O culpado pelo pibinho é Bolsonaro. E Guedes tem de parar de vender vento
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Está aí, para todo mundo ver, o pibinho da dupla Jair Bolsonaro-Paulo Guedes. Governantes brasileiros não aprendem. Estou contando as horas para que o ministro da Economia prometa um crescimento de 4% no fim do mandato. Era o número que circulava pra cá e pra lá no fim de 2018. Mas só, diziam, se conseguíssemos fazer a reforma da Previdência. Fizemos. O país cresceu 1,1% no ano passado, menos do que nos dois anos de governo Temer, que, sem a reforma, voltou a botar o PIB no azul depois de o país mergulhar na recessão no biênio 2015 (- 3,5%) e 2016 (-3,3%).
O que deu errado? A rigor, nada. Só deu a lógica. Para conter o desastre fiscal, foi preciso cortar drasticamente os investimentos públicos. Uma das alavancas do crescimento, assim, estava — e estará por um tempo — travada. Com o desemprego nos cornos da lua — e sua queda lentíssima, mas com postos de trabalho de baixa qualidade —, a alavanca do consumo no PIB também se mostrou modesta. Afinal, a renda do trabalho está estagnada em R$ 2,3 mil.
Sem investimento público, com o consumo acanhado, haveria de se contar com investimentos privados. Quase nada! Parte considerável do empresariado brasileiro faz suas juras de amor ao governo Bolsonaro, cobrando mais otimismo dos brasileiros, também ela (essa parte) hostil à imprensa, que só se interessaria por más notícias. Mas, ora vejam!, também esses otimistas agressivos não investem. E não investem porque não confiam no governo.
A indústria está na pindaíba. Paulo Skaf, presidente da Fiesp, resolveu ser o homem de Bolsonaro em São Paulo. Dá até para entender em que medida isso interessa ao político Skaf. É incompreensível, por qualquer critério que se queira, que bem isso pode representar para a indústria paulista. Uma crise se faz também com pessoas que protagonizam a crise e a alavancam.
Quando o palavrório eleitoral teve fim, e Guedes parou de vender pastel de vento, já no começo de 2019, falou-se de um crescimento de ao menos 2,5%, quem sabe raspando em 3%, caso se fizesse a reforma da Previdência. Ali por agosto, as previsões baixaram para 2,3%. A redução, explicaram, se deveria à demora em fazer a dita reforma. E, claro!, mais uma vez, atribuíram a responsabilidade, ou culpa, ao Congresso.
O presidente decidiu não compor uma base de apoio, tratar, como faz ainda agora, o Parlamento às caneladas — Bolsonaro e seus filhos criaram entraves à aprovação da reforma da Previdência —, e os responsáveis são sempre os outros.
Pois é. Não se entregou o crescimento de 2,3% ou 2,2%. Veio a metade disso. Governante que, a menos de seis meses do fim do ano, comete um erro de cálculo da ordem de 50%, lamento dizer, não sabe direito do que está falando e está mal informado.
Começou a contagem regressiva para o novo palavrório. O "Abre-te-sésamo" anterior do crescimento, a Previdência, falhou. Agora vêm os outros: as reformas administrativa e tributária. Fazer o quê? Resta lotar o auditório de empresários que defendem essas mudanças, que lastimam o pessimismo do brasileiro e da imprensa, que também vituperam contra o Congresso, mas que não enfiam a mão no bolso porque não acreditam no presidente e no governo.
O dinheiro de fora não chegou. Na verdade, ele saiu em massa no ano passado. Não era exatamente investimento em produção, mas apreço pela taxa de juros. Como deixou de ser convidativa, tchau! E o dólar foi para as alturas. Pontificou Guedes mais ou menos o seguinte: "É bom! Chega de domésticas na Disney. Temos de conhecer a casa de Roberto Carlos em Cachoeiro do Itapemirim".
Em Davos, fundos de trilhões disseram ao ministro da Economia: "Com a política ambiental de vocês, o dinheiro não vai". Bolsonaro correu para criar um Conselho da Amazônia, sem governadores, e promete uma Força Nacional de Segurança Ambiental. Hein? A que existe para proteger pessoas é comandada por um sujeito, o tal Aginaldo, que atua como agitador de quarteis. Depois disso, o presidente voltou a estimular o garimpo em terras indígenas. Nessa toada, o dinheiro continuará hostil ao Brasil.
Há, sim, fatores estruturais, herdados, que jogam o crescimento para baixo — e a necessidade de equacionar a desordem fiscal é o principal. Mas estamos no poço do baixo crescimento em razão de um governo fraco, destrambelhado, que confunde o destino do país com a pantomima ideológica do presidente, de seus filhos e de um bando impressionante de celerados.
No dia em que os dados do pibinho vêm à luz, o presidente e sua Secretaria de Comunicação resolvem criar um circo de humor duvidoso às portas do Palácio da Alvorada, que, claro, buscou colocar os jornalistas no centro do picadeiro, como atores involuntários da comédia presidencial.
Invistam no Brasil. É um governo de gente séria.