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Proibição de criatórios causou proliferação de caramujos africanos no Brasil, diz pesquisador

Aliny Gama

Especial para o UOL Notícias <BR> No Recife

14/08/2011 06h20

Os caramujos africanos foram introduzidos no Brasil em 1988 como alternativa econômica para substituir o escargot, molusco exótico e comestível. Com o clima brasileiro favorável e o valor competitivo com a iguaria francesa, a implantação de criatórios no País virou uma febre em vários Estados.

Preocupados com as doenças causadas pelos vermes hospedeiros do caramujo africano registradas nos Estados Unidos, África e Ásia, ambientalistas levantaram a discussão de que a espécie poderia trazer sérios problemas ao Brasil. A agricultura também seria afetada diretamente, caso a produção desses moluscos ocorresse de forma sem controle.

Após estudos realizados pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em 2003 foi proibida a criação dos moluscos em território brasileiro. Mas a medida, ao invés de erradicar esses animais, ajudou a proliferação da espécie indiscriminadamente.

Quem faz essa avaliação é o veterinário Maurício Carneiro de Aquino, um dos fundadores da Associação de Helicicultores do Rio de Janeiro --a primeira associação de criadores de caramujos do Brasil.

Caramujos africanos invadem cidades de Alagoas e ameaçam população

O aparecimento de caramujos gigantes africanos em duas cidades alagoanas está preocupando as autoridades sanitárias de Alagoas. Este ano já foram registradas pragas dos moluscos em Maceió e Penedo, que possuem focos atualmente, e Roteiro, que foi "invadida" em maio.

Aquino afirma que sem um predador natural, o caramujo africano está presente em 25 dos 26 Estados brasileiros, mais o Distrito Federal –apenas Roraima não apresentou registros.

“A espécie se adaptou bem ao clima do Brasil. Depois que os criatórios foram abandonados, devido à proibição do Ibama, os caracóis africanos ficaram soltos na mata, se reproduzindo sem haver nenhum predador natural”, disse Aquino, que é mestrando na área de Ciências da Saúde pela Ufal (Universidade Federal de Alagoas) e está desenvolvendo uma dissertação de mestrado sobre os caramujos africanos no Brasil.

Contaminação e consumo

Aquino afirma que a única alternativa ecológica para combater a grande população de caramujos africanos é a utilização para consumo animal e humano. “Não existem no Brasil registros de doenças ocasionadas com o consumo adequado da carne do caramujo. Devido aos casos registrados no exterior, as autoridades sanitárias brasileiras começaram a fazer alarde, mas o caramujo africano que foi introduzido no país não veio contaminado com esses vermes”, disse.

O pesquisador afirma ainda que a captura do molusco, como vem ocorrendo em Penedo (a 160 km de Maceió), não vai erradicar o animal. "Sempre haverá algum caramujo que não será capturado e ele vai continuar a se reproduzir e viver na mata brasileira por não haver predador. O acatina (nome científico do animal) se reproduz no inverno e hiberna no verão.”

O pesquisador afirma que o consumo do caramujo vale “como fonte de proteína gratuita”. “O acatina cozido não traz riscos a saúde, caso haja um período de quarentena antes do preparo do alimento. Qualquer carne crua contém vermes, mas ao serem preparadas de maneira adequada eles morrem e fica só o valor nutritivo do animal. As autoridades deveriam atentar para esta fonte de alimento alternativa também para comunidades carentes”, afirmou.

Aquino disse que a população brasileira consome outros tipos de caracóis e lesmas, que fazem parte da fauna do País, e que essas espécies também causam perigos se consumidos de forma natural. “Orientamos que os caramujos que estejam em bueiros, esgotos e fossas devem ser evitados para consumo, mas os que forem encontrados em matas sem intervenção de venenos ou agrotóxicos não trazem risco eminente.”

Os trabalhos de combate ao caramujo africano pelo Exército devem durar ainda duas semanas. Caso haja novos focos do molusco, os trabalhos vão prosseguir até 13 de setembro.