Veredicto de julgamento de padres de Arapiraca acusados de pedofilia só deve sair em setembro
A Justiça concluiu o terceiro dia de julgamento dos padres de Arapiraca (AL) acusados de pedofilia por ex-coroinhas, na noite desta terça-feira (2). O juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude de Arapiraca, João Luiz de Azevedo Lessa, colheu os últimos depoimentos de três testemunhas – duas requeridas e uma de acusação – e dos três acusados, os padres Edilson Duarte, 43, Luiz Marques Barbosa, 84, e Raimundo Gomes, 50.
O magistrado também ouviu novamente a delegada Bárbara Arraes, que cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa paroquial em que reside Barbosa, logo após o surgimento das denúncias de pedofilia em abril do ano passado.
O julgamento do caso começou no dia 8 de julho, mas foi paralisado por duas vezes devido à falta de testemunhas. Agora, com a conclusão desta etapa, o próximo passo é que defesa e acusação apresentem em até cinco dias as alegações finais sobre o caso. Os autos do processo somam quase mil páginas e devem ser analisados em até 10 dias, após a conclusão de todo o processo. O veredicto só deverá sair no início do mês de setembro.
“Os advogados têm cinco dias para entregar as alegações finais e caso algum pedido de diligência seja atendido pelo juiz haverá outros prazos para serem concluídos os trabalhos. Com isso, será dado um novo prazo para que o doutor João Luiz analise todo o processo e dê o veredicto”, explicou o assistente do magistrado, Carlos Bezerra.
Segundo ele, o último depoimento da noite foi do padre Edilson Duarte e durou cerca de quatro horas. Os trabalhos finalizaram com duas solicitações de diligência feitas pelo Ministério Público Estadual, que trabalha na acusação dos padres. O conteúdo dos pedidos não foi divulgado. Bezerra reforçou que as sessões ocorreram em segredo de justiça por se tratar de vítimas que teriam sido supostamente abusadas pelos religiosos quando eram adolescentes.
Relembre o caso
Os ex-coroinhas Anderson Farias, 22, Cícero Flávio, 23, e Fabiano Ferreira, 22, acusam os três religiosos de abuso sexual quando eles eram adolescentes, com idade entre 12 e 18 anos. Após prestar depoimento, o ex-coroinha Cícero Flávio voltou a afirmar que os padres usavam do poder religioso que tinham perante a sociedade para encobrir os abusos. Foi ele quem filmou o padre Luiz Barbosa mantendo relação sexual com o ex-coroinha Fabiano, quando o jovem já era maior de idade.
“Tomei coragem para filmar tudo que estava acontecendo, pois só assim a sociedade iria acreditar na denúncia dos abusados feitos a nós por aqueles homens”, disse em tom de revolta à reportagem do UOL Notícias. Os padres alegam inocência. Um dos padres confirmou que manteve um relacionamento amoroso com um ex-coroinha, mas se defendeu afirmando que as relações sexuais teriam ocorrido quando o rapaz já era maior de 18 anos.
Processo canônico
Todas as sessões foram acompanhadas por representantes do Vaticano. Além do processo civil, os padres enfrentam o processo da Igreja Católica, que será baseado no direito canônico. Caso sejam condenados pela Igreja, os três religiosos poderão perder o direito de exercerem atividades religiosas. Por enquanto, estão afastados dos trabalhos paroquiais.
O caso ganhou repercussão quando foram divulgadas à imprensa, em fevereiro de 2010, as cenas de sexo entre o padre e o jovem. A filmagem também foi gravada em DVDs que foram comercializados por barracas de camelôs de Arapiraca.
A denúncia dos supostos abusos cometidos pelos padres levou a CPI da Pedofilia do Senado Federal realizar uma sessão no fórum de Arapiraca. O senador Magno Malta (PR-ES) presidiu os trabalhos e colheu depoimento de todos os envolvidos no caso. O material foi entregue ao Ministério Público Estadual, que ofereceu à denúncia a Justiça.
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