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Capangas destroem acampamento de índios guarani em Iguatemi (MS), diz antropólogo

Celso Bejarano<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Campo Grande

15/08/2011 16h31

Pelo menos 50 índios guarani-kaiowá acampados desde 7 de agosto na divisa de duas fazendas em Iguatemi (466 km de Campo Grande), tiveram os barracos de lona destruídos por supostos capangas dos fazendeiros na madrugada deste domingo (14). Eles, que brigam pelo reconhecimento da área como indígena desde a década de 1970, disseram que correram para a mata e lá ficaram até a manhã de hoje.

Esta é a terceira vez que os guarani tentam se fixar naquela área. Na primeira, em julho de 2003, e, em novembro de 2009 eles foram expulsos à força, alguns tiveram braços e pernas quebradas, e um adolescente sumiu, segundo o antropólogo Benites Tonico, doutorando do 3º ano na Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ). Ele é guarani-kaiuwá e age como porta-voz dos índios.

Tonico disse que para os índios a área ocupada chama-se Tekoha Pyelito Kuê – Mbarakay [povo pequeno], mas lá situam-se duas fazendas, a Maringá e a Santa Rita. A área em questão é parte de um estudo preparado pela Funai desde o ano passado.

Tonico afirmou que ontem à noite, homens foram à área com tratores e cavalos. Eles destruíram os barracos e levaram os pertences dos índios, como roupas e comidas. De acordo com ele, nesta manhã outros 50 índios, entre os quais crianças, se juntaram aos guarani-kaiuwá e prometeram resistir aos ataques dos supostos capangas.

Técnicos da Funai, acompanhados de agentes da Polícia Federal, estiveram no local na semana passada e deram aos índios cestas básicas e lonas. Tudo foi levado pelos capangas na investida deste domingo, segundo o porta-voz dos guarani.

"Interdito proibitório"

Servidores do órgão fizeram um relatório da ocupação e avisaram o Ministério Público Federal (MPF), que acompanha o caso e investiga ainda a violência imposta na desocupação da área em 2009.

O dono de uma das fazendas, a Santa Rita, é o prefeito de Iguatemi, José Roberto Felipe Arcoverde (PSDB). No relatório, a Funai disse que ele teria em mãos um documento judicial, interdito proibitório, que impediria a ocupação.

Arcoverde não foi localizado pela reportagem do UOL Notícias nesta tarde. Ele estaria em viagem. A fazenda Maringá, que, segundo o relatório, pertence a Dagmar Vargas Antunes, também não foi encontrada.

O antropólogo Benites Tonico disse que os guarani brigam pela área ocupada desde 1971. “Muitos índios que vivem por ali trabalham como peões de fazenda, nunca saíram da área”, disse Tonico.

O antropólogo informou ainda que na região de Iguatemi ao menos 20 mil hectares pertencem aos 1,5 mil índios que vivem por lá.