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Mesmo em terreno instável, pedreiro ergueu casas para 6 filhos em local de desmoronamento em SP

Casas desabaram na tarde desta quarta-feira na zona leste de SP; veja mais imagens - Luiz Guarnieri/Furtura Press
Casas desabaram na tarde desta quarta-feira na zona leste de SP; veja mais imagens Imagem: Luiz Guarnieri/Furtura Press

Arthur Guimarães<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

08/12/2010 22h18Atualizada em 08/12/2010 22h39

O pedreiro José Cícero dos Santos, 62 anos, personifica algumas das características que, segundo as autoridades municipais, agravaram o quadro de instabilidade no terreno que cedeu e destruiu dez imóveis nesta quarta-feira (8) na Vila Matilde, zona leste de São Paulo. Ninguém ficou ferido.

Em uma rápida conversa, é possível descobrir que ele ocupou um terreno irregular, abriu mão de técnicos formados para erguer a residência e construiu vários "puxadinhos" para abrigar a família.

Um dos primeiros a chegar no pedaço do quarteirão que veio abaixo, ele disse ter comprado o seu terreno por R$ 11 mil, isso há 16 anos. "Comprei de segunda mão. Alguém invadiu e eu fui lá e comprei", lembra ele, natural de Maceió (AL).

Então mestre de obras em construtoras, como diz, ele adquiriu materiais de construção e começou a levantar o primeiro sobrado. "Era tudo firme. Não tinha instabilidade."

Aos poucos, ele percebeu que poderia facilitar a vida da família, erguendo ao redor de sua casa outros imóveis para seus seis filhos. "Fiz uma casinha para cada um", conta ele, que tem dez netos –agora todos desabrigados e levados para casas de conhecidos.

Ele assumiu que, com o aumento do peso da construção, o terreno dava sinais de fraqueza. "Tinham uns pedaços meio moles mesmo. Mas eu cavei bem fundo, coloquei estaca. Por isso, a maior parte não caiu", diz ele, que não perdeu nenhum bem, mas viu o "puxadinho" de uma das filhas desmoronar ribanceira abaixo por inteiro.

Remoção

O secretário municipal da Coordenação de Subprefeituras, Ronaldo Camargo, afirmou nesta quarta-feira (8) que um número ainda indefinido de casas no local onde dez imóveis desabaram nesta tarde deverão ser definitivamente retiradas da área, pois o terreno é municipal e foi invadido há 20 anos. 

“De oito anos pra cá, vários imóveis sofreram notificação de invasão por conta de fiscalizações que foram feitas na região”, afirmou Camargo. Segundo ele, o local estava inclusive contemplado em um estudo ainda em curso realizado pelo instituto IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), que está mapeando as áreas irregulares da cidade. 

“Por esse estudo, já ficou concluído que o local em que houve os desmoronamentos é de alto potencial de risco geológico”, disse o secretário. Pelo mapeamento de áreas de risco, a área total com problemas teria 8.000 m2. Os moradores alegam nunca terem sido avisados. 

O secretário disse também que, desde segunda-feira (6), as autoridades municipais já estavam debruçadas sobre a questão e atualmente analisam o futuro das famílias prejudicadas. “Muitas casas vão ser retiradas. Não sabemos quantas, mas com certeza isso irá acontecer”, concluiu. 

Rosineide Bastos Pinheiro, que mora há 17 anos na avenida Mendonça Drummond, rua abaixo do barranco que desabou, afirmou que foi a primeira a construir sua casa no local. “Era da prefeitura, tentamos várias vezes conseguir autorização para morar aqui. Mas nunca tivemos resposta”, disse. “Fui eu mesma quem comprou o material, e com a ajuda de amigos, construí meu imóvel.” Até as 20h, ela não saiba onde iria dormir, já que o imóvel foi interditado em razão do desmoronamento. 

Durante a tarde, o coronel da Defesa Civil Municipal, Jair Paca, afirmou que as casas que desmoronaram na rua Fernando Portoalegre foram construídas em área irregular. Segundo ele, a região era ocupada no passado por um aterro sanitário e pode sofrer novos desabamentos. 

“Ainda há risco. As estruturas e o solo estão se movimentando”, disse Paca no local do desmoronamento, onde acompanhou as vistorias dos agentes da Defesa Civil. Ao todo, dez casas desabaram e outras 45 foram interditadas, informou o coronel –antes, a Polícia Militar e a Subprefeitura da Penha disseram que 22 casas desabaram.

O acidente aconteceu poucas horas depois de os próprios moradores alertarem a Defesa Civil sobre a ocorrência de rachaduras em várias casas.

Após a ligação dos moradores, equipes foram até o local, retiraram os residentes e interditaram as moradias pouco tempo antes do desmoronamento. O caso foi encaminhado ao 21º DP (Vila Matilde).