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No 2º dia de julgamento, réus negam participação na morte da deputada Ceci Cunha

O acusado de ser o mandante do crime, o ex-deputado federal Talvane, e a vítima, Ceci Cunha - Arquivo pessoal
O acusado de ser o mandante do crime, o ex-deputado federal Talvane, e a vítima, Ceci Cunha Imagem: Arquivo pessoal

Débora Zampier

Da Agência Brasil, em Brasília

17/01/2012 21h58

Hoje (17), no segundo dia do julgamento das mortes da deputada Ceci Cunha e de três parentes, três dos cinco réus responsáveis pela chacina falaram para o júri. Ontem (16), com o adiantamento da oitiva das testemunhas, dois depoimentos foram antecipados.

Ceci Cunha e três parentes foram mortos em dezembro de 1998, pouco depois da deputada ser diplomada no cargo. Ela visitava a irmã, que havia acabado de ter um bebê. De acordo com o Ministério Público, o crime teve motivação política, pois o primeiro suplente da vaga, o ex-deputado Talvane Albuquerque, queria ocupar o posto na Câmara dos Deputados para ganhar imunidade parlamentar, já que respondia a processos na Justiça.

Foram ouvidos ontem os réus José Alexandre dos Santos e Mendonça Medeiros da Siva, apontados come executores do crime. Ambos tiveram a confissão gravada em depoimento prestado na polícia, mas alegaram na Justiça que foram torturados para admitir a participação na chacina. Hoje, falaram Jadielson da Silva e Alécio Vasco, também citados como executores. Neste momento depõe Talvane Albuquerque.

Além de negarem a participação nas mortes, Talvane, Jadielson e Alécio voltaram a sugerir que outra pessoa teria motivo para assassinar a deputada, o ex-governador Manoel Gomes de Barros. Segundo os acusados, Ceci Cunha fez um acordo com o Barros a fim de sair como vice em sua chapa para o governo do Estado, aceitando uma quantia de R$ 2 milhões para usar na campanha. No entanto, ela teria desistido do acordo para concorrer à Câmara dos Deputados, mas não devolveu o dinheiro.

Os réus também reclamaram do grande transtorno que as acusações geraram em suas vidas. José Alexandre e Jadielson chegaram a se emocionar ao falar sobre o assunto. Talvane lembrou que até pouco tempo trabalhava como médico em três locais diferentes, mas, com a proximidade do julgamento e a divulgação na mídia, foi demitido de um dos empregos, em um hospital de Paulo Afonso, na Bahia.

Como suplente, Talvane chegou a tomar posse do cargo após a morte de Ceci Cunha, mas foi cassado um ano depois devido a uma conversa gravada com o pistoleiro conhecido como Chapéu de Couro. No interrogatório, disse que falou com o criminoso porque ele estava pedindo ajuda, e que não acreditava haver ilegalidade nisso. Quanto à morte de Ceci Cunha, disse que é inocente e sugeriu proximidade com ela ao lembrar que os dois atuaram como obstetras na mesma cidade.

A expectativa é que o segundo dia de julgamento também vá até a meia-noite –ontem os trabalhos foram interrompidos à 0h10. Após o interrogatório dos réus, começa a fase de debates entre a defesa e a acusação, mas vai depender da decisão do presidente do tribunal do júri, o juiz federal André Granja, de dar início a essa fase do julgamento ainda esta noite. Está agendada para amanhã (18) a fase final do julgamento, quando os jurados se reúnem para decidir o futuro dos réus.