Em Marcha contra Impunidade, ONG Rio de Paz quer lembrar as mais de 30 mil mortes violentas no RJ
Fabíola Ortiz<br> Especial para o UOL Notícias
No Rio de Janeiro
31/07/2011 07h00
Cerca de 500 ativistas devem se reunir neste domingo (31), na orla de Copacabana, para a Marcha contra a Impunidade, que está sendo organizada para lembrar as mais de 30 mil mortes violentas ocorridas no Estado do Rio, entre 2007 e junho de 2011. A caminhada, prevista para sair às 14h do Posto 6 na Orla de Copacabana, irá lembrar casos de violência como a recente morte do menino Juan Moraes, 11, no dia 20 de junho após uma operação policial na favela Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Para a ONG Rio de Paz, que organiza a passeata, a morte do menino Juan foi a gota d'água. “Significa que quem mata faz sem medo no Rio de Janeiro. É a certeza da impunidade e é isso que estamos combatendo”, disse ao UOL Notícias o presidente da entidade, Antônio Carlos Costa, que critica a grande quantidade de autos de resistência no Estado.
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“Tem muita execução, o que impede que as pessoas que deveriam ser presas acabem sendo mortas. Queremos que tenha uma investigação para cada caso de auto de resistência. O ideal é que a polícia se torne mais eficaz na prevenção do que na repressão, e que matasse menos”, criticou. Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública do Rio) de 2007 a junho de 2011 somam 4.650 autos de resistência.
A Marcha contra a Impunidade promete ser uma caminhada silenciosa que terá o ponto de chegada no final da praia de Copacabana, altura da avenida Princesa Isabel, onde será fincada na areia uma cruz preta de cinco metros e colocadas cerca de três mil rosas com fitas negras.
O protesto em silêncio apresenta três reivindicações: o julgamento e punição para os assassinos de Juan, a manutenção da investigação em casos de auto de resistência e também o maior investimento em verbas e pessoal para corregedorias externas às Polícias Civil e Militar.
“Queremos maior investimento, os próprios policiais já têm cobrado isso. Não adianta cobrar da polícia um serviço de perícia a altura sem material adequado e recursos humanos. A polícia não dispõe de gente para fazer o trabalho investigativo”, ressaltou o presidente da entidade.
Outros dois pontos de reivindicação da ONG Rio de Paz envolvem a elucidação de casos de homicídio doloso e a investigação dos casos de desaparecimento com indícios de homicídio.
Mortes violentas desde 2007 (número de casos)
Homicídios dolosos | 24.650 |
Autos de resistência | 4.650 |
Latrocínio (roubo seguido de morte) | 810 |
Lesão corporal seguida de morte | 208 |
Policiais militares mortos em serviço | 86 |
Policiais civis mortos em serviço | 25 |
Desaparecidos | 23.483 |
O Estado do Rio de Janeiro já ultrapassou a marca de 30 mil mortes violentas desde 2007. Em homicídios dolosos, foram 24.650 casos; autos de resistência (mortes em confronto com a polícia) 4.650; lesão corporal seguida de morte, 208; latrocínio (roubo seguido de morte), 810; policiais militares e civis mortos em serviço foram 86 e 25, respectivamente. Já o número de desaparecidos contabilizou 23.483, e “desses não dá para saber quantos, de fato, morreram porque não há investigação”.
A taxa de elucidação de homicídio é mínima, e o índice de punição, ainda menor. No ano de 2007, apenas 11% dos homicídios foram elucidados e somente 8% dos crimes foram punidos, segundo estudo feito pelo pesquisador Inácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
“Queremos chamar a atenção. O número de mortes tem reduzido a conta gotas”, afirmou Antônio Carlos.
A meta da ONG é conseguir mobilizar 5.000 pessoas para a caminhada de domingo. Para a marcha, foram convidados parentes e famílias de pessoas que foram vítimas da violência, como o caso de Carlos Santiago, pai de Gabriela Prado de 14 anos que morreu durante um assalto numa estação do metrô em 2003 na Tijuca, zona norte do Rio. O sindicato de policiais civis também já confirmou presença.