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Estiagem atinge mais de 130 mil pessoas no RS; Bagé sofre com racionamento de água

Especial para o UOL Notícias

Em Porto Alegre

05/01/2011 18h02

Pelos menos quatro cidades gaúchas registram problemas para abastecer suas populações de água potável em função da estiagem, que se prolonga no Rio Grande do Sul desde o final de 2010. Os municípios de Candiota, Pedras Altas e Herval, no sul do Estado, já decretaram situação de emergência; Bagé, o quarto município afetado, sofre com racionamento.

Somando a população das quatro cidades, já são cerca de 134 mil gaúchos afetados com a falta de água -- a maior cidade atingida pela seca é Bagé (355 quilômetros de Porto Alegre), onde vivem 115 mil pessoas.

O fenômeno é causado pelo La Niña, um resfriamento das águas do oceano Pacífico que causa escassez de chuvas na região Sul do país, especialmente no sudoeste do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e em países continentais, como o Paraguai. O fenômeno vinha sendo previsto pelos meteorologistas desde março do ano passado.

Em Bagé, a prefeitura decretou racionamento. A cidade, entretanto, não está em situação de emergência. O fornecimento de água é dividido em períodos de 12 horas, das 3h às 15h, atingindo toda a zona urbana do município.

Nem a chuva dos últimos dias conseguiu elevar o nível da barragem da Sanga Rasa, que está 4 metros abaixo do nível normal. Em dezembro, a precipitação média ficou em 54 milímetros – a média histórica do mês é de 136 milímetros. 

A barragem do Piraí, que também abastece a cidade, registrou nesta quarta-feira 1,85 metro abaixo do nível ideal. Um caminhão-pipa do Departamento de Água e Esgoto de Bagé (Daeb) foi designado para garantir o abastecimento nos dois maiores hospitais da cidade.

Em Herval, o prefeito Ildo Sallaberry deslocou escavadeiras à região rural do município para cavar poços artesianos emergenciais. A prefeitura já registrou prejuízos nas lavouras de milho, soja e feijão, além da pecuária leiteira. "O prejuízo é grande", resumiu Sallaberry.

No município de Candiota, que decretou situação de emergência no dia 22 de dezembro, o prejuízo já passa dos R$ 6,5 milhões nas lavouras e na pecuária. Segundo o prefeito Luiz Carlos Folador, a falta de abastecimento é mais grave na área rural – o abastecimento tem sido feito por meio de caminhões-pipa.

“Não chove regularmente há cerca de 60 dias", afirma o prefeito. Folador informou também que não há previsão de chuva forte para as próximas semanas. Mas a possibilidade de racionamento, como já ocorre em Bagé, está descartada por enquanto. Além de uma população menor, cerca de 20 mil habitantes, a cidade tem barragens com boa captação de água.

Cinzas
A estiagem agrava os prejuízos causados pela emissão de cinzas da usina termelétrica Presidente Médici,em Candiota, que gera eletricidade pela queima de carvão. Moradores da cidade relatam problemas respiratórios provocados pelo ar seco e pelos resíduos da usina. Na terça-feira (04), a unidade começou a operar com sua capacidade máxima para dar conta da demanda maior nos meses de verão. 

De acordo com a assessoria de imprensa da CGTEE (Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica), que administra a usina, desde a terça-feira as operações contam com a ação de equipamentos conhecidos como precipitadores, que ajudam a reduzir a quantidade de cinzas emitidas pela queima do carvão. Nesta quarta-feira, começam a funcionar os dessulfurizadores.

Região metropolitana
A região metropolitana de Porto Alegre também já começa a sentir os efeitos da estiagem prolongada. Medições do Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae) de São Leopoldo, no vale do rio dos Sinos, demonstram que o nível de água está em 1,30 metro. O limite para abastecimento é 70 centímetros.

Para conter o desperdício, a prefeitura editou um decreto que prevê multa aos consumidores flagrados lavando carros, calçadas ou regando flores com água tratada. Em menos de um mês foram 70 denúncias. Uma pessoa foi notificada. A multa é aplicada em caso apenas em caso de reincidência.

O calor desta quarta-feira, que em algumas regiões superou os 35 graus, agravou a situação do consumo de água. Uma chuva forte atingiu várias regiões do Estado no final da tarde, mas o fenômeno foi passageiro. No sul do Estado e na campanha, as regiões afetadas pela estiagem, choveu apenas em pontos isolados.

O secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, Luiz Mainardi, culpou a burocracia pela repetição de problemas de abastecimento nas cidades do sul do Estado. Segundo ele, a demora nos trâmites legais está atrasando a construção de uma nova barragem em Bagé, com capacidade quatro vezes maior que o atual limite de abastecimento.