Tal como Zambelli, a francesa Marine Le Pen pode ficar inelegível
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A líder nas pesquisas para as eleições presidenciais francesas de 2027, Marine Le Pen, poderá, por decisão da Justiça francesa prevista para a próxima segunda feira (31), perder os direitos políticos.
Atenção: Justiça francesa de primeiro grau, pois, na terra do iluminismo e do enciclopedismo, não existe foro privilegiado.
Por aqui e onde existe foro privilegiado, tecnicamente chamado de foro por prerrogativa de função, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) está, como Le Pen, com a cabeça na guilhotina política.
Aplicado a ambas, Le Pen e Zambelli, o jargão popular dos "sans-culottes" da Revolução Francesa, " cabeças vão rolar".
Pelas provas do processo francês, tão abundantes quanto àquelas da denúncia do procurador Paulo Gonet contra o réu Jair Bolsonaro, Le Pen deverá ser condenada e, pela sanção, fala-se em cinco anos de inelegibilidade.
Le Pen proclama-se inocente como Bolsonaro e frisa que tudo se trata de armação do Partido Socialista.
Le Pen é acusada de ter embolsado ilegalmente euros de fundos europeus. De rapinagem são igualmente acusados uma dezena de seus colegas deputados, na semipresidencialista França.
Mais especificamente, Le Pen teria se apropriado de fundos europeus destinados a financiar atividades políticas e a pagar assessores eleitorais.
Como se diz no popular, Zambelli "não enfiou a mão na grana", mas empunhou arma de fogo.
Nesta semana, o STF (Supremo Tribunal Federal) formou maioria para condenar a deputada federal Carla Zambelli por crimes de porte de arma de fogo e constrangimento ilegal pelo emprego de revólver em perseguição ao jornalista Luan Araújo, na capital paulista. A condenação ainda não foi proclamada em razão de pedido de vista do ministro Nunes Marques.
Zambelli bota fé no voto absolutório de Nunes Marques. E finge acreditar possuir o voto de Nunes Marques argumentação capaz de levar os demais ministros à reformulação das suas posições.
Au Revoir
Em janeiro passado, Le Pen sofreu o primeiro abalo político. É que no 7 de janeiro faleceu, aos 87 anos, o seu pai e mentor político Jean-Marie Le Pen, fundador do partido de extrema direita, de matriz nazi-fascista, conhecido por Front National.
O falecido Jean-Marie, um nazista declarado, chegou a ser definitivamente condenado por antissemitismo. Então, saiu da vida política mas deixou como sucessora Marine Le Pen. Candidata à presidência francesa, restou derrotada em três eleições: 2012, 2017 e 2022.
O partido mudou de nome com Marine Le Pen e virou Rassemblement National.
Le Pen faz oposição pesada ao presidente Emmanuel Macron. Deu nova cara ao partido e passou o pano no antissemitismo: apoia Benjamin Netanyahu, critica o terrorismo no Hamas e, na última eleição legislativa, até os judeus parisienses votaram em Jordan Bardella, o braço direito de Le Pen e que seria indicado para presidir o Parlamento.
Hoje, Le Pen é líder europeia da ultradireita e joga de mão com o presidente americano Donald Trump, que não engole e torpedeia Macron e a União Europeia. A líder radical Le Pen é contra a Aliança Atlântica e antieuropeísta.
Le Pen, em face da acusação e caso condenada, perderá, pela gravidade do delito, os direitos políticos. Mas, comparadas as legislações, existe uma peculiaridade. Ela não perderá o mandato parlamentar em curso. Só se tornará inelegível para as eleições futuras e pelo tempo da sanção a ser imposta: fala-se em cinco anos.
Ponto interessante. Na França, onde não existe Justiça Eleitoral, as questões são tratadas como de natureza civil. E ilícitos civis graves levam à inelegibilidade. Le Pen, quer sob o prisma penal, quer pelo eleitoral (civil), estará inelegível.
A inelegibilidade, na França e no caso Le Pen, não está vinculada a uma decisão definitiva, com trânsito em julgado. Cabe, nos ilícitos graves, criminais ou civis (eleitorais), execução provisória, ou seja, imediata inelegibilidade.
Aqui é diferente a legislação. A prevalecer a condenação criminal do STF, ocorrerá, como efeito e uma vez transitada em julgado a condenação, a perda do mandato de Zambelli e a sua inelegibilidade. Já no final do julgamento que está em curso no STF, Zambelli será abraçada pela Lei da Ficha Limpa.