Feijão "estampa" imagem do padroeiro de cidade do interior de Minas Gerais
Uma história de crença e fé transformou grãos de feijão em símbolos da cidade de Lamim (160 km de Belo Horizonte). O pequeno município, com cerca de 3.500 habitantes, carrega há mais de 200 anos a lenda do feijão, conhecido somente ali como “milagroso”.
No grão desse feijão é possível ver a imagem de uma pomba, símbolo do Divino Espírito Santo, padroeiro da cidade. O feijão serve como amuleto e suvenir na festa religiosa que acontece na celebração de Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa.
Imagem símbolo
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Pomba representa Espírito Santo para católicos
O professor e morador da cidade José Geraldo Reis e Silva disse que a história do feijão é contada nas escolas, em pesquisa sobre folclore local e pelas ruas do município. Todo lamiense conhece o “milagroso”. Alguns dizem ter recebido graças através do feijão, porém ninguém nunca pesquisou por que o grão é tão diferente.
“Resolvi pesquisar se o feijão era coisa só nossa. Preparei alguns grãos e mandei para um programa de TV. Eles se interessaram e enviaram para a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em Goiás, especializada em feijão. O técnico veio aqui em casa, pesquisou e viu que ‘o milagroso’, esse com a pomba, só existia aqui. A Embrapa achou o fato incomum”, contou o professor, que tem apelido de Lamim.
Hoje os grãos estão preservados pela Embrapa, já foram levados para várias cidades do Brasil e até para a Holanda. Reis e Silva encontrou na paróquia da cidade um livro manuscrito do professor João Francisco Medeiros Duarte que em 1889 contou a história de Lamim e relatou o nascimento da lenda do feijão.
Na comemoração do padroeiro, Divino Espírito Santo, é sorteado um festeiro para bancar as celebrações e o grande almoço. Diz o livro que no século 19 eram escolhidos somente fazendeiros ricos. Porém, um dia o lavrador Brás Teixeira da Cunha foi sorteado e não tinha dinheiro para organizar o festejo. Ele resolveu plantar feijão e vender a colheita para custear a festa santa.
“Para surpresa do lavrador, quando os grãos nasceram ele encontrou o esplendor do Divino Espírito Santo estampado no feijão”, conta Reis e Silva. Até hoje em Lamim a tradicional comemoração mobiliza moradores. O festeiro sorteado para o ano que vem já anunciou que festa vai homenagear o “milagroso”.
A coordenadora da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Grais (Emater), Ana Dea Maria Arruda Silva, informou que poucas pessoas plantam o feijão. Segundo ela, o “milagroso” é muito procurado por causa da lenda, mas é encontrado somente na casa de pequenos produtores, entre eles Reis e Silva.
O sonho do “senhor Lamim” é fazer um livro, um museu e uma festa do feijão. Ele quer imortalizar a história de fé do seu povo. No pequeno município onde paróquia, praça principal e até comércios levam o nome de Divino Espírito Santo, a lenda do feijão se tornou um grande patrimônio.
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