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Para meteorologista, fenômeno "extremo" piorou tragédia em Alagoas

Em Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, toda a parte baixa da cidade, onde está o centro comercial e principais prédios públicos, foi inundada e destruída pela enchente - Beto Macário/UOL
Em Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, toda a parte baixa da cidade, onde está o centro comercial e principais prédios públicos, foi inundada e destruída pela enchente Imagem: Beto Macário/UOL

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

23/06/2010 07h00

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As fortes chuvas que atingiram Alagoas e Pernambuco nos últimos dias e provocaram a elevação do nível dos principais rios que cortam os dois Estados foram resultado de um fenômeno natural que, desta vez, ocorreu fora dos padrões. A opinião é do meteorologista Humberto Barbosa, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), responsável pela única estação de monitoramento via satélite daquele Estado.

Desde a sexta (19), mais de 40 pessoas morreram, dezenas de milhares estão desabrigadas e várias cidades ribeirinhas ficaram destruídas.

Segundo o meteorologista, uma das causas prováveis é a de que o choque entre a temperatura fria do oceano com o calor do continente, que provoca a formação de nuvens pesadas e resulta em chuvas intensas do recôncavo baiano até o litoral potiguar, possa ter atingido uma linha mais extensa.

Veja como ajudar as vítimas das chuvas em PE e AL

As chuvas dos últimos dias deixaram dezenas de mortos e milhares de desabrigados e desalojados nos Estados de Alagoas e Pernambuco. Há vários pontos para a entrega de donativos às vítimas.

“Normalmente, esses fenômenos atuam em uma faixa de aproximadamente 100 km. Dessa vez, foi um evento mais extremo: chegou até 300 km, 400 km da costa. Por isso que a tragédia foi maior”, afirma Barbosa. “Temos que nos preparar porque essa dinâmica deverá se repetir nos próximos 50, 100 anos”, prevê.

Ainda segundo o metereologista, a população do Nordeste deve se preparar, já que a previsão para as próximas semanas é de mais chuva. “Estamos tendo um enfraquecimento do fenômeno El Niño, e o La Niña, que provoca chuvas em toda a costa leste do Nordeste, está ganhando força. Devemos ter um período chuvoso até o mês de agosto”, afirma . Além da estação, há no Estado um radar meteorológico para prever fenômenos climáticos.

Brasil não está preparado
Na avaliação de Barbosa, há, no Brasil, uma “vulnerabilidade muito alta” da população diante de eventos extremos. O meteorologista aponta a necessidade de melhorar a rede de equipamentos de monitoramento climático. “Não existe no país um sistema de alerta, com radares e satélites. O Brasil não está preparado. É preciso uma reestruturação da meteorologia em nível nacional”, diz.

O pesquisador afirma ainda a necessidade de se aprimorar métodos para alertar com antecedência a população evacuar as famílias que vivem em áreas de risco. “A população que vive em cidades próximas a calhas de rios precisa ser treinada para evacuar rapidamente, como já ocorre no hemisfério norte. Isso evitaria muitas mortes. É um preço muito baixo que os governos teriam que gastar, ainda mais se comparado com as perdas humanas que seriam evitadas.”

Os Estados de Pernambuco e Alagoas sofrem as consequências das chuvas desde a semana passada. Em Alagoas, até o momento, são 29 mortos, 607 desaparecidos e 73.828 desabrigados. O número de casas destruídas passa de 19 mil. No total, as enchentes dos rios atingiram 26 municípios e deixaram 15 deles estado de calamidade pública.

Pernambuco tem 54 cidades afetadas pelas chuvas. Dessas, 30 se encontram em situação de emergência e nove em estado de calamidade pública. Houve 12 mortes. No levantamento das coordenadorias de defesa municipais, existem 17.719 pessoas desabrigadas e outras 24.331 desalojadas. Não há registro de desaparecidos.

Cidades que decretaram calamidade pública