Acusados de formar grupo de extermínio admitem abordagem a deficiente, mas negam assassinato
Os quatro policiais militares acusados de integrar um grupo de extermínio –conhecido como "Os Highlanders", que atua em Itapecerica da Serra (na Grande São Paulo)– negaram participação na morte do deficiente mental Antonio Carlos Silva Alves.
Eles rejeitaram ainda a acusação de terem adulterado o relatório da viatura no dia do crime. Os policiais afirmaram que naquele dia abordaram três pessoas, sendo uma delas um deficiente mental. No entanto, negam que esse deficiente seja Alves, já que, segundo eles, a diligência foi realizada no Jardim Calu, e não no bairro Jardim Capela, onde morava a vítima. Essa abordagem ao deficiente não consta do relatório diário de patrulhamento da polícia de Itapecerica.
Os policiais afirmam ainda que não escreveram sobre a abordagem no relatório porque nenhum fato "grave" havia sido registrado. Apesar da semelhança dos argumentos de defesa, os quatro PMs não precisaram quanto tempo durou a abordagem ao deficiente: cada um disse um tempo diferente.
Alves foi sequestrado em outubro de 2008, no Jardim Capela, na região do Jardim Ângela, bairro conhecido pela violência e pelo tráfico de drogas, na zona sul de SP. O corpo da vítima, sem a cabeça e sem as mãos, foi encontrado um dia depois, numa área de Itapecerica conhecida como local de desova de cadáveres.
São julgados hoje, na 1ª Vara de Itapecerica da Serra, o 3º sargento Moisés Alves Santos, o cabo Joaquim Aleixo Neto e os soldados Anderson dos Santos Sales e Rodolfo da Silva Vieira. Eles são acusados de executar e decapitar a vítima.
Os quatros acusados respondem pelo crime de homicídio duplamente qualificado –motivo torpe e uso de recurso que impossibilita a defesa da vítima.
Julgamento
O sargento Richard Paulo Ferreira deu o depoimento mais incisivo da primeira fase do julgamento. A fala dele foi rejeitada pela defesa dos quatro PMs. Ferreira disse que seu colega Moisés Santos confirmou que havia abordado Alves.
Ferreira contou ainda em seu depoimento que, quando questionou quem de seus subordinados havia abordado uma pessoa na região de Itapecerica da Serra, Moises levantou o braço. Ainda de acordo com a testemunha, Santos ficou nervoso e passou a falar por telefone com outro PM. Todos os réus negam participação no crime.
A irmã da vítima disse ter reconhecido os policiais que levaram Antonio Carlos em uma viatura, no dia que foi morto.
Segundo a Delegacia Seccional de Taboão da Serra (Grande São Paulo), responsável pela investigação, e também a Promotoria, a vítima foi levada no carro nº 37104 da PM onde estavam os quatro policiais que agora serão julgados pela morte da vítima.
“A polícia é paga para dar proteção, e não para destroçar famílias como a minha”, afirmou o pintor Antonio Alves Altaíde, de 45 anos, pai de Antonio Carlos, antes de entrar no fórum de Itapecerica da Serra.
O juri é formado por duas mulheres e cinco homens.
Os quatro policiais eram integrantes da Força Tática (espécie de tropa de elite) do 37º Batalhão, que atende parte dos bairros do extremo sul de São Paulo. Eles estão presos desde janeiro do ano passado no presídio militar Romão Gomes, no Jardim Tremembé (zona norte de São Paulo).
A Corregedoria da Polícia e o Ministério Público já prenderam nove policiais militares acusados de integrar o grupo de extermínio. De acordo com a Polícia Civil e o Ministério Público, o soldado Rodolfo Vieira seria o chefe do grupo, suspeito de cometer 12 mortes em 2008. Ainda de acordo com as investigações, cinco das vítimas foram decapitadas e, por isso, o grupo é chamado de "Os Highlanders".
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