Topo

Falsos fiscais da Cetesb agiam há dois anos e cobravam até R$ 70 mil por vítima em SP

Kombi era usada por golpistas que se passavam por fiscais da Cetesb; quadrilha agia há dois anos - Divulgação/Cetesb
Kombi era usada por golpistas que se passavam por fiscais da Cetesb; quadrilha agia há dois anos Imagem: Divulgação/Cetesb

Janaina Garcia

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

24/10/2011 17h22Atualizada em 24/10/2011 18h27

A quadrilha de golpistas que se passavam por fiscais da Cetesb (companhia ambiental do Estado de São Paulo) e forjavam a autuação de estabelecimentos em áreas de contaminação ambiental agia na capital paulista e em municípios da Grande São Paulo há pelo menos dois anos, com cobranças que variavam de R$ 50 mil a R$ 70 mil por vítima. Dois homens do grupo foram presos nesta segunda-feira (24).

A informação foi repassada na tarde de hoje pelo corregedor do Núcleo de Inteligência Setorial da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, João Batista Beolchi. Segundo o corregedor, que também é delegado de polícia, duas pessoas foram presas em flagrante hoje de manhã na zona norte enquanto abordavam uma empresa.

Com os presos, os policiais apreenderam autuações falsificadas, carimbos, guias de recolhimento e dois veículos --um deles uma Kombi com a logomarca e as cores da Cetesb. De acordo com o corregedor, a quadrilha pode ter feito “centenas” de vítimas ao longo desses dois anos. Até esta tarde, dez pessoas foram ouvidas, entre vítimas e testemunhas.

  • Reprodução

    Reprodução de falsa autuação apresentada por golpistas que se passavam por fiscais da Cetesb em áreas de contaminação em São Paulo

As investigações tiveram início há cerca de 40 dias e apontam que até oito golpistas participavam do esquema. A divisão das tarefas entre eles de dava em duas frentes: enquanto um grupo vistoriava e autuava os locais --na notificação, os golpistas informavam que o empreendimento tinha sido considerado contaminado pela Cetesb--, o outro oferecia serviços para a solução do problema.

“Enquanto uma parte da quadrilha notificava, autuava, intimava, a outra agia como que 'caindo do céu', dentro do prazo de 15 dias concedido, prometendo a solução do problema apontado pelo primeiro grupo”, afirma Beolchi. "Chegavam a dizer que, só de colocar a placa da empresa deles no local, a Cetesb não multaria o estabelecimento", completou.

Estabelecimentos visados

Segundo a investigação, os estabelecimentos mais visados eram postos de gasolina, indústrias (especialmente as de alimentos), entre outros, nas zona norte de São Paulo, em Carapicuíba, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes e Suzano.

Além do pagamento pela suposta contaminação, os golpistas também chegaram a negociar propinas para não multar os estabelecimentos.

Indagado sobre a eventual participação de funcionários públicos no esquema, o corregedor declarou que isso também será investigado. “Passamos o caso para o Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado) para a instauração de inquérito e adoção das medidas judiciárias, mas quaisquer ligações entre funcionários, ex-funcionários e parentes de funcionários serão investigadas pela Corregedoria-Geral da Administração do Estado”, disse.

Carros apreendidos

Os dois veículos apreendidos hoje na investigação da fraude são uma Kombi --de para-brisa trincado, insufilme nos vidros laterais e adesivos da Cetesb e de um 0800 de coleta de resíduos da companhia-- e um Ford Ka preto com o adesivo da empresa de fachada da qual os golpistas se utilizavam.

A empresa se chamava “Rasperfure Sondagens e Monitoramentos Ambientais", com suposta sede em São Paulo. A reportagem ligou para os quatro telefones mencionados no adesivo da "Raspefure", mas três sequer completaram a chamada e, no quarto, ninguém atendeu.

Esses contatos estão também no site da empresa de fachada, no qual constam ainda fotos do que seriam obras executadas por ela e o aviso de que está "legalmente constituída, filiada à Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS)".

O caso só foi descoberto graças a comerciantes que ligaram à Cetesb para tirar dúvidas. De acordo com a investigação, muitos recebiam "no mínimo" duas a três visitas dos golpistas antes de pagar o que seria devido pelo "trabalho".