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Após ouvir pais de menino em São Caetano (SP), delegada diz que não houve negligência; colegas fazem homenagem

Larissa Leiros Baroni*<br>Do UOL Notícias<br>Em São Caetano do Sul (SP)

28/09/2011 13h40Atualizada em 28/09/2011 15h30

“Não houve negligência por parte do pai”, concluiu a delegada Lucy Fernandes após colher o depoimento da família de D.V.M., 10 anos, na tarde desta quarta-feira (28). O menino atirou contra uma professora e se matou com um tiro na cabeça na última quinta-feira (22), na escola municipal Professora Alcina Dantas Feijão, dentro de uma sala de aula.

De acordo com a delegada, o pai, que é guarda municipal, tomou todas as medidas necessárias para colocar os filhos em segurança mediante a presença da arma na residência, ainda que, no dia do acidente, o revólver calibre 38 estivesse carregado.

“O pai disse que os filhos sabiam onde ele guardava a arma, mas sabiam também dos riscos que teriam caso a pegassem”, afirmou a delegada.

No dia anterior, segundo depoimento, ele chegou em casa atrasado e por isso não tirou as balas do revólver calibre 38 --que ele usava para fazer bicos. E o pai afirmou que as crianças nunca demonstraram nenhum interesse ou curiosidade sobre as armas.

De acordo com a delegada, amanhã será ouvida a professora Rosileide Queirois, 38, ferida no episódio. Ela foi submetida a uma cirurgia na última sexta-feira (23) e passa por um novo procedimento hoje à tarde, mas está fora de risco. O depoimento de Rosileide será colhido no Hospital das Clínicas de São Paulo, onde ela está internada.

Recomeço das aulas

Uma faixa feita por alunos do ensino médio foi colocada na grade que cerca o prédio, perto da entrada de acesso aos estudantes, que retornaram nesta quarta-feira às aulas na escola.

Em homenagem ao aluno D.M.N., os estudantes escreveram: “Deus, olha a alma de D. e conforte os corações”. Eles também soltaram balões brancos com a palavra “Paz”.

Pela manhã, de acordo com os alunos, não houve aulas formais, apenas palestras realizadas no auditório, com a participação de todos os professores.

João Rafael Valério, 15, conta que alguns estudantes se emocionaram e choraram. Já a aluna Ingrid Catalano, 16, afirmou que orações estão sendo feitas. “Era uma criança de apenas 10 anos e a gente está fazendo orações para ela.”

Segundo a Secretaria de Educação, desde a segunda-feira (26), psicólogos trabalham junto a educadores, direção e funcionários do estabelecimento para tentar normalizar a volta dos alunos à escola. A Guarda Civil Municipal reforça a segurança na entrada e na saída das crianças e adolescentes.

Entenda o caso

Por volta das 15h50 da última quinta-feira (22), o aluno do 4º ano C da escola atirou contra a professora. Em seguida, ele saiu da sala e atirou contra a própria cabeça em uma escada do local. No momento dos disparos, havia 25 alunos na sala de aula.

A criança foi socorrida com vida pelos bombeiros e encaminhada ao Hospital de Emergência Albert Sabin, em São Caetano, onde morreu após duas paradas cardíacas.

A professora foi resgatada pelo helicóptero Águia da Polícia Militar e levada para o Hospital das Clínicas, na zona oeste de São Paulo, onde permanece internada. Ela foi atingida na região posterior do lado esquerdo na altura do quadril e sofreu fratura na patela direita. A professora já foi operada para a retirada da bala.

Nesta quarta-feira, ela passa por uma nova cirurgia, desta vez na rótula esquerda. Segundo informações do Hospital das Clínicas, a cirurgia ortopédica começou por volta das 12h30 e não tem previsão para terminar.

Segundo o cunhado da professora afirmou ao UOL Notícias, ela não culpa o aluno pelo episódio e afirma compartilhar a dor dos pais da criança.

A arma usada no crime pertencia ao pai do menino, um guarda civil municipal. O revólver calibre 38 é particular. O caso foi registrado no 3º DP (Distrito Policial) de São Caetano, que ainda investiga as causas da tragédia.

*Com informações de Gabriela Fujita