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Moradores da favela Real Parque (SP) contam que já tinham perdido casas em outros incêndios

Bombeiros atuam na favela Real Parque (SP) atingida por um incêndio - Rahel Petrasso/Futura Press
Bombeiros atuam na favela Real Parque (SP) atingida por um incêndio Imagem: Rahel Petrasso/Futura Press

Guilherme Balza<br> Do UOL Notícias

Em São Paulo

24/09/2010 12h56Atualizada em 24/09/2010 14h06

O incêndio que atingiu na manhã desta sexta-feira (24) parte da favela Real Parque, na zona sul da cidade de São Paulo, não é novidade para os moradores, que mais uma vez perderam tudo o que tinha. Eles contam que, nos últimos anos, outros incêndios atingiram a comunidade.

A moradora Amanda Alves Nascimento Gaia, 59, diz que oito anos atrás morava em um prédio na favela, mas decidiu vender seu apartamento depois que viu a casa do vizinho pegar fogo. Segundo ela, foi um choque e o incidente deixou-a traumatizada. Com o dinheiro da venda do imóvel, que na época foi de R$ 5.000, ela comprou um barraco em outra parte da favela. Mas, desta vez, ela foi a vítima.

INCÊNDIO EM SP

“Eu não quero mais morar na favela, quero comprar um lugar para colocar meus oito netos. Eu queria morar no interior”, afirmou depois de ver a casa destruída.

Gaia estava trabalhando em um restaurante, quando foi informada do incêndio. Ela correu para ver o que estava acontecendo e viu todos os seus bens serem consumidos pelo fogo. “A gente trabalha, trabalha e quando olha para trás não tem nada”, lamentou.

Célia Lucia Santana Severino, 30, que atualmente está desempregada, também já tinha perdido em um incêndio o barraco onde vivia. Ela mora há 24 anos na região. Há oito anos, ela vive no alojamento provisório que, segundo os moradores, foi construído pela prefeitura para abrigar as vítimas de um incêndio ocorrido em 2002.

“O incêndio começou em um barraco atrás do alojamento. Queimou minha casa e eu perdi tudo. Só estou com a roupa do corpo”, disse.

A Subprefeitura do Butantã informou que a favela Real Parque é uma comunidade formada por cerca de 10 mil pessoas, e o fogo afetou a área de um alojamento existente no local, que abrigava cerca de 300 famílias (1.500 pessoas).

Severino acredita que o fogo pode ter sido provocado por gambiarras ou “gatos”, que os moradores fizeram por conta de um apagão de energia em parte da favela ocorrido na noite de ontem.

O Corpo de Bombeiros acredita que o fogo teve início na rua Conde de Itaguaí, na altura do número 50, por volta das 10h. Inicialmente teria atingido dois barracos, mas depois se alastrou. Houve apenas um ferido leve, que foi levado para o Hospital de Santo Amaro, além de três pessoas que passaram mal devido ao nervosismo. Além disso, segundo os moradores, há uma criança desaparecida.

Dezoito equipes dos bombeiros estavam no local por volta das 12h15, além de quatro helicópteros da Polícia Militar que sobrevoavam a região. A favela fica próxima à ponte Octavio Frias de Oliveira (Estaiada). Uma grande coluna de fumaça escura pode ser vista da marginal Pinheiros mais cedo.

De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), por volta de 11h40 foi interditada toda a pista local da marginal Pinheiros, sentido Interlagos, em frente à favela.

Equipes da Defesa Civil também estão na região da favela dando assistência aos moradores, segundo a assessoria de imprensa da subprefeitura.

Atendimento às famílias

Ronaldo Camargo, secretário das Subprefeituras, confirmou que houve um outro incêndio no local em 2003. Camargo afirmou que as famílias afetadas pelo fogo de hoje serão cadastradas e será feito um levantamento de suas necessidas. Depois, os moradores serão incluídos em problemas de habitação, disse Camargo, sem precisar a data em que isso deve ocorrer.