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Gravações telefônicas mostram presos coordenando ataques a ônibus em Maceió

Do UOL Notícias, em Maceió

22/12/2011 20h11

A Polícia Civil de Alagoas divulgou nesta quinta-feira (22) gravações de conversas telefônicas entre dois acusados de comandar e executar atentados a ônibus em Maceió na última semana. O diálogo é entre um preso, acusado de tráfico de drogas, e um primo, que estava fora do presídio e recebeu ordens para incendiar um coletivo.

Ouça parte do diálogo divulgado

Nas conversas realizadas no último dia 14, o preso Sílvio da Silva Oliveira pede que Jackson Américo de Souza contrate "dois garotões" da favela para atacar um ônibus, num local próximo à rodoviária. A proposta de Sílvio é que Jackson faça “um favor aqui para a rapaziada [do presídio]”. Durante o diálogo, ele admite que os detentos estão comandando outros ataques na capital alagoana. Em dois dias, três ônibus foram incendiados em Maceió.

A solicitação feita pelo detento, por telefone, é “botar todo mundo pra descer e tocar fogo [no ônibus].” Na interceptação telefônica, feita com autorização judicial, Sílvio diz que o motivo dos ataques seriam as mudanças disciplinares adotadas no sistema prisional, que instalou um módulo de segurança máxima com isolamento dos presos mais perigosos. “A gente tá sofrendo aqui dentro”, afirma Sílvio na conversa.

Em um dos trechos, o detento diz como os incendiários devem agir. “Mete fogo lá, até por debaixo dele. É só derramar a gasolina debaixo dele. Derruba gasolina debaixo do ônibus, pô. Aí, taca fogo. Espera um pouquinho. Quando o fogo queimar por debaixo, é só correr pra grota e já era”, diz o preso, para espanto do primo que, inicialmente, retruca a ideia: “tá doido?”

Apesar da resistência inicial, as demais conversas mostram que Jackson não só aceitou a proposta, como conseguiu contratar os “garotões” pedidos pelos presos –que pagaram pelo serviço.

Além do incêndio, os presos pedem para que os criminosos levem e deixem um recado no ônibus que seria atacado no bairro da Cambona, no dia seguinte à conversa. “Tem que levar uma carta para reivindicar pra gente. Reivindicar nossos direitos”, alega.

Em outra conversa, Jackson pergunta se os presos não querem incendiar o trem urbano, que também passa pela região da Cambona: "E no trem? E no trem? Pode fogo no trem?" O detento, porém, nega a proposta e diz que a ideia é “dar repercussão” e tocar fogo no ônibus e até em carros próximos.

Na noite do dia seguinte à gravação, homens armados interceptaram um ônibus no bairro da Cambona, mandaram os passageiros descer e incendiaram o coletivo. Assim como foi pedido pelos detentos, os criminosos deixaram dois cartazes dizendo "contra a opressão nas cadeias" e "agente 100% favela".

Após a identificação dos autores dos atentatos, na última terça-feira (20), Jackson foi preso pela polícia na porta do presídio Baldomero Cavalcante, quando aguardava a saída de Sílvio –que seria libertado naquele dia. Os dois estão detidos, à disposição da Justiça.

Os incêndios

Na última semana, em menos de 48 horas, três ônibus foram incendiados em Maceió. O primeiro ataque a ônibus aconteceu na tarde de quarta-feira (14). O alvo foi um ônibus que fazia a linha José da Silva Peixoto-Joaquim Leão, que foi abordado por três homens armados. Os acusados mandaram os passageiros descer do veículo, retiraram o combustível do coletivo e o incendiaram. Um veículo que estava próximo também foi completamente destruído pelas chamas.

Na quinta-feira (15), outros dois atentados foram registrados na capital. O primeiro deles foi justamente o ônibus citado por Sílvio e Jackson na gravação, no bairro da Cambona. Testemunhas informaram que quatro homens armados chegaram e, após mandarem os passageiros descer, jogaram gasolina e atearam fogo no veículo.

O segundo caso foi registrado no fim da noite, na Cidade Universitária. Assim como nos outros dois atentados, homens armados abordaram o veículo, retiraram os passageiros e atearam fogo em um ônibus da empresa Tropical, que fazia linha intermunicipal Rio Largo-Maceió. Segundo os militares, o veiculo foi totalmente destruído.

Na tarde desta sexta-feira (16), após a identificação dos líderes dos ataques, 23 presos acusados dos incêndios foram transferidos para o módulo de segurança máxima, dentro do sistema prisional.