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Mais da metade dos paulistanos classifica trânsito da cidade como péssimo, aponta Ibope

Ana Paula Rocha

Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

21/09/2011 12h00

Para 55% dos paulistanos o trânsito na cidade de São Paulo é péssimo, é o que aponta uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (21) pela Rede Nossa São Paulo e pelo Ibope que avalia a percepção dos paulistanos em relação à mobilidade na cidade mais movimentada do país. A pesquisa entrevistou, entre 17 e 22 de agosto, 805 paulistanos com 16 anos ou mais, e sua divulgação antecipa o Dia Mundial sem Carro, que é comemorado nesta quinta-feira (22).

Outro dado importante que a pesquisa constatou é de que o trânsito é a segunda área mais problemática para São Paulo, perdendo apenas para o quesito saúde. Para Artur Morais, especialista em transporte público, a percepção dos entrevistados reflete a situação real do trânsito da capital paulista. “Em São Paulo, qualquer motivo faz o trânsito engarrafar, então as pessoas ficam insatisfeitas mesmo”, afirma.

Mesmo com vários índices mostrando a preferência das pessoas pelo carro, a pesquisa aponta que 60% dos entrevistados estão dispostos a deixar de usar o veículo para utilizar o transporte público. Em 2009, este índice era de 40%, e em 2010, de 52%. Para o presidente da Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego), Dirceu Rodrigues Alvez, esta intenção não se reflete em redução de fato em função das condições do transporte atualmente. “Se as pessoas tivessem um transporte de qualidade e de boa fluidez, acredito que 90% da população iria aderir ao transporte coletivo. Com isso, reduziriam também os custos com o carro, que hoje são altos.” Ambos os especialistas concordam que a ampliação de linhas de trem e metrô ajudaria a fazer um trânsito melhor na cidade.

Para Morais, a velocidade é o principal diferencial que poderia fazer as pessoas preferirem o transporte público ao veículo particular. Segundo ele, em muitos casos o fluxo de veículos nos corredores de ônibus é tão intenso quanto o de pistas para carros. “Se você está de carro, no ar condicionado, ouvindo música e você me vê em um ônibus lotado, fica com pena de mim. Mas se você faz o seu trajeto em um corredor de ônibus com muito mais velocidade do que eu, é você que fica com pena de mim”, exemplifica. Na pesquisa, 29% dos entrevistados -contra 12% em 2010- afirmaram que optariam pelo ônibus casso houvesse mais e melhores corredores.

“No certificado de propriedade do veículo está escrito: automóvel de passeio. Acredito que este carro precisa realmente ser de passeio. Ficar na garagem e só ser utilizado nos finais de semana, no feriado, para um passeio. Esse carro teria que ser substituído por um transporte leve, como a bicicleta comum ou mesmo a elétrica”, defende Alvez.

Bicicleta? Só com mais segurança

Dos entrevistados na pesquisa, 40% afirmaram que utilizariam a bicicleta caso houvesse mais segurança. Em São Paulo, há poucas ciclovias fora de parques. Há ainda a ciclofaixa, que liga diversas vias a parques da cidade, mas que funciona apenas aos domingos, das 7h às 16h.

“Enquanto pensarmos que bicicleta é só lazer ou que ciclofaixa tem que ficar restrita a áreas de parque ou ao final de semana, a situação não vai mudar. As pessoas precisam ir ao trabalho ou à escola de bicicleta”, aponta Morais. O diretor da Abramet é contra a circulação de ciclistas em vias de São Paulo da forma como a estrutura para este transporte é hoje. “Não podemos deixar o ciclista circular no meio dos carros”, diz Alvez. Para ele, se para o motorista já é difícil ver uma motocicleta, a bicicleta nem mesmo é vista.

Respeito ao pedestre

Na pesquisa, diminuiu também a percepção de que os pedestres são muito ou um pouco respeitados. Em 2009, 35% concordaram com a afirmação. Em 2010, este índice passou para 28% e em 2011 para 21%. O estudo deste ano incluiu pela primeira vez uma pergunta que se refere ao respeito ao pedestre nos últimos meses.

Para 58% dos entrevistados, os pedestres têm sido menos respeitados. Para 26% eles são mais respeitados e 13% acreditam que nada mudou em relação a isso. O diretor da Abramet concorda: “Eu acho que o desrespeito é total. A ação da prefeitura em impor o cumprimento de determinações para que ele respeite este pedestre é essencial, mas não pode ser pontual”, afirma Alvez.

O índice de pessoas favoráveis à aplicação de multas para pedestres que não respeitam a sinalização passou de 41% em 2010 para 61% em 2011. Enquanto a percepção em relação ao respeito com o pedestre se enfraquece, a Prefeitura de São Paulo vem fazendo um trabalho nos últimos meses de conscientização de respeito a este público. Uma das iniciativas foi reforçar a fiscalização a motoristas que não dão preferência ao pedestre em faixas onde não há semáforo. 

Veja mais dados da pesquisa. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

- Pessoas que afirmaram ter comprado carro nos últimos 12 meses
2010: 28%
2011: 38%

- Entre os que possuem automóvel, usam carro quase todos os dias
2007: 15%
2011: 23%

- Não utilizam carro
2008: 44%
2011: 13%
 
- Entrevistados dispostos a deixar de usar o carro diariamente para utilizar o transporte público
2009: 40%
2010: 52%
2011: 60%

- Dispostos a trocar o carro por um menos potente, mas que seja menos poluente também
2010: 37%
2011: 48%
 
- Consideram o trânsito na cidade péssimo
2011: 55%
2010: 37%
 
- Percepção de que os pedestres são “muito/um pouco respeitados”
2009: 35%
2010: 28%
2011: 21%
 
- Tempo médio de deslocamento gasto no trânsito diariamente
2010: 2h42
2011: 2h49
19% dos entrevistados disseram que perdem mais de 4 horas nos congestionamentos
 
- Andam a pé pela cidade
2010: 45%
2011: 35%
 
- Deixariam de usar o carro caso houvesse uma boa alternativa de transporte público
2010: 76%
2011: 82%
 
- Pessoas que disseram que nada as faria utilizar os ônibus
2010: 21%
2011: zero
 
- Acham que aumentou o tempo de espera nos pontos de ônibus com relação há um ano 2010: 34%
2011: 47%
 
- Usariam a bicicleta como alternativa ao carro se houvesse mais segurança
2010: 18%
2011: 40%

- Reivindicam mais sinalização para ciclistas
2010: 8%
2011: 23%
 
- Favoráveis à aplicação de multas para pedestres que não respeitarem a sinalização 2010: 41%
2011: 61%