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Cenário de desastres, Santa Catarina deverá enfrentar verão sem radares antidesastre

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

10/12/2010 07h00

Diferentemente do que ocorreu em anos anteriores, Santa Catarina, um dos Estados brasileiros mais afetados por desastres causados por fatores climáticos, não foi atingida por chuvas intensas na primavera de 2010. Contudo, se chover forte nesse verão, os desastres ocorridos em outras épocas poderão se repetir, já que o Estado atualmente não possui nenhum radar meteorológico operante.

Os radares são capazes de detectar com precisão a ocorrência de chuvas intensas, tempestades, tornados e ciclones em um raio de até 250 km, entre uma e três horas antes de sua ocorrência. Esse tempo permite às defesas civis alertarem os moradores que vivem em áreas de risco e prestarem a devida assistência.

A necessidade de instalar radares na região começou a ser discutida após as chuvas de novembro de 2008, que deixaram quase 150 mortos em Santa Catarina. Nos últimos dois anos, o Estado voltou a ser atingido por chuvas e foi cenário de outros fenômenos, como ciclones e tornados, que também deixaram vítimas e milhares de desabrigados.

Atualmente, existe apenas um radar a disposição do poder público. O equipamento pertence à Aeronáutica e está instalado no Morro da Igreja, que fica em Urubici, na região serrana. Em janeiro de 2009, o governo obteve a permissão da Força Aérea Brasileira (FAB) para usar as informações dos radares para fins civis e compartilhá-las com os serviços meteorológicos oficiais e defesas civis.

No entanto, até hoje o radar não foi utilizado. Segundo a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, a logística para o compartilhamento das informações já foi montada, mas o equipamento não está funcionando porque passa por serviços de manutenção e adaptação.

A secretaria não informou uma data exata de quando o radar estará operante, mas acredita que isso possa ocorrer nas próximas semanas --um ano depois do acordo com a Aeronáutica.

Oeste desprotegido

Quando estiver funcionando, o radar de Urubici será capaz de cobrir cerca de 70% do território catarinense. A única área que permanecerá descoberta será o oeste e extremo-oeste, região por onde entra a maioria dos tornados e ciclones provenientes do interior do continente. Para cobrir essa porção do território é necessário adquirir outro radar meteorológico.

Em outubro de 2009, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) anunciou o repasse de R$ 15 milhões a SC para a instalação do equipamento. Os recursos deveriam chegar ao Estado até o final de 2009, conforme previsão do próprio ministério, o que não ocorreu.

Em maio desse ano, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão subordinado administrativamente ao MCT, disse que o dinheiro não foi enviado porque os órgãos estaduais não haviam apresentado documentos necessários.

Como o impasse burocrático entre o Estado e o ministério não foi resolvido, o Congresso aprovou, em agosto desse ano, o repasse dos recursos para a compra do radar por meio do orçamento do Ministério da Integração Nacional.

Para agilizar o envio da verba, o projeto para a instalação do radar passou a ser de responsabilidade do Instituto Federal de Santa Catarina --autarquia federal-- e não mais dos órgãos estaduais (Epagri/Ciram), eliminando a necessidade de se estabelecer convênio entre União e Estado --o que atrasaria ainda mais o repasse dos recursos.

Segundo Marcelo Carlos da Silva, pró-reitor de Relações Externas do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), o projeto definitivo foi apresentado ao ministério no início de dezembro. Agora, o instituto aguarda a liberação dos recursos para a abertura da licitação para a compra dos equipamentos, o que deverá acontecer somente no ano que vem. O custo do radar e dos acessórios é de aproximadamente R$ 8,5 milhões.

“Vamos finalizar os estudos para definir o local de instalação do radar até o início de fevereiro. A partir daí podemos publicar o edital para abrir a licitação de aquisição do radar”, afirma o pró-reitor, que prevê o funcionamento do radar para meados de 2011.

Ainda de acordo com o pró-reitor, o instituto será o responsável pela instalação do radar e do centro de operação das informações, mas o monitoramento dos dados captados será de responsabilidade dos órgãos estaduais de meteorologia (Epagri/Ciram em SC e Simepar, no Paraná), que repassarão as informações para as defesas civis.

Em Lebon Régis, na região oeste, há um radar utilizado por agricultores locais. Embora com menor alcance e destinado a detectar, sobretudo, chuvas de granizo, o equipamento também poderia ser utilizado para prevenir o poder público e a população de intempéries intensas.

Para isso, o radar precisa ser digitalizado e modernizado. O governo do Estado, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica de Santa Catarina (Fapesc), estabeleceu um convênio com um instituto russo para a modernização do equipamento, mas os reparos ainda não foram feitos por conta de desacordos em torno da forma de pagamento pelo serviço --que custará em torno de US$ 200 mil.