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FAB rebate críticas de ex-controlador e nega nova crise no controle aéreo brasileiro

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

06/10/2011 07h00

Em nota enviada ao UOL Notícias, a Força Aérea Brasileira (FAB) rebateu as afirmações feitas pelo ex-controlador de voo, Edleuzo Cavalcante à reportagem e negou que o país esteja à beira de uma nova crise no controle aéreo.

“O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica afirma que voar no país é seguro e que estão sendo tomadas ações que seguem em concordância com o volume de tráfego aéreo e com as normas internacionais de segurança”, afirma a Aeronáutica, em nota assinada por Marcelo Kanitz Damasceno, chefe de Comunicação Social da FAB.

O ex-controlador trabalhou por 23 anos no Cindacta 1, em Brasília, e foi expulso da FAB em abril deste ano por criticar a instituição militar. Antes, em junho de 2007, ele e mais 13 controladores foram retirados do controle de tráfego após se envolverem em operações-padrão e manifestações para denunciar as condições de trabalho dos controladores após o acidente com o voo 1097 da Gol.

Na entrevista ao UOL Notícias, Cavalcante, atualmente presidente da Associação Brasileira dos Controladores do Tráfego Aéreo (ABCTA), afirmou que uma nova tragédia poderia ocorrer a qualquer momento. “Estamos com o cenário de uma nova tragédia pronto. Não será surpresa para nenhum de nós [do setor] se acontecer outro acidente daqueles”.

O ex-controlador disse que a FAB continua habilitando controladores sem experiência e preparação adequada --um dos motivos que causou o acidente em 2006-- para atender a demanda por profissionais. Na avaliação do ex-controlador, o quadro se explica pela falta de atrativos para os militares continuarem na função.

Segundo ele, o salário inicial de um controlador é de R$ 2.500 e, em muitos casos, militares com mais de 20 anos na função ganham menos do que R$ 4.500. Dados da ABCTA apontam que o número de controladores com mais de cinco anos de carreira era de 76% em 2003 e caiu para 53% em 2011.

A FAB nega: “Aproximadamente 74% dos controladores militares de voo tem mais de 5 anos de serviço. Não há qualquer tipo de pressa na habilitação de controladores. Eles só recebem a habilitação quando concluem todas as fases do processo de formação.”

Documento aponta problemas

A reportagem teve acesso a um documento de circulação interna no Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes da Aeronáutica), emitido em 12 de julho deste ano. Nele, o sargento Eurípedes Barsanulfo Marques, controlador e instrutor do Cindacta 1, denuncia que novamente militares sem qualificação estão sendo colocados no controle do tráfego.

“Como controlador e instrutor deste centro pude observar a péssima qualidade do processo de instrução e principalmente a concessão de habilitação técnica de controlador a pessoas sem o mínimo de conhecimento e capacidade para exercitar esta atividade tão complexa”, diz o sargento no documento.

CONTROLADOR DENUNCIA

  • Relatório interno encaminhado ao Cenipa em 12 de julho deste ano

A Aeronátuca cita ainda a implementação do Centro de Simulação do Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), em São José dos Campos (SP). “Foi ampliada a capacitação do nível operacional dos controladores. Com sistemas de última geração, essa nova estrutura elevou de 10 para 32 o número de posições de controle, ou seja, ampliou-se a capacidade de 160 para 512 controladores-alunos por ano, triplicando a capacidade de formação.”

A instituição nega também que os controladores estejam sendo submetidos a escalas de trabalho desumanas. “Um controlador passa, no máximo, duas horas seguidas diante da console e após esse tempo ele vai para uma área de recreação ou repouso.

Desmilitarização

Após o acidente de 2006, o governo e o Congresso debateram a necessidade de desmilitarizar o controle do tráfego aéreo, uma das principais reivindicações das entidades do setor. O Brasil é um dos poucos países do mundo que mantêm o controle do tráfego nas mãos dos militares, ao lado de Eritréia, Togo e Gabão.

Após o acidente entre o Boeing da Gol e o Legacy, a Argentina decidiu desmilitarizar o setor. “É um serviço público essencial. Tem que haver transparência. Controle de tráfego aéreo é diferente de controle do espaço aéreo, e não tem nada a ver com segurança nacional. Mas no Brasil ninguém mexe nisso. Eles acham que é mexer em um formigueiro”, afirma Cavalcante.

A FAB se manifestou de forma contrária à desmilitarização. “No Brasil temos um sistema de controle de tráfego aéreo e defesa do espaço aéreo integrados. Além de possibilitar uma enorme economia aos cofres públicos, o sistema se mostra mais eficaz, uma vez que proporcionam um tempo de resposta mais curto. Nos outros países, esses sistemas são duplicados”, afirma a instituição.

Por fim, a FAB cita um relatório da Icao, organização da aviação civil ligada à ONU, que classificou o sistema de controle aéreo brasileiro entre os cinco melhores do mundo. “De acordo com a ICAO, o Brasil atingiu 95% de conformidade em procedimentos operacionais e de segurança.”

O que aconteceu no dia 29 de setembro de 2006