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Entregues há menos de um mês, casas doadas a vítimas de enchente não têm água e esgoto em Alagoas

Aliny Gama

Do UOL, em Branquinha, São José da Laje e União dos Palmares (AL)

12/01/2012 06h00

Em menos de um mês, a alegria de poder deixar para trás a barraca de lona e receber a casa própria deu espaço a reclamações em Alagoas. Inaugurados no final de dezembro de 2011, os primeiros conjuntos habitacionais entregues pelo governo às vítimas das enchentes em junho de 2010 apresentam problemas como a falta de água nas torneiras, sistema de esgoto deficiente e ausência de transporte coletivo. Além disso, há queixas também de comércio de armas.

O UOL visitou três conjuntos habitacionais entregues, em três municípios diferentes da zona da mata alagoana, e ouviu diversas críticas dos moradores. Apesar de não esconderem que a vida nas novas casas é melhor que nas barracas montadas em acampamentos, os problemas estruturais do conjunto geram reclamações dos moradores, que pedem providências às autoridades.

Em São José da Laje, a 94 km de Maceió, as 166 primeiras casas foram entregues em um conjunto ainda incompleto. Apenas parte de uma das quatro grandes ruas está pavimentada. Os moradores também afirmam que o saneamento básico inexiste, e a água nas torneiras só chega a poucas casas.

Vivendo em uma residência de 41m² com mais oito pessoas, a dona de casa Cícera da Conceição, 40, não esconde a frustração com os problemas da nova moradia. “Logo quando entregaram a casa, a água estava nas torneiras. Tudo bonitinho. No outro dia, deixou de chegar e nunca mais voltou. Só chega água na torneira que fica do lado de fora da casa, duas vezes ao dia. Nos sábados e domingos, não chega água nenhuma vez”, disse a moradora, que não tem nenhum colchão e dorme com a família em papelões. A entrega das casas ocorreu no dia 20 de dezembro, com a presença do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB).

Outra moradora do conjunto recém-inaugurado, Josicleide Rosene, 26, também lamenta a falta de água encanada, que obriga as donas de casa a usarem um riacho poluído para lavar as roupas. Além disso, há problemas nos banheiros. “O vaso sanitário só vive entupido. Para descer a água da descarga, é preciso jogar uns 10 baldes de água toda noite”, afirmou, citando que o riacho também serve de lazer para as crianças, que tomam banho no local.

Em Branquinha, a 66 km de Maceió, as queixas pela falta de água encanada também são frequentes. Por conta de problemas no encanamento, na última semana o fornecimento foi suspenso a todos os moradores. Para amenizar o problema, foram instalados dois chafarizes, que fornecem água coletivamente aos moradores.

Mas a principal reclamação é que o conjunto habitacional está localizado numa área alta e distante do centro da cidade. Segundo eles, os transportes alternativos de União dos Palmares não querem ir ate o conjunto para pegá-los. “Falta um ponto de lotação, que possa nos levar a União dos Palmares ou pelo menos à cidade de Branquinha”, reclamou o funcionário público Marivan Carlos, 55.

Em São José da Laje também há reclamação de que crianças estão fora da escola por conta da ausência de transporte público. “Meus filhos mesmo não vão para a escola desde dezembro, porque o carro não está vindo pegar. Nem sei se eles perderam o ano, porque não fui ainda na escola”, afirmou a dona de casa Josicleide Rosene.

Já em União dos Palmares, a 73 km de Maceió, os conjuntos habitacionais apresentam melhor estrutura. Nem por isso faltam queixas. Um morador, que não quis revelar o nome, afirmou que existe um comércio de armas de fogo no conjunto. “Dois jovens estavam vendendo uma pistola ao ar livre, em plena luz do dia. As rondas são escassas, e o medo toma conta aqui”, denunciou.

Respostas

Ao UOL, a Seinfra (Secretaria de Estado da Infrestrutura) reconheceu que os conjuntos não estão prontos e informou que o governo optou pela entrega parcial após analisar a situação precária em que viviam as famílias nos acampamentos. Segundo o órgão, 1.479 casas que já estavam prontas e foram entregues. As demais 16 mil casas devem ser entregues até junho.

A Seinfra disse que a decisão foi discutida entre os governos federal, estadual e municipal, que firmaram um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) com o Ministério Público, no dia 9 de dezembro.

Para minimizar o problema da falta de água, a secretaria informou ainda que as casas estão sendo abastecidas por meio de carros-pipa. Quanto ao problema de mobilidade, a secretaria informou que os conjuntos foram construídos distantes do centro das cidades atingidas atendendo a recomendação do governo federal, para que as famílias não sofressem novamente com enchentes.

A secretaria garantiu ainda que a construção dos conjuntos exigiu “investimentos em obras de pavimentação, parcelamento do solo, terraplenagem, drenagem, esgotamento sanitário, abastecimento de água e de energia, além da instalação de equipamentos públicos, como escolas, creches e postos de saúde, entre outros.”