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'Cicerone' de Dilma em Caruaru, filho de Mestre Vitalino ganha salário mínimo para cuidar de museu

Aliny Gama e Carlos Madeiro

Especial para o UOL Notícias<br>Em Caruaru (PE)

23/06/2011 20h04

Pela primeira vez em 40 anos de existência, um presidente visitou a casa-museu Mestre Vitalino, no Alto do Moura, distrito de Caruaru (PE), onde nasceu a arte dos bonecos de barro. O ofício surgiu da criatividade de Vitalino Pereira dos Santos (1909-1963), conhecido como Mestre Vitalino. Suas esculturas ganharam o mundo e se tornaram o maior símbolo do rico artesanato do Nordeste.

Na noite desta quarta-feira (22), coube a um dos seus seis filhos, Severino Vitalino, a missão de receber a presidente Dilma Rousseff na casa-museu do Mestre Vitalino. “Não pedi nada a ela, apenas mostrei o museu”, afirmou ao UOL Notícias um dia após o sucesso nacional, sem esconder o orgulho do “reconhecimento” pelo trabalhado iniciado pelo pai.

Para cuidar e receber os turistas no museu diariamente, Severino ganha um salário mínimo da prefeitura. Abre o local todos os dias, das 8h às 17h30, de segunda a sábado, e das 8h às 12h, aos domingos, sem folga. Poderia descansar às segundas-feiras, mas conta que prefere abrir o local onde segue o ofício do pai e modela novas peças. Férias? Nem pensar. “Sou igual a cantiga de grilo, não paro”, brincou, entre a entrada de um cliente e outro na casa-museu.

Para complementar a renda, Severino -- que tem 13 filhos, 12 deles que trabalham com barro -- cobra R$ 1,00 pela entrada na casa do pai. Uma aposentadoria também de salário mínimo também ajuda. Nesta época do ano, quando Caruaru recebe milhares de turistas por conta do São João, o museu vive lotado, e o “extra” ajuda o artesão com as despesas no restante do ano. Em outros períodos, a arrecadação com as taxas é pequena e serve basicamente para manter os custos.

Severino é de poucas palavras e diz que a idade o fez fugir de polêmicas. “Antigamente falava demais. Já dei com a língua nos dentes. Hoje não falo mais de política”, disse, ressaltando que “está tudo bem hoje”.

Apesar de trabalhar todos os dias, Vitalino disse que faz o que gosta e não reclama da rotina. “É uma terapia para mim, um lazer mexer no barro. Vivo disso, criei 13 filhos graças ao artesanato”, assegurou.

Artesãos querem melhores condições

O Alto Moura fica a 7km do Centro de Caruaru e, segundo a prefeitura, é considerado o maior centro de artes figurativos das Américas. No local, dezenas de lojas vendem produtos feitos do barro, que hoje vão desde os tradicionais de bonecos a peças de decoração de luxo. Os preços variam de R$ 1 a até mais de R$ 1.000, a depender do trabalho de concepção.

O local mantém os ares rústicos desde sua fundação, com rua ainda de calçamento em paralelepípedo e casas e lojas dividindo espaço. Pelo menos 12 ateliês estão instalados no local, com dezenas de lojinhas vendendo produtos. Por conta do sucesso, o Alto do Moura também ganhou destaque nos últimos anos por conta dos restaurantes instalados no local, que têm no bode assado o prato principal.

Os artesãos reclamam da falta de infraestrutura do local e incentivo para receber turistas. Com ruas de barro, eles afirmam que não há locais de estacionamento suficiente e há uma quantidade mínima de banheiros. Já na entrada do bairro, com os carros parado no acostamento, o turista precisa circular pelo meio da rua.

Morador do Alto do Moura desde que nasceu, o artesão Edilson Rodrigues da Silva, 40, lista uma série de problemas que os vizinhos enfrentam diariamente no bairro. “Aqui faltam escola de ensino médio, estradas asfaltadas e boa estrutura para receber o turista à altura. A prefeitura só se lembra daqui no período de São João”, afirmou. “A gente não recebe nenhum incentivo da prefeitura, o que ganhamos é pouco. A margem de lucro que temos com as peças é muito pequena.”

Em meio a modelagem de uma peça e outra, o artesão Demontier José da Silva, 36, também criticou a falta de infraestrutura do Alto do Moura. “Não adianta só divulgar, tem de dar estrutura para o turista vir aqui, com banheiros e espaço de lazer, como uma praça. Além do crucial que é asfaltar a estrada de acesso e pelo menos colocar calçamento na estrada adjacente à Avenida Mestre Vitalino, que é de terra”.

Demontier ressaltou também que a frota de ônibus e os horários irregulares é outro problema enfrentando tanto para turistas, quanto para os moradores. “Chegar de táxi sai caro porque aqui é longe. Quando o turista que está hospedado no centro, quer vir para cá não tem uma linha de ônibus boa e não vai gastar R$ 30, 40 de táxi”, afirmou.