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Defensoria irá pedir inclusão de ambientalistas em programa de proteção no Pará

Arthur Guimarães<br>Do UOL Notícias*<br>Em São Paulo

21/06/2011 18h33

Após entrevistar nesta terça-feira (21) os extrativistas retirados no final de semana sob escolta de um assentamento em Nova Ipixuna (PA), a Defensoria Pública do Pará decidiu que irá pedir, nos próximos 15 dias, a inclusão definitiva das nove pessoas no Programa Estadual de Proteção a Defensores dos Direitos Humanos do Estado.

Segundo Márcio da Silva Cruz, coordenador do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado, será feito um relatório explicando os riscos a que os agricultores estão submetidos.

Iniciativa da Secretaria de Direitos Humanos, vinculada à Presidência da República, o programa de proteção é gerenciado por coordenações estaduais.

Caso o pedido da Defensoria seja aceito, os assentados podem ser inclusos em um dos três níveis de segurança: branda (escolta, monitoramento de telefonemas, colete à prova de bala), dura (escolta, veículo blindado, proteção aos familiares) e estrutural (combate aos responsáveis pela ameaça).

Segundo o defensor que entrevistou os agricultores, o grupo de nove pessoas que foi retirado no sábado (18) do assentamento Praialta/Piranheira, em Nova Ipixuna, era composto pelas duas últimas famílias na região. Como explica Cruz, eles relataram que homens estranhos eram vistos circulando perto de suas casas. “Os cachorros não paravam de latir. E, quando as pessoas acordavam, percebiam que o mato estava batido e cheio de pegadas”, disse.

O defensor contou que, atualmente, os extrativistas, que também são ambientalistas locais, estão em Marabá, em “local seguro”, e sob escolta armada de 12 homens da Força Nacional. “Eles não querem mais voltar para Nova Ipixuna.”

Entre os assentados ouvidos pela Defensoria, está a irmã de José Cláudio Ribeiro da Silva, morto no mês passado. O agricultor foi assassinato perto do assentamento no dia 24 de maio, em uma emboscada que também tirou a vida de sua mulher, Maria do Espírito Santo.

As investigações da Polícia Civil do Pará apontam um pecuarista como o principal suspeito de ter encomendado a morte do casal. Seria esse rapaz, segundo o defensor público, que estaria por trás das ameaças contra o grupo de assentados que estão sob proteção atualmente em Marabá. “Eles (os extrativistas entrevistados hoje) acham que esse homem (pecuarista) está fazendo pressão para que eles deixem a área de vez.”

Histórico

Entre o final de maio e começo de junho, três mortes ocorreram em Nova Ipixuna: além do casal de castanheiros , no dia 29 de maio foi encontrado o corpo de Eremilton Pereira dos Santos, 25, que morava no mesmo assentamento do casal.

Todos teriam sido mortos por atrapalhar os planos de um criador de gado da região, que adquiriu irregularmente dois lotes de dois assentados.

Ao saber da ilicitude, os agricultores teriam proibido os assentados de saírem dos lotes e denunciaram o caso ao Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária). Após a ação, o pecuarista teria começado a fazer ameaças e teria encomendado os crimes, ainda segundo a investigação.

Os laudos do IML (Instituto Médico Legal) sobre os crimes apontam que Maria foi morta antes. Ambos foram alvejados por balas de chumbo, disparadas por armas de caça. No total, quatro tiros foram disparados pelos pistoleiros.

De acordo com os retratos falados, um dos suspeitos seria branco e teria altura entre 1,60 m e 1,65 m, rosto arredondado e cabelos lisos castanhos. Já o segundo homem seria negro, com olhos médios, nariz chato e cabelos curtos escuros, compleição forte e altura aproximada de 1,70 m. A polícia do Pará já tem a identidade dos dois principais suspeitos, mas não irá divulgá-la antes que as prisões ocorram.

A rota de fuga dos dois suspeitos, segundo a polícia, foi o rio Tocantins. Testemunhas teriam relatado que os dois homens foram vistos às 5h30 do dia do crime seguindo para o assentamento e às 8h30 fazendo o caminho inverso em direção ao rio.

* Com informações de Gulherme Balza, do UOL Notícias