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Roraima tem 332 focos de incêndio; todos os municípios foram afetados pela ação do fogo

Guilherme Balza <BR> Do UOL Notícias

Em São Paulo

19/02/2010 08h00

Estado de Roraima sofre com a seca que já dura 70 dias

O Norte do Brasil é climatologicamente a região mais chuvosa do país, com índices que ultrapassam 2 mil milímetros de chuva em alguns pontos. No entanto, desde o início do El Niño no segundo semestre de 2009, as chuvas passaram a ser mal distribuídas e o Estado de Roraima, no extremo norte da região, vem sofrendo com a seca.

Em razão do clima seco e do hábito de produtores rurais de provocar queimadas para limpar a terra, Roraima enfrenta a pior onda de incêndios desde 2003. O último balanço feito pelo Corpo de Bombeiros, que atua no combate ao fogo em parceria com órgãos estaduais e federais, apontou 332 focos de incêndio no Estado.

Todos os 15 municípios de Roraima foram afetados pela ação do fogo: em cinco deles foi decretado estado de calamidade pública - Iracema, Mucajaí, Pacaraima, Alto Alegre e Amajarí; nos 10 restantes, os prefeitos decretaram situação de emergência por conta dos incêndios, que se acentuaram a partir do início de fevereiro.

Diferente do que ocorre nas regiões Sul e Sudeste, que entre dezembro e março costumam ser atingidas por chuvas, em Roraima, cuja maior parte do território está no hemisfério norte, este período é caracterizado por longas estiagens. A época de chuvas só começa no final de abril e termina em meados de julho.

“A estiagem começa em meados de janeiro e atinge o auge em fevereiro. Levamos aos agricultores alternativas ao uso do fogo. Fizemos uma campanha para que os produtores só utilizassem a técnica das queimadas para limpar o solo na época de chuvas (a partir de abril), mas muitos colocaram fogo mesmo na época de seca”, afirma Elmo Monteiro, coordenador do Centro Nacional de Prevenção e Combate os Incêndios Florestais (Prevfogo), órgão vinculado ao Ibama.

Incêndios em Roraima

  • Divulgação
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 A área mais afetada corresponde ao conjunto de municípios batizado de “Arco do Fogo”, formado por Cantá, Iracema, Mucajaí, Alto Alegre, Amajari e Pacaraima, região onde se concentra a maior parte dos assentamentos rurais. Todos fazem divisa territorial com a capital Boa Vista e estão numa área caracterizada pela floresta de transição entre a mata de cerrado (conhecido em Roraima como lavrado), que ocupa o leste e parte do nordeste do Estado, e a floresta Amazônica, típica das porções noroeste, oeste e sul de Roraima.

Iracema atualmente é o município mais afetado, com 129 focos de incêndio, seguido por Mucajaí (51 focos), Amajari (25) e Alto Alegre (16). Nestes locais, a maior parte dos focos está na beira da reserva Ianomâmi, a maior do Estado. Há também uma concentração de incêndios entre os municípios de Rorainópolis, São Luiz e São João da Baliza, e pequenos focos de fogo nas reservas indígenas Raposa/Serra do Sol e São Marcos.

Embora não haja um número oficial, a estimativa é que entre 50 mil e 100 mil hectares de terra já tenham sido atingidos pelo fogo. “Aproximadamente 90% da área queimada está em regiões que já sofreram a ação do homem, como em áreas de desmatamento. Os 10% restantes estão em áreas de floresta fechada”, estima o coronel do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro Wanius de Amorim, que trabalha no gabinete do ministro Carlos Minc e coordena as ações de combate ao fogo em Roraima.

Combate aos incêndios
Nos últimos anos, Roraima teve dois grandes incêndios. O pior deles, ocorrido em 1998, devastou uma área equivalente a um quarto do Estado. Já em 2003, o fogo atingiu 10% de Roraima, inclusive causando estragos nas reservas indígenas Ianomâmi e São Marcos e em unidades de conservação.

Para evitar que as tragédias recentes se repitam em 2010, foi montado, no início deste mês, em Boa Vista, um centro integrado de combate aos incêndios, formado pelo Corpo de Bombeiros de Roraima, Defesa Civil Estadual, Fundação Estadual do Meio Ambiente, Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e Instituto Chico Mendes, além de órgãos municipais.

Incêndios em Roraima

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Integram o grupo 300 bombeiros de Roraima, 77 brigadistas do Instituto Chico Mendes (ligado ao MMA) e 25 brigadistas do Prevfogo. Hoje (19), desembarcam em Boa Vista 35 bombeiros da Força Nacional de Segurança e 40 bombeiros do Distrito Federal, além de equipamentos enviados do Rio de Janeiro.

Ainda no combate aos incêndios estão sendo utilizados um avião do Corpo de Bombeiros do DF, dois helicópteros com reservatórios de água do Ibama e dois aviões-tanque do Instituto Chico Mendes. As equipem atuam também em bases avançadas, situadas nos pontos críticos, e no monitoramento aéreo diário para fiscalizar incendiários e localizar novos focos.

Não há registros de desabrigados ou desalojados por conta dos incêndios, tampouco de imóveis e benfeitorias destruídos. Segundo Paulo Sérgio Santos, comandante do Corpo de Bombeiros e coordenador estadual da operação Roraima Verde, o prejuízo maior foi causado na pecuária e na agricultura, sobretudo em razão da falta de água.

“Até o fim de janeiro nosso trabalho se focou em construir bebedouros e poços artesianos e utilizar carros-pipa para levar água para o consumo humano e animal. A partir de fevereiro, com o aumento das queimadas, priorizamos o combate aos incêndios”, diz.