Ameaça da IA nas eleições não se concretizou: estamos seguros para 2026?
Com a popularização de aplicativos de Inteligência Artificial generativa era esperado que, durante as eleições deste ano, conteúdos falsos ou completamente criados com esta tecnologia pudessem influenciar o debate político. O que se viu, no entanto, foi uma quantidade pequena de produções deste tipo circulando nas redes sociais.
Por quê isso aconteceu? E o que isso pode significar para as eleições de 2026? O UOL ouviu jornalistas que atuam no combate à desinformação para responder essas questões.
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Mulheres foram principal alvo
Observatório de IA nas eleições identificou mulheres como alvo preferencial de conteúdo fabricado. O site Desinformante, especializado na cobertura de desinformação, criou um Observatório do uso de Inteligência Artificial nas Eleições de 2024. O repórter Matheus Soares, afirma que, apesar do volume muito menor do que o esperado de conteúdo gerado por IA, as mulheres foram o principal alvo dos 'deepnudes', ou seja, nudes falsos ou de imagens de conteúdo sexual. Um desses casos foi o da candidata derrotada à Prefeitura de São Paulo e deputada federal, Tabata Amaral (PSB).
Indivíduos historicamente marginalizados, como mulheres, LGBTs, negros, que já são alvo de violência política, também são alvo deste tipo de conteúdo gerado por inteligência artificial.
Matheus Soares
2024 foi laboratório
Sem bala de prata nas eleições deste ano. Para Cristina Tardáguila, fundadora da agência de verificação de fatos Lupa, as peças de IA não foram suficientes para influenciar na vitória ou derrota de nenhum candidato nas eleições de 2024 que ocorreram pelo mundo.
Não teve, em nenhum lugar do mundo, uma bala de prata. Não tem uma peça de IA que tenha sido definitiva para a vitória de um candidato. Não foi devastador.
Cristina Tardáguila
Fase de testes já passou. Para a jornalista, o ponto positivo foi que mesmo os poucos conteúdos gerados que repercutiram não tiveram impacto significativo. Já o ponto negativo, é que 2024 foi uma espécie de "laboratório".
Os desinformadores, os produtores de IA já fizeram os testes, já sabem o que cola e o que não cola. E em 2026 tem uma grande diferença, que é uma eleição nacional [no Brasil]. O que se espera é que o que era difuso em 2024 e estava em modelo de teste, um pouco no campo da brincadeira, passe a ser mais intenso, mais concentrado contra um candidato, uma campanha, um partido, com mais informações sobre o que faz as pessoas comentarem.
Cristina Tardáguila
O que esperar para 2026
Justiça precisa acompanhar tecnologias das mídias sociais. Para a diretora de comunicação estratégica do Redes Cordiais, Ana d'Angelo, é importante que a Justiça Eleitoral consiga acompanhar as inovações e a rapidez do mercado de plataformas digitais. Ela cita como exemplo, o concurso promovido por Pablo Marçal (PRTB), candidato derrotado à Prefeitura de São Paulo, em que ele remunerava usuários para publicarem e engajarem recortes de vídeos seus.
Não era exatamente feito com IA e foi uma novidade que o Tribunal Superior Eleitoral não sabia, em princípio, se aquilo representava um dano ao processo.
Ana d'Angelo
Regulação das redes
Congresso precisa avançar em legislação. Essas medidas também não podem ficar restritas à Justiça Eleitoral, avalia d'Angelo. Ela defende a regulação das redes como um dos caminhos para melhorar o ambiente digital para as próximas eleições.
Se a gente tiver uma lei boa, robusta de regulação das plataformas, a gente pode se orientar muito melhor no período eleitoral e outros períodos sensíveis para a democracia.
Ana d'Angelo
Brecha em resolução do TSE sobre IA. Neste ponto, Cristina Tardáguila afirma que uma das brechas das resoluções do Tribunal Superior Eleitoral sobre o uso de IA em 2024 é que as campanhas deveriam sinalizar quando o conteúdo foi criado, mas não necessariamente o material fabricado partia das campanhas.