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Alexandre de Moraes não cometeu crime ao determinar prisão de americana

29.abr.2024 - O mandado só é válido em território brasileiro. Imagem: Projeto Comprova

Projeto Comprova

29/04/2024 16h40

É enganoso que Alexandre de Moraes, ministro do STF, tenha invadido a fronteira dos Estados Unidos ao determinar a prisão de uma moradora daquele país que tem dupla cidadania — brasileira e norte-americana. O mandado só é válido em território brasileiro. Uma solicitação de busca pela pessoa pode ser feita à Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, porém não é considerada um mandado de prisão internacional e os países membros aplicam as suas próprias leis ao decidir se devem ou não prender alguém.

Conteúdo investigado: Post em inglês afirma que Alexandre de Moraes cometeu crime ao "invadir as fronteiras americanas para emitir um mandado de prisão contra um cidadão americano", porque o alvo da decisão judicial tem dupla cidadania, brasileira e norte-americana, e vive nos Estados Unidos. O texto é acompanhado de print do mandado de prisão, com os dados de identificação do alvo ocultos.

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Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), cometeu crime ou invadiu as fronteiras dos Estados Unidos ao emitir um mandado de prisão contra uma cidadã com dupla cidadania — brasileira e norte-americana.

Ao realizar uma busca no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões por 8 de fevereiro, data que consta no mandado de prisão anexado à postagem no X, a reportagem identificou duas decisões expedidas pelo ministro naquele dia. A prisão citada na postagem foi determinada contra Flávia Cordeiro Magalhães, também identificada no documento como Flávia Magalhães Soares.

O Comprova não conseguiu localizar Flávia, mas, em um vídeo postado nas redes sociais em 2023, ela relata que tem dupla cidadania, brasileira e norte-americana, e que mora nos Estados Unidos há 22 anos.

Na decisão, Moraes alegou que a mulher insiste no descumprimento de decisões anteriormente proferidas ao "continuar divulgando notícias fraudulentas nas redes sociais". A conta de Flávia no X está atualmente retida.

Como explica a advogada criminalista Railane Roma, do Escritório Jorge Advogados, não há ilegalidade em uma autoridade do Brasil expedir mandado de prisão para cidadãos de qualquer nacionalidade. "O cidadão que entrar no território nacional brasileiro está sujeito ao cumprimento das leis brasileiras e, em caso de cometimento de algum crime que tenha a prisão como pena, ele poderá ser recolhido, seja por prisão em flagrante delito ou por prisão preventiva".

Segundo a especialista, desta forma, ainda que não seja confirmada a cidadania do alvo, não haveria impacto na legalidade da expedição do mandado de prisão pelo ministro ou por qualquer outra autoridade competente.

Também não há "invasão de fronteiras" porque o mandado de prisão não será cumprido em solo americano. Um exemplo de caso dessa natureza é do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, contra quem há mandado de prisão expedido e cuja extradição foi solicitada aos Estados Unidos, mas negada pelo governo americano. No caso de Flávia, ela só será presa se entrar em território brasileiro ou se for extraditada para o país.

Há uma instrução normativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que busca facilitar a localização de pessoas com mandados de prisão e que estejam em outros países por meio do sistema da Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, da qual o Brasil é membro.

Desta forma, cidadãos brasileiros procurados pela Justiça podem ser incluídos na "lista vermelha". Caso isso ocorra, é feito um pedido para que autoridades em todo o mundo localizem e prendam provisoriamente uma pessoa. Porém, essa ação não equivale a um "mandado de prisão internacional", pois os países membros aplicam as suas próprias leis ao decidir se devem ou não prender uma pessoa.

A maioria dos nomes na lista está restrita ao uso policial, ou seja, não são públicos, porém alguns são publicados a pedido do país que os procura quando o foragido ameaça a segurança pública, ou a ajuda popular é considerada necessária para localizar uma pessoa. O nome de Flávia não está entre os de sete mulheres brasileiras listadas publicamente.

A assessoria de imprensa do STF foi procurada para comentar o caso, mas não se manifestou.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 29 de abril, a publicação tinha 1,3 milhão de visualizações, 8 mil curtidas e 2 mil retweets.

Fontes que consultamos: Consultamos o Banco Nacional de Monitoramento de Prisões, notícias sobre casos semelhantes ao citado no post, um especialista em Direito Penal, a Interpol e entramos em contato com o STF.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A alegação aqui checada também foi desmentida por Aos Fatos. O Comprova já checou outras alegações semelhantes, como a que mostrou ser falso que o FBI pediu a extradição e prisão de Alexandre de Moraes e que Lula não deu indulto a Cesare Battisti, ao contrário do que afirma tuíte.

Este conteúdo foi investigado por O Estado de S. Paulo e UOL. A investigação foi verificada por O DIA, Correio, Piauí e Folha de S. Paulo. A checagem foi publicada no site do Projeto Comprova em 29 de abril de 2024.

O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.

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