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Em Alagoas, famílias enterram vítimas da chuva sem autorização

Casas ficam danificadas à beira do rio Canhoto, em São José da Laje (AL); veja mais fotos - Beto Macário/Especial para o UOL
Casas ficam danificadas à beira do rio Canhoto, em São José da Laje (AL); veja mais fotos Imagem: Beto Macário/Especial para o UOL

Carlos Madeiro

Especial para o UOL Notícias<br>Em Maceió

29/06/2010 07h00Atualizada em 29/06/2010 13h02

Trabalho infantil marca tentativa de reerguer Branquinha (AL)


Embora o boletim da Defesa Civil Estadual aponte, desde a sexta-feira passada, que Alagoas registrou 34 mortes por conta das enchentes, o número de vítimas, assim como de desaparecidos (76), ainda é incerto no Estado.

Isso porque boa parte dos corpos encontrados teria sido enterrada pelos familiares sem passar pelos trâmites legais e, segundo o IML (Instituto Médico Legal) de Maceió, terão que ser exumados à medida que forem sendo encontrados.

Das 34 mortes registradas nos municípios, apenas 20 deram entrada no IML de Maceió para perícia médica. Cinco desses corpos não foram identificados.

“Nós já sabemos que algumas famílias enterraram seus corpos sem passar pelo IML. Esse número de mortos que passamos à imprensa é aquele informado pelas prefeituras, mas que só poderão ser confirmadas com os Avadans [formulários de avaliação de danos], que devem ser entregues até a sexta-feira”, afirmou o secretário-executivo da Defesa Civil Estadual, tenente-coronel Denildson Queiroz.

Para ele, uma das explicações para o não-cumprimento dos trâmites legais foi o estado de calamidade que se encontram essas cidades. “Talvez por conta da emoção, da própria situação critica que se encontram muitas cidades, isso tenha ocorrido. Mas ainda está sendo apurado”, disse.

Contudo, segundo o diretor do Instituto Médico Legal de Maceió, Gerson Odilon, qualquer morte por causa externa deve ser constatada por um médico-legista. “O médico sem ser legista só pode conceder atestado quando a morte é por causa natural. Ou seja, o atestado de óbito não tem validade, e o corpo não poderia ter sido enterrado. Caso as famílias tenham realmente enterrado corpos sem o laudo do IML, eles terão que ser exumados”, afirmou.

Odilon diz ainda que a maioria dos corpos que deu entrada desde do sábado, dia 19, no IML foram identificados graças ao trabalho de odonto-legistas, já que os corpos estavam em estado avançado de decomposição. “Se até quarta-feira não aparecer familiares que identifiquem os cinco corpos que estão no IML, teremos que enterrá-los no cemitério de indigentes”, disse.

Para o secretário-executivo da Defesa Civil, o número de mortos por conta das enchentes ainda deve crescer. “Esse número deve variar, provavelmente para mais, já que a gente tem informações de que houve esses enterros sem o trâmite legal”, afirmou Queiroz.

A médica Sandra Canuto, superintendente de Vigilância à Saúde do Estado, disse ao UOL Notícias que não foi notificada sobre casos, mas acredita que, se confirmados, os enterros em áreas ilegais põem em risco a população de cidades afetadas.

“É preocupante e, se comprovado, passa a ser um perigo a mais de contaminação, além de risco que causa ao lençol freático. É uma prática completamente irregular enterrar corpos fora de cemitérios regulares, e já fizemos a visita às 15 cidades em calamidade e nenhum deles foi destruído pelas enchentes”, afirmou.

Cidades que decretaram calamidade pública