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Vereador que se comparou a "príncipe" pede "desculpas parciais" e se livra de Comissão de Ética

Janaina Garcia<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

26/10/2011 17h43

Um pedido de “desculpas parciais” travestido de nota de esclarecimento livrou o vereador Rodson Lima (PP), de Taubaté (cidade a 130 km de São Paulo), de responder a processo na Comissão de Ética da Câmara municipal.

Em pronunciamento feito no plenário na tarde desta quarta-feira (26), o parlamentar se desculpou por ter se comparado a “um príncipe”, semana passada, em uma postagem feita em um grupo de discussão no Facebook.  A comparação causou furor entre usuários da rede e levou o presidente da Casa, Jeferson Campos (PV), a dizer que a “declaração infeliz” do colega poderia parar na Comissão de Ética. Se o grupo entendesse que Lima quebrou o decoro, por exemplo, ele estaria sujeito desde a uma advertência a processo de cassação do mandato.

O comentário havia sido sobre as regalias de um hotel na cidade de Aracaju (SE) no qual ele, mais dois vereadores e quatro servidores da Casa estavam hospedados. O hotel fica na orla da capital sergipana, onde o grupo participava do 18º Encontro da Abel (Associação das Escolas do Legislativo e Escolas dos Tribunais de Contas) a um custo, entre diárias e passagens áreas, de R$ 18 mil ao contribuinte.

No pronunciamento de hoje, o vereador disse ter sido vítima de “maldade” de quem teria imaginado que a comparação teria alguma relação com “turismo com o dinheiro público”.

“Deus é testemunha, eu tenho imagens que mostram que isso não ocorreu”, disse, referindo-se às fotos do certificado do curso e de palestras das quais afirma ter participado durante o evento em Aracaju. O material foi exibido em um telão.

Lima atribuiu a “uma parte podre da elite” a suposta incompreensão, exibiu um caixote de engraxate para remeter aos anos anteriores ao Legislativo e fez um mea-culpa: alegou “inabilidade [dele] com as palavras [que] ensejou a dupla interpretação”. “Minhas sinceras desculpas, mas desculpas em partes: àqueles que interpretaram mal, jamais. Posso até lhes dar o perdão”, discursou.

Nenhum vereador comentou o caso após o pronunciamento. Apesar da galeria lotada, o parlamentar recebeu aplausos tímidos.

A reportagem do UOL Notícias tentou falar com o presidente da Casa, mas ele não atendeu aos telefonemas.

A postagem da discórdia

A analogia foi feita em um grupo de discussão no Facebook cujo tema são as eleições municipais de 2012. Na postagem, datada da última quarta-feira (19), o parlamentar se mostra maravilhado ante as condições de um hotel em que ele e os colegas estavam hospedados.

“Hotel 5 estrelas, com uma big de uma piscina e de frente para o mar. Tudo pago com o dinheiro público! Daí me pergunto? Devo ou não continuar atendendo TODOS os dias no gabinete da CMT [Câmara Municipal de Taubaté], em meu escritório no 3 Marias?”, indaga o parlamentar. Na sequência, ele responde com um “lógico que sim” e agradece a “vida de príncipe” proporcionada pelo “povo”.

O pequeno texto despertou a ira de internautas da cidade, que deixaram comentários pouco elogiosos ao vereador. A um deles, Lima chegou a pedir que não se fizesse “de idiota”, pois estaria em Aracaju “a serviço” do cidadão.

Ainda na capital sergipana, o vereador alegou que a expressão havia sido “uma analogia com a vida de plebeu que tinha [antes de ser eleito], mas no sentido de agradecer”, disse.

Com sauna, piscina, quadras de tênis e sala de jogos, Lima garante ter usufruído “apenas” da última, com pebolim e pingue-pongue. Questionado sobre os xingamentos que recebeu, o vereador alegou: “Fui atacado pessoalmente”.

Mas ele fez questão de citar outra analogia –desta vez, a políticos como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e à presidente Dilma Rousseff.

Condenado duas vezes por improbidade, o pepista está inelegível para o pleito de 2012 e responde ainda a uma ação criminal no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

A conta de um vereador

À exceção do presidente, que recebe adicional pelo posto, os 14 vereadores em Taubaté recebem, cada um, salário mensal de R$ 6.100 (valor bruto). Cada parlamentar ainda tem direito a um carro com motorista à disposição, verba de até R$ 18 mil para contratação de assessores, R$ 500 para despesas com gasolina e de R$ 400 para gastos com dois celulares.

As sessões em Taubaté acontecem uma vez por semana, às quartas-feiras.