
Proteção contra luz
A de Jorge Bischoff informa que a intenção foi "proteger os produtos da luz do sol e da iluminação constante". "No caso de sapatos e bolsas, a exposição excessiva à luz (sem que haja troca de peças) provoca desgaste e/ou desbotamento do material."
Procurada, a Associação Comercial dos Jardins não respondeu até o fechamento do post. Fundada em 2004, a entidade diz ter promovido a "reurbanização" da rua. Em seu site, afirma que tem como missão "cuidar da dinâmica do bairro e do seu comércio e serviços". "Buscamos fazer um lugar melhor para todos, agregar e trazer benefícios à região mais charmosa e descolada de São Paulo."
Oitava mais luxuosa
* Uma pesquisa realizada em 2008 por uma rede de empresas de marketing ligadas à francesa Presénce, criadora do programa Excellence Mystery Shopping, analisou sem se identificar 500 lojas em 16 cidades, entre as quais Los Angeles, Madri, Nova York e Dubai. Na ocasião, a região da Oscar Freire foi eleita pela segunda vez a oitava mais luxuosa do mundo, à frente da avenida Champs-Élysées (16ª), em Paris, e a praça do Cassino (12ª), em Mônaco.
O Brasil foi representado pela OF e pela avenida Faria Lima, onde fica o shopping Iguatemi. Para garantir a imparcialidade em um assunto tão subjetivo, a coordenadora da pesquisa no Brasil, Cristiane Sand, disse à época que "o método usado é o mesmo (para todas as analisadas)". "Não levamos em conta faturamento e, sim, o contexto de cada país e os hábitos de consumo da população", explicou.
Sand disse também que focou nos serviços, no aspecto físico (infra-estrutura, características da rua) e ainda em programas de treinamento. O Brasil se destacou pelo serviço de "welcome". Segundo ela, a diferença aqui foi a "venda do sonho".
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