Evangélicos se casam em plena quarentena, em cerimônia só para padrinhos
Até se casarem, no começo da noite de ontem, Lanna e Sérgio Silva namoraram por 14 longos meses — praticamente uma eternidade, se levado em conta o rigoroso padrão de castidade pré-nupcial seguido pelos evangélicos. Antes do enlace, os noivos não podem ter relações sexuais.
"Não dava para esperar mais", disse Sérgio, em uma sessão informal de fotos na avenida Paulista, centro de São Paulo, pouco depois da cerimônia. Além do pastor Eliel Mosquet, estavam na igreja da Assembleia de Deus Família Bem Viver, na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo, apenas os dez padrinhos dos noivos.
Muito decididos
O casamento foi marcado há cerca de dois meses, quando a pandemia de covid-19 já fazia milhares de vítimas pelo mundo, e por isso muita gente tentou desencorajar os noivos. "Mas nós estávamos muito decididos", conta Lanna, 21 anos, atualmente sem ocupação. Sérgio, 25, é empresário.
O governador de São Paulo, João Doria Jr, decretou no dia 24 de abril a suspensão da atividade comercial e dos serviços não essenciais em todo o estado. A medida tem como objetivo tentar manter a população em casa e, assim, conter a disseminação do novo coronavírus. A princípio, a quarentena iria até o dia 7 de abril. Anteontem, pela terceira vez, o governador prorrogou o prazo, agora até 31 de maio. Líder de casos e mortes de covid-19 no país, São Paulo tinha até ontem 44.411 diagnósticos e 3.608 óbitos. Entre sexta-feira e sábado, foram 192 novos registros.
Tudo é lícito
A festa de Sergio e Lana seria em um sítio em Perus, zona noroeste da cidade, mas eles acharam melhor desmarcar, assim como a viagem de lua de mel para Angra dos Reis, no Rio, ou Jericoacoara, no Ceará.
"Brindamos apenas com refrigerante", diz o vendedor Marcio Roldão, 26, um dos padrinhos. Isso não tem a ver com a quarentena nem tampouco com a pandemia de covid-19, e sim com um dos preceitos da religião cristã. Os fieis são instados a manter-se longe de bebida alcoólica. "Tudo é lícito, mas nem tudo me convém", cita o autônomo Davison Silva, 28.
Bem separados
Os padrinhos contam que durante a cerimônia eles se mantiveram a uma distância segura um do outro, a fim de se precaver contra a eventual contaminação pelo vírus. "Nós nos sentamos em mesas de quatro pessoas, bem separadas no salão", explicou a cuidadora Sandra Santos, 51. "E foi rapidinho." Uma hora e meia, segundo ela.
Sandra acredita que a possibilidade de transmissão do vírus entre eles é pequena. "A gente se conhece há seis anos, estamos sempre juntos na igreja, não tem ninguém que veio de outro estado."
Os padrinhos vestiram calça bege com camisa social branca, suspensórios e gravata borboleta; as madrinhas estavam de vestido longo "azul tiffany". "Não!", corrige a empresária Alexia Cavalcanti, 27. "Azul Serenity!"
Alexia conta que há quatro meses inaugurou uma loja virtual chamada Giulia Store que, "pela glória de Deus", está vendendo bem. "Já temos quatro mil seguidores", comemora.
Ao fim da sessão de fotos, noivos e padrinhos atravessam a pista da avenida, batendo em retirada. Um deles entoa o versículo 53 do capítulo 7 do evangelho segundo João: "Então cada um foi para sua casa".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.