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Termina após mais de 12 horas cirurgia de separação de gêmeas siamesas em Goiânia

Luiz Felipe Fernandes<br>Especial para o UOL Notícias<br>Em Goiânia

30/03/2010 22h38

Terminou às 21h15 desta terça-feira (30) a cirurgia de separação das irmãs siamesas que nasceram unidas pelo abdômen (gêmeas isquiópagas). A operação, feita no Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia (GO), durou mais de 12 horas. Luana e Luiza, de um ano e cinco meses, estão em observação na UTI (unidade de terapia intensiva).

“As primeiras 48 horas são um período crítico, principalmente numa cirurgia desse porte”, comentou o diretor do HMI, Cézar Gonçalves Gomes. Os pais das meninas – a professora de dança Larissa Nunes Andrade, 22, e o auxiliar administrativo Thiago Silva de Andrade, 24 – aguardaram todo o procedimento numa enfermaria do hospital. “Passou um pouco da ansiedade”, disse a professora.

As irmãs são de Recife (PE) e chegaram com os pais a Goiânia na semana passada. Elas compartilhavam o fígado, o intestino grosso e parte do delgado. Elas possuíam ainda três rins (uma delas ficou com apenas um após a operação) e três pernas. Um dos membros inferiores foi amputado e o tecido, usado para reconstituir a bacia.

Complexo

Segundo o cirurgião-pediátrico Zacharias Calil, chefe da equipe que realizou a cirurgia, este foi o caso mais complicado atendido no HMI, referência nesse tipo de procedimento no País. “A separação foi até simples. O mais complexo é reconstituir as estruturas anatômicas”. O médico avalia que o caso das meninas só perde em dificuldade para siameses unidos pela cabeça.

Uma equipe de 40 profissionais, entre médicos e enfermeiros, participou da cirurgia. O procedimento teve início às 9h, com a anestesia geral. Em seguida, cirurgiões cardiovasculares fizeram incisões nas veias compartilhadas entre as crianças. Na etapa seguinte, cirurgiões plásticos e pediátricos se revezaram na separação dos órgãos vitais e reconstituição dos tecidos.

Referência

Larissa conta que descobriu que as filhas eram siamesas no quinto mês de gestação. Em Recife, onde eles moram, não foi encontrado hospital apto a realizar o procedimento. Uma prima do médico Zacharias Calil, que mora na capital pernambucana, ficou sabendo do caso pela imprensa e orientou o casal a procurar o Hospital Materno Infantil.

Esta é a sétima cirurgia de separação de gêmeos siameses realizada no HMI. Ao todo, 18 casos como esse já foram atendidos na unidade. Dos procedimentos cirúrgicos realizados até hoje, seis crianças morreram e oito permanecem vivas.

Em 2000 foram separadas as irmãs Larissa e Lorraine, com 10 meses de vida. Na época, foi a quinta cirurgia de separação de siameses realizada no Brasil. Lorraine morreu oito anos depois da operação. A irmã leva uma vida normal.

Há exatamente um ano, também no HMI, nasceram Arthur e Heitor, gêmeos ligados pelo tórax, abdômen e bacia. Eles são filhos da professora Eliana Ledo Rocha, 32. A família vive em Botuporã (BA). As crianças são levadas frequentemente a Goiânia para avaliação do estado de saúde. Em breve, eles também devem passar pela cirurgia de separação.