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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O violão de Haddad ou o ato pró-armas de Dudu? Em um, vida; no outro, morte

Há dois caminhos. Em um, Fernando Haddad toca "Blackbird" ao violão; em outro, Eduardo Bolsonaro faz a apologia das armas e diz que traficantes são melhores do que alguns professores. Vai ser o quê? - G1; Redes Sociais
Há dois caminhos. Em um, Fernando Haddad toca "Blackbird" ao violão; em outro, Eduardo Bolsonaro faz a apologia das armas e diz que traficantes são melhores do que alguns professores. Vai ser o quê? Imagem: G1; Redes Sociais

Colunista do UOL

10/07/2023 22h28

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Enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, toca ao violão "Blackbird" em entrevista a Natuza Nery, no podcast "O Assunto", do G1 — e a música dos Beatles trata do passarinho que, estando com a asa quebrada, tem de aprender, ainda assim, a voar, de modo que tal condição vire uma oportunidade para a superação —, a extrema-direita exercita aquela que é a sua vocação: o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) reuniu em Brasília, no domingo, um grupo de militantes pró-armas. No auge da delinquência intelectual e política, ele evocou supostos professores doutrinadores para dizer que esses seriam ainda piores do que os próprios traficantes de drogas.

Eduardo foi um dos que defenderam que a empresa americana Sig Sauer passasse a fabricar pistolas 9 mm no Brasil. E conseguiu. Não há dúvida, e eu também acho, de que há pessoas ainda mais nefastas do que traficantes — deixando claro que todos têm de estar em cana. E, por óbvio, os tais "piores" não são os professores.

Temos no violão de Haddad e no ato pró-armas mais do que um simbolismo. Isso que chamo "agenda da morte" é o que sobrou à extrema-direita. Pensem bem: estamos no 10º dia do sétimo mês do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há um arcabouço fiscal já aprovado — a Câmara ou chancela as mudanças do Senado ou volta a seu texto original, e ele já estava de bom tamanho — e caminhamos para a aprovação da reforma tributária. Ainda que o Senado opere mudanças, a disposição é pela aprovação. Não creio que se vá tentar alguma alteração no pilar do que aprovou a primeira Casa.

Vamos ser claros? Nem os mais otimistas contavam com essa velocidade. "Ah, Reinaldo, não fosse Arthur Lira..." E daí? Ele é o presidente da Câmara. Aliás, é o que foi eleito com a maior votação da história por seus pares. E é preciso ter o concurso de quem ocupa aquela cadeira para que as coisas avancem. E é certo que isso não implica endosso a eventuais malfeitos seus e de aliados. Não se misturem as coisas.

Acho que setores da imprensa estão errando feio. Ignoram que houve uma mudança de patamar. "O Brasil voltou" é um slogan publicitário. Afirmar que "a política voltou" é mera e necessária constatação. "Oh, isso supõe negociar com o Centrão!", dizem alguns inconformados. Se alguém me apresentar alguma alternativa que não seja extinguir o dito-cujo — mais aí preciso dizer como —, eu topo. Como???

Já falei no programa "O É da Coisa", na BandNews FM, e já escrevi aqui e fora daqui: há uma diferença entre essas relações de troca políticas que se fazem entre Executivo e Legislativo com um propósito e aquelas cujo objetivo é apenas manter o mandatário na cadeira. Jair Bolsonaro tinha assegurada a maioria, por intermédio do Orçamento Secreto, para articular sua pantomima golpista sem o risco do impeachment. Se o governo Lula, ou qualquer outro, usa as emendas e a distribuição de cargos para aprovar o marco fiscal, a reforma tributária e o PL do Carf, então as coisas vão bem — desde que não haja lambança, roubalheira.

Pergunto de novo: o que a extrema-direita está oferecendo? Vejam o caso do governador de são Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que se quer um direitista moderado. Teve de se confrontar com aqueles que lhe dão sustentação porque ele próprio teria ficado isolado se seguisse a diretriz de Bolsonaro. Sabe que, nesse isolamento, não há futuro político possível.

Indaga-se por aí: "O bolsonarismo continua a representar um perigo?" Eu acho que será sempre perigoso, com Bolsonaro ou sem ele. O sentimento da antipolítica, com o consequente incentivo ao ódio, à estupidez e à violência — a exemplo do ato promovido por Eduardo Bolsonaro em favor das armas —, seguirá a nos ameaçar por muito tempo. No desastre do lava-lavajatismo, o "Capitão" trouxe o lodo à flor das águas. E essas coisas não voltam ao fundo tão cedo.

No sétimo mês de governo Lula e quase nove depois da derrota de Bolsonaro no segundo turno, o pato manco, obviamente, é ox-presidente. Seu pares sabem que ele não dará direção à oposição porque a sua única orientação é votar contra o governo, ainda que isso implique votar contra o país.

Olhem aqui: Haddad toca violão, e o presidente está quase nas nuvens. Se há alguém que aprendeu a voar com a asa quebrada, convenham, seu nome é Luís Inácio Lula da Silva

É realmente notável que Eduardo promova um evento em favor das armas e compare professores a traficantes de drogas — dizendo que estes podem ser um tanto melhores do que aqueles — e que Haddad toque ao violão uma música que fala em superação. De um lado, como cantou Caetano, "há uma trilha clara para o meu Brasil, apesar da dor"; do outro, o que se tem é escuridão e apologia de instrumentos que matam. Ou o voo do novo ou a morte.