Alagoas estuda derrubada de 2.000 árvores às margens de "rodovia da morte"
Os constantes acidentes com morte num trecho de 20 km da AL-220, entre os municípios alagoanos de São Miguel dos Campos (63 km de Maceió) e Campo Alegre (81 km de Maceió), levaram autoridades a iniciarem uma campanha para a derrubada de 2.000 árvores de uma reserva ambiental que fica às margens da “rodovia da morte” no Estado.
Segundo balanço do DER (Departamento Estadual de Estradas e Rodagens), a rodovia justifica a fama de mais violenta no trânsito e registra o maior número de mortes entre todas as pistas estaduais. Entre 2006 e 2010, foram 92 óbitos de condutores e passageiros de veículos.
Os relatórios não especificam o trecho do acidente, mas somente este ano oito pessoas morreram em colisões com árvores no trecho de 20 km que abriga a reserva ambiental particular. De várias espécies, a maioria delas é frutífera, em geral, pés de azeitona preta.
A gota d'água para a fúria das autoridades com as árvores ocorreu após um acidente no último dia 15, que provocou a morte de quatro pessoas que estavam em uma Pajero. O veículo acertou de lado uma árvore de tronco grosso e, apesar da força da batida, ficou intacto.
Este ano, pelo menos outros três acidentes com colisões em árvores resultaram em morte no trecho. No dia 11 de setembro, o estudante do direito Felipe Saône Melo capotou com o carro e acertou uma árvore da rodovia.
Em abril, mãe e filha morreram na hora quando o veículo Tempra onde estavam bateu de frente em uma árvore. Em fevereiro, o empresário José Benedito da Silva, 34, perdeu o controle do Uno que conduzia e também colidiu de frente com um tronco.
A proposta de retirar as árvores está sendo encabeçada pela Assembleia Legislativa e pela Câmara de Vereadores de Arapiraca (125 km de Maceió) – a rodovia liga o município à capital. Órgãos de trânsito também apoiam a derrubada, mas a medida é criticada por ambientalistas.
“Dados mostram que a AL-220 é a segunda rodovia com mais acidente no Estado, mas é a primeira colocada em vítimas fatais”, disse o deputado Joãozinho Pereira (PSDB), que protocolou pedido para que o Estado replante as árvores em outro local. Outros quatro deputados apoiaram a iniciativa, que será apresentada ao governo.
Reserva existe há 15 anos
A ideia de plantar árvores às margens da rodovia AL-220 foi da usina Porto Rico, que queria embelezar o local. Mas pouco tempo depois de crescidas, as árvores se tornaram vilãs, e a própria usina pediu a derrubada. Nos últimos dez anos, 11 funcionários da empresa morreram em acidentes de choques com árvores.
“Cinco anos depois de plantadas, as árvores cresceram e começaram os primeiros acidentes fatais. O primeiro deles vitimou quatro funcionários de uma vez. Essas árvores estão localizadas em uma reta, e, em qualquer deslize, o carro bate no tronco. Eles são tão resistentes, que só os carros se destroem e elas ficam intactas”, disse o administrador agrícola do grupo Olival Tenório, Carlos José Monteiro.
A usina elaborou um projeto e se comprometeu a plantar cinco espécies de Mata Atlântica para cada árvore derrubada às margens da AL-220. Além disso, o grupo defende o reflorestamento do local com espécies que não oferecessem riscos aos motoristas.
“O Ibama não aceitou a proposta pela qual vínhamos lutando há anos e terminamos desistindo de cobrar uma solução. Agora, com esse projeto da Assembleia, estamos confiantes que esse problema será resolvido”, disse Monteiro.
Procurada pelo UOL Notícias, a superintendente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis) em Alagoas, Sandra Menezes, informou que não é competência do órgão autorizar a derrubada das árvores, que só poderia ser dada pelo órgão estadual de meio ambiente.
“Como cidadã, avalio que se os motoristas andassem na velocidade correta, não excedessem os limites, as árvores não causariam problema nenhum. Eu defendo, inclusive, que sejam feitos mais corredores em rodovias, com plantios de árvores frutíferas para alimentar as pessoas.”
Instituto já realiza estudos
Apesar de não ter recebido solicitação de estudo de impacto ambiental para retirada das árvores às margens da AL-220, o IMA (Instituto de Meio Ambiente de Alagoas) iniciou esta semana a produção de um relatório de impacto ambiental que irá definir sobre liberação ou não da derrubada da vegetação em torno da rodovia.
Mas o presidente do IMA, Adriano Augusto de Araújo, adiantou que, além das 2.000 árvores, foram identificados centenas de outras barreiras localizadas fora do padrão legal.
“Os problemas não são só as árvores. Existem postes, placas de sinalização e plantações de cana que a menos de 15 metros da faixa de rolamento. Estamos fazendo um mapa com o diagnóstico desses pontos para que, assim que for solicitada a demanda, já tenhamos o relatório”, disse Araújo.
Para ele, a maioria dos acidentes registrados no trecho foi causada por excesso de velocidade. “A batida em árvores ou qualquer outra barreira é consequência da perda de controle devido à alta velocidade, pois aquele trecho não é de curva, é todo reto”, afirmou.
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