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Polícia do PR indicia jornalista e mais 24 pessoas por envolvimento com tráfico de drogas

Para a polícia, jornalista Maritânia Forlin prestou informações ao tráfico em Campo Mourão (PR) - Arquivo pessoal
Para a polícia, jornalista Maritânia Forlin prestou informações ao tráfico em Campo Mourão (PR) Imagem: Arquivo pessoal

Janaina Garcia <br> Do UOL Notícias

Em São Paulo

01/02/2011 20h44

A Polícia Civil de Campo Mourão (noroeste do Paraná) indiciou no final da tarde desta terça-feira (1º) 25 pessoas que estavam presas ou que eram investigadas, desde o mês passado, por crimes como formação de quadrilha, tráfico de drogas, associação e prestação de informações para o tráfico, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. O caso ficou conhecido, no dia 6 de janeiro, graças à operação em que 19 pessoas foram detidas -- entre as quais, a jornalista Maritânia Forlin, 28, que, segundo a polícia, era amante do líder da quadrilha, Gilmar Tenório Cavalcanti, 35.

Em dois meses de interceptações autorizadas pela Justiça, Maritânia, que foi repórter policial em uma emissora de TV, passaria informações sobre operações policiais e também cobraria ser avisada com antecedência, caso a quadrilha soubesse de algum homicídio, ou mesmo promovesse algum.

Solta semana passada depois de 20 dias na cadeia, a jornalista foi indiciada por supostamente prestar informações ao tráfico -- crime que, pela lei de entorpecentes, é inafiançável e prevê, em caso de condenação, de dois a seis anos de reclusão. Inicialmente apontada também como pessoa associada com o tráfico, ela se livrou desse indiciamento.

“Porque não ficou comprovado que ela teria recebido algum tipo de lucro financeiro nessa ligação com o traficante”, justificou o delegado que presidiu o inquérito, José Aparecido Jacovós. “Mesmo assim, o Ministério Público pode entender diferente de nós e ofertar denúncia pelos crimes que achar que existiram, pelas provas que colhemos”, ressalvou.

De acordo com o delegado, dos 25 indiciados, a maioria, 13 pessoas, foi por crime de associação com o tráfico. Outras 12 foram indiciadas pelos demais crimes -- inclusive um bacharel em Direito que, se apresentando como advogado, sem ter licença para atuar, foi citado também por falsidade ideológica. Cavalcanti, sozinho, foi indiciado por tráfico, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e formação de quadrilha.

Jacovós disse que o suposto líder confessou a condição de traficante em depoimento prestado na última sexta (28). “Confessou não apenas que é traficante, e na presença dos advogados dele, como ainda que lucrava cerca de R$ 800 a cada cinco dias de trabalho. Mas livrou os demais presos -- até porque, há parentes dele no meio”, declarou o delegado.

Livro de memórias

Um dia depois de ser solta, a jornalista, em entrevista ao UOL Notícias, disse que na cadeia começou a escrever um livro de memórias no qual pretende não apenas se defender das afirmações da polícia, como relatar a experiência profissional e os “bastidores” que a levaram a ser alvo da investigação. Sobre as gravações em que o delegado diz ser ela conversando com o traficante, Maritânia disse não haver provas que a incriminem.

Indagado sobre o assunto, o delegado apenas comentou: “Na minha opinião ela deve publicar, mas também fazer uma reflexão sobre a conduta dela. Porque o que saiu na imprensa sobre o que ela falou com o traficante é apenas 1% das provas que coletamos para indiciá-la. Pode ser que no livro ela cite o resto”.

Com cerca de 600 páginas, o inquérirto segue nesta quarta-feira (2) para o MP analisar, em 15 dias, se oferece ou não à Justiça denúncia contra os indiciados.

A reportagem tentou contato com dois advogados de Cavalcanti, mas eles não atenderam os telefonemas. O advogado da jornalista, Anderson Carraro, afirmou que vai aguardar a manifestação do MP. “Se ela for denunciada, começaremos a defesa”, concluiu.