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Polícia apresenta acusado de ser mandante de incêndios em ônibus de Belo Horizonte

Rayder Bragon

Especial para o UOL Notícias<br>Em Belo Horizonte

19/05/2011 20h25

A Polícia Civil mineira apresentou nesta quinta-feira (19) um homem acusado de ser o mandante de ataques a ônibus em Belo Horizonte e na região metropolitana que vêm ocorrendo desde a última semana de abril deste ano.

O detento da penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, localizada em Contagem (MG), Cleverson Silva de Oliveira, 27, é acusado de comandar de dentro do presídio os atos de vandalismo. Ele utilizaria um telefone celular para emitir as ordens a parentes e comparsas.

Segundo o delegado Islande Batista, chefe do Deoesp (Divisão Especializada em Operações Especiais), o preso cumpre mais sentença de 50 anos por crimes como assaltos a bancos, homicídios e formação de quadrilha. Ele está confinado no local desde 2007.

Ainda de acordo com o delegado, as ações teriam como pano de fundo a troca de comando da penitenciária, que teria cortado “regalias” dos presos, e operação pente-fino realizada nos dias 25 e 26 do mês passado.

Segundo a polícia, a nova direção da unidade prisional teria diminuído o tempo das visitas íntimas e apertado o cerco contra a entrada de celulares no local.

De acordo com Batista, a polícia chegou até o detento por meio de escuta feita em uma das ligações do detento a uma irmã. “Ele disse para a irmã se ela teria visto a fogueira santa”, disse o delegado em alusão aos incêndios que destruíram parcial ou totalmente 11 ônibus em menos de um mês.

O policial disse, no entanto, que preliminarmente apenas nove coletivos teriam sido alvo de ação criminosa. Ainda conforme o delegado, 11 pessoas estão sendo investigadas por participação nos atentados.

Batista ainda afirmou que a intenção dele seria encomendar a morte de agentes penitenciários e, ainda, que os atentados se estenderiam à explosão de viadutos na capital mineira.

“Foram apreendidas (bananas de) dinamites aqui na capital, na semana passada, e, segundo o Cleverson, se o tratamento no interior do presídio não mudasse, ou seja, beneficiando os detentos, seriam explodidos quatro viadutos na cidade”, afirmou.

O delegado disse que a possível participação de agentes penitenciários na facilitação da entrada de celulares na penitenciária será investigada.

“A coisa ia piorar”

O detento negou as acusações e disse que apenas ficou sabendo que as ordens partiram do presídio. “Eu não ordenei nada. Simplesmente, onde eu estou, não tem como a gente não ficar sabendo das coisas. A única explicação plausível para o que está acontecendo é que está saindo (ordens para os ataques) lá de dentro”, disse.

Segundo ele, a convivência com os agentes penitenciários se tornou “difícil” por conta de “esculachos” (humilhações) a que parentes dos presos estariam sendo submetidos na hora das visitas.

“Até onde eu sei, a coisa iria piorar porque eles estão colocando senhoras de 70 ou 80 anos de idade de quatro, de pernas abertas, e esculachando as visitas dos presos. A partir do momento que a gente está pagando a nossa pena, nós não temos que ser mais esculachados”, afirmou o detento.

Segundo ele, as ações, no entanto, não foram atribuídas a perdas de supostas “regalias’ que estariam sendo franqueadas aos presos pela administração anterior. “Não existia regalias lá dentro. Nós apenas não estamos sendo respeitados em mais nada”, afirmou.

A assessoria da secretaria informou que as visitas aos detentos seguem normas estabelecidas no "Procedimento Operacional Padrão (POP)", que, segundo o órgão, é um conjunto de regras a serem seguidas não apenas por visitantes como também pelos detentos.

Conforme a assessoria, os visitantes passam por identificação biométrica, entre outros procedimentos de segurança, como revistas de pertences e alimentos que serão destinados aos presos.

A assessoria informou ainda que a secretaria desconhece situações de abuso por parte dos agentes penitenciários e denúncias de desvio de conduta de servidores podem ser feitas à Ouvidoria do Sistema Prisional.