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Dois meses depois, polícia do Pará não prende nenhum envolvido nas seis mortes no campo

Funeral do casal de extrativistas morto no Pará - Tarso Sarraf/AE
Funeral do casal de extrativistas morto no Pará Imagem: Tarso Sarraf/AE

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

09/08/2011 07h01

A onda de crimes no campo no sudeste do Pará mobilizou entre o final de maio e o começo de junho deste ano as forças de segurança do governo federal e teve até repercussão internacional. Até agora, entretanto, nenhum dos envolvidos nas cinco mortes foi preso. Os crimes ocorreram em assentamentos no sudeste paraense, a região mais violenta do país.

As duas primeiras vítimas foram o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, mortos em uma emboscada em Nova Ipixuna (481 km de Belém), em 24 de maio. No último dia 28, mais de dois meses após o crime, o juiz Murilo Lemos Simão, da Comarca de Marabá, pediu a prisão preventiva de José Rodrigues Moreira --suspeito de ser o mandante do crime--, Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento, que teriam sido os autores dos disparos que mataram o casal.

A Polícia Civil concluiu o inquérito em de 10 julho. Antes, o mesmo juiz negou em duas ocasiões os pedidos de prisão feitos pela Polícia Civil, que tinham parecer favorável do Ministério Público, alegando falta de provas. Para a CPT (Comissão Pastoral da Terra), a postura do juiz facilitou a fuga dos criminosos. Até agora nenhum dos três foi preso.

Segundo o inquérito, o casal foi morto porque impediu que Moreira comprasse terrenos dentro do assentamento agroextrativista do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de Praialta-Piranheira --o que é ilegal-- e denunciou a irregularidade às autoridades. Meses antes da morte, José Cláudio afirmou em uma palestra que poderia ser morto a qualquer momento.

Alguns dias após a morte do casal, Eremilton Pereira dos Santos, 25, foi encontrado morto no mesmo assentamento. Mais de dois meses depois do crime o inquérito ainda não foi concluído, já que o delegado José Humberto Júnior, da Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá, solicitou duas prorrogações para finalizar a investigação.

De acordo com a Polícia Civil, o autor do crime já está definido, mas o pedido de prisão ainda não foi decretado. Apesar de Eremilton morar no mesmo assentamento que o casal, a polícia afirma que a motivação do crime é um desentendimento em função do tráfico de drogas.

Eldorado dos Carajás e Pacajá

No dia 1º de julho, o lavrador João Vieira dos Santos, 33, foi morto a tiros em uma estrada de Eldorado dos Carajás (627 km de Belém). A vítima já havia sido baleada alguns minutos antes e foi morta quando era levada por um amigo ao hospital. O lavrador era natural de Bom Jardim, no Maranhão, e vivia no Pará, com um nome falso (Marcos Gomes) havia cerca de quatro anos. Santos foi condenado por homicídio em 2002 e fugiu da prisão.

A polícia afirma que o lavrador foi morto por vingança. Os dois homens envolvidos diretamente no crime ainda não foram identificados formalmente. As investigações ainda estão em curso, e nenhum suspeito foi preso.

O quinto camponês morto no sudeste do Pará foi Obede Loyola, 31, assassinado em Pacajá (521 km de Belém) no dia 9 de julho, véspera da chegada dos efetivos da Força Nacional de Segurança, Polícia Federal e Exército à região para conter a onda de mortes. Souza foi morto a bala a cerca de 800 metros de seu barraco, localizado em um assentamento, em uma área de mata fechada.

A delegada Daniele Bentes, da divisão de homicídios da Polícia Civil, solicitou duas prorrogações de prazo para concluir o inquérito, que ainda não foi finalizado. A polícia ainda não identificou os autores do crime.

A CPT critica a morosidade da polícia e da Justiça e questiona a afirmação da polícia de que os crimes não têm relação com a disputa por terra. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Pará orientou a reportagem a procurar os delegados responsáveis pelos inquéritos ou a Polícia Civil.

A reportagem ligou para Silvio Maués, diretor da Polícia Civil, mas não conseguiu localizá-lo. O delegado José Humberto disse que não iria falar sobre o andamento das investigações.