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Casa de parentes de extrativistas mortos em Nova Ipixuna (PA) é alvo de disparos

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

18/08/2011 17h08

Familiares do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, mortos em 24 de maio em Nova Ipixuna (PA), afirmam que a casa vizinha a que o casal morava foi alvo de tiros na madrugada desta quinta-feira (18).

A residência é de propriedade de Laísa Santos Sampaio, 45, irmã de Maria, e de José Maria Gomes Sampaio, 38, seu marido, e fica no assentamento agroextrativista Prialta-Piranheira, na zona rural de Nova Ipixuna. Segundo Claudelice Silva dos Santos, 29, irmã de José Cláudio e também vizinha de Laísa e José Maria, um disparo atingiu o cachorro da família.

“Ele foi baleado na pata traseira. Por sorte não atingiram nenhum órgão vital. Nós acreditamos que os tiros foram feitos de longe. Assim como foi no cachorro, poderia ser em qualquer um de nós”, diz. Claudelice afirma que somente José Maria estava na casa no momento do disparo --entre 3h e 4h-- e que não saiu de casa para não ser morto.

Ainda de acordo com Claudelice, a família notou pegadas ao redor da casa entre terça e quarta-feira (16 e 17). “Acabou a paz no assentamento. Ninguém da família está morando lá. O único que aparece por lá eventualmente é o José Maria. Há 22 pessoas do assentamento, que são da família, morando em casas de parentes em Marabá”, diz.

Na tarde de hoje, Laísa e Claudelice foram até a Delegacia de Conflitos Agrárias (Deca) de Marabá para registrar boletim de ocorrência.

Ninguém preso

José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram mortos a tiros em uma emboscada. Somente em 28 de julho, mais de dois meses após o crime, o juiz Murilo Lemos Simão, da Comarca de Marabá, pediu a prisão preventiva de José Rodrigues Moreira --suspeito de ser o mandante do crime--, Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento, que teriam sido os autores dos disparos que mataram o casal.

A Polícia Civil concluiu o inquérito em de 10 julho. Antes, o mesmo juiz negou em duas ocasiõesos pedidos de prisão feitos pela Polícia Civil, que tinham parecer favorável do Ministério Público, alegando falta de provas. Para a CPT (Comissão Pastoral da Terra), a postura do juiz facilitou a fuga dos criminosos. Até agora nenhum dos três foi preso.

Segundo o inquérito, o casal foi morto porque impediu que Moreira comprasse terrenos dentro do assentamento agroextrativista do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de Praialta-Piranheira --o que é ilegal-- e denunciou a irregularidade às autoridades. Meses antes da morte, José Cláudio afirmou em uma palestra que poderia ser morto a qualquer momento.

Claudelice afirmou que a família tem outros inimigos, além dos três envolvidos no crime. A irmã do ativista diz que moradores do assentamento Praialta-Piranheira relataram que, após a morte do casal, José Rodrigues esteve no local em mais de uma oportunidade.

Depois da onda de crimes no sudeste do Pará, quando cinco camponeses foram mortos entre o final de maio e junho, o Ministério da Justiça enviou tropas da Força Nacional de Segurança e da Polícia Federal para conter a violência. Segundo Claudelice, as tropas da Força estão em Marabá, quando deveria estar em Nova Ipixuna.

“As autoridades não estão levando o problema a sério. Mas a nossa família vai continuar a luta do José Cláudio e da Maria. Na semana que vem vamos novamente até Brasília para falar com ministros e voltar a pedir Justiça e segurança”, disse Claudelice.

Onde de mortes

Alguns dias após a morte dos extrativistas, o lavrador Eremilton Pereira dos Santos, 25, que morava no mesmo assentamento do casal, foi encontrado morto. No dia 1º de junho, um lavrador de 33 anos foi assassinado em Eldorado dos Carajás.

Inicialmente, a polícia afirmou que não havia relação entre as mortes, mas depois disse que a sequência de assassinatos seria uma estratégia dos responsáveis pelos crimes para atrapalhar a investigação policial.

Para conter a onda de violência, o governo federal decidiu enviar a Força Nacional de Segurança, além do Exército e Polícia Federal, para o sudeste do Pará e para o oeste de Rondônia, onde Adelino Ramos, liderança do Movimento Camponês Corumbiara (MCC), foi assassinado enquanto vendia verduras em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho (RO), em 27 de maio --na época, o principal suspeito pelo crime foi preso.

Na véspera da chegada das tropas, em 9 de junho, o camponês Obede Loyla Souza, 31, foi morto no acampamento Esperança, em Pacajá (PA).

Os responsáveis pelos crimes de Carajás, Pacajá e pela terceira morte em Nova Ipixuna ainda não foram localizados.