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PF faz quatro operações por ano para coibir plantio da droga no "polígono da maconha"

Gabriel Souza Elias

Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

21/05/2011 07h00

Alvo de operações da Polícia Federal desde a década de 80, o sertão pernambucano é hoje o foco das principais ações policiais para erradicação do plantio de maconha dentro do território brasileiro. A região, conhecida como “polígono da maconha”, abrange ao menos sete cidades de Pernambuco próximas da divisa com o Estado da Bahia. São periódicas as incursões da divisão de entorpecentes federal e das secretarias de segurança locais para o combate do plantio nesta área de cultivo, que é responsável pelo abastecimento da droga em todo o Nordeste do país. Elas acontecem ao menos quatro vezes por ano, de acordo com dados obtidos pelo UOL Notícias através do mapeamento das operações da PF desde 2008.

O PLANTIO DE MACONHA NO BRASIL

  • Cidades brasileiras monitoradas e fiscalizadas constantemente em operações da Polícia Federal

Em Pernambuco, as plantações de maconha estão espalhadas ao longo das cidades de Salgueiro, Floresta, Belém de São Francisco, Cabrobó, Orocó, Santa Maria da Boa Vista e Petrolina, região quente e seca banhada pelas águas do rio São Francisco. Carnaubeira da Penha e Betânia, mesmo distantes do São Francisco, também fazem parte deste mapa. Ao norte da Bahia, completam a linha imaginária que delimita o monitoramento da Polícia Federal as cidades fronteiriças Juazeiro, Curaçá, Glória e Paulo Afonso.

O número de operações anuais no “polígono da maconha” –quatro– está relacionado ao tempo de maturação da planta, que demora aproximadamente três meses para estar apta para a colheita. Segundo o departamento de comunicação da Polícia Federal, o aumento na repressão realizado a partir de 2008 já reduziu em 40% o volume do replantio na região, que é alvo de fiscalização por parte dos policiais desde 1986.

Cada quilo é vendido para o atravessador por valores que giram em torno de R$ 200 a R$ 300. Na região metropolitana de Recife (PE), o quilo é revendido por cerca de R$ 800. A escassez de recursos no sertão pernambucano é apontada por especialistas como o principal motivo de aliciamento dos agricultores, que geralmente são presos trabalhando nas plantações. O produtor oferece cerca de R$ 50 por dia ao responsável pelo cultivo de uma plantação de maconha. A lavoura comum rende de R$ 10 a R$ 12 diários.

Neste ano, a PF já comandou duas ações no sertão pernambucano. Em fevereiro, a Operação Caruá 1 durou dez dias e erradicou 337,4 mil pés de maconha em oito municípios e nas ilhas do rio São Francisco. A quantidade de plantas incineradas nesta operação seria suficiente para produzir 101 toneladas da droga. Já no início de maio, a segunda edição da Caruá durou nove dias e acabou com outros 201 mil pés da planta. Outras duas etapas estão previstas até o fim de 2011.

Números consolidados de todas as operações realizadas pela Polícia Federal no ano passado apontam que 551 lavouras ilegais foram destruídas no “polígono” em 2010, e mais de um milhão de pés de maconha e outras 896 mil mudas da planta foram erradicadas.

Os locais preferidos pelos traficantes para o cultivo são as margens dos rios que abastecem o sertão pernambucano e as encostas dos morros, em áreas rurais de difícil acesso por terra. Segundo a PF, uma lavoura de maconha no local custa cerca de R$ 20 mil ao produtor, valor suficiente para o plantio de cerca de dez mil pés de maconha –que equivalem a três toneladas da droga pronta para consumo.

Demais áreas
No Nordeste, outro alvo recente de fiscalização da Polícia Federal é a fronteira entre os Estados do Maranhão e do Pará. Desde 2008 são feitas pelo menos duas operações anuais na região que abrange os municípios de Arame, Buriticupu, São João do Carú, Centro Novo do Maranhão, Centro do Guilherme e Governador Nunes Freire. Do lado paraense da fronteira, participam do monitoramento constante os municípios de Cachoeira do Piriá e Nova Esperança do Piriá.

Na operação mais recente deflagrada na região, a Secretaria de Estado de Segurança Pública do MA comandou em março deste ano a erradicação de cerca de 250 mil pés de maconha entre os municípios de Centro Novo (MA) e Cachoeira do Piriá (PA), na reserva biológica do Gurupi. A região foi escolhida pelos traficantes por ser úmida, fértil e de difícil acesso por terra, e sua identificação só foi possível após um sobrevoo de helicóptero feito pelo Grupo Tático Aéreo da polícia maranhense.

“Passaremos a realizar três operações anuais na região para quebrar o ciclo da maconha, em trabalho que contará com a parceria da polícia paraense”, declarou Aluísio Mendes, secretário de Segurança Pública do Maranhão, durante a operação. “Temos informações de que a maconha produzida aqui é distribuída para todo o Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste”, afirmou.

Apesar de o Nordeste figurar como o principal centro de cultivo da maconha no Brasil, o maior volume da droga que abastece o eixo Rio-São Paulo vem de outro país: o Paraguai. A Polícia Federal brasileira tem acordo de cooperação com a Secretaria Nacional Antidrogas do país vizinho e trabalha no combate ao tráfico nas regiões de fronteira com o Mato Grosso do Sul e com o Paraná. O plantio da maconha, entretanto, é todo feito do lado paraguaio, em cidades como Pedro Juan Caballero e Capitán Bado.

Somente em 2011, o trabalho conjunto na Operação Nova Aliança 3 já erradicou 316 hectares (3.160.000 m²) de plantações de maconha no Paraguai, equivalentes a 383 gramados de futebol em dimensões oficiais (110 m x 75 m). Cada hectare da plantação poderia produzir até três toneladas da droga para o comércio ilegal, de acordo com cálculo divulgado pelo comando da operação.