Condenados por chacina em Alagoas são levados para módulo de segurança máxima
Os quatro condenados pela autoria material da “chacina da Gruta”, ocorrida em dezembro 1998, foram levados, nesta quinta-feira (19), para o módulo de segurança máxima dentro do Complexo Penitenciário de Maceió (AL), onde vão ficar presos.
Já o ex-deputado federal Talvane Albuquerque, condenado a 103 anos e quatro meses de prisão pela autoria intelectual do crime, fez exame de corpo de delita nesta manhã e foi levado para uma carceragem improvisada da Polícia Civil de Alagoas. O motivo é que, por ter formação superior em medicina, ele tem direito a uma prisão especial.
Porém, como o Estado não possui celas para presos especiais --já que o único módulo existente foi interditado no final de 2011--, o ex-suplente só deverá ser transferido para o presídio Baldomero Cavalcante após a entrega da reforma do módulo, prevista para ocorrer na próxima semana.
Os cinco acusados foram condenados, após três dias de júri popular, a penas entre 75 anos e 105 anos de prisão pela chacina. A sentença foi lida já na madrugada desta quinta-feira.
O crime vitimou a deputada federal Ceci Cunha e mais três pessoas que estavam com ela na varanda da casa de sua irmã, no bairro nobre da Gruta de Lourdes. Segundo a acusação, Talvane Albuquerque teria mandado matar a deputada para ficar com o cargo dela, já que havia perdido a eleição à época e ficado na primeira suplência da Câmara dos Deputados.
A defesa dos condenados já anunciou que vai tentar anular o julgamento, alegando que existem recursos em andamento no STF (Supremo Tribunal Federal) para mudar a competência do julgamento da Justiça federal para a estadual.
Segurança dos presos
Segundo a Superintendência de Administração Penitenciária de Alagoas, os quatro condenados pela autoria material da chacina --Jadielson Barbosa da Silva, José Alexandre dos Santos, Alécio César Alves e Mendonça Medeiros da Silva-- foram levados para o módulo de segurança máxima por conta da “repercussão” do crime e da consequente condenação, o que poderia levar a ter problemas com outros presos. “A decisão foi para garantir a segurança dos apenados”, informou a assessoria de comunicação da superintendência.
Ainda segundo o órgão, o complexo penitenciário não tem celas especiais para abrigar detentos com nível superior. Por isso, Talvane Albuquerque está detido em uma cela especial improvisada na Casa de Custódia 2, da Polícia Civil.
A superintendência afirmou que um módulo com 10 celas especiais deve ser entregue no próximo domingo (22). A transferência do ex-deputado federal Talvane Albuquerque deve acontecer já na próxima segunda-feira (23).
Por ter formação em medicina, Talvane ficará em uma cela separada dos demais presos, mas não terá direito a regalias, como frigobar, TV e ar condicionado, como ocorria no presídio até a interdição da Justiça.
Julgamento
Durante três dias, acusação e defesa apresentaram muitos argumentos e travaram um debate marcado muitas vezes pela tensão. O primeiro e mais emocionante depoimento foi o da irmã de Ceci e única sobrevivente da chacina, Claudinete dos Santos Maranhão. Chorando em alguns momentos, ela relatou com detalhes os assassinatos e reconheceu Jadielson como o autor do disparo de espingarda que matou sua irmã. “Reconheci pela cor dos olhos, castanhos”, assegurou.
Autor da denúncia, o MPF (Ministério Público Federal) sustentou a tese de que o ex-deputado federal --que perdeu a eleição de outubro de 1998 e ficou na primeira suplência-- matou Ceci para ficar com o mandato.
Segundo o procurador Rodrigo Tenório, o plano inicial era assassinar o então deputado federal Augusto Farias, irmão do ex-tesoureiro Paulo César Farias. A acusação foi feita pelo policial militar José Farias de Melo, que prestou depoimento ainda na segunda-feira (16).
Entre as provas apresentadas ao júri, para comprovar o plano, estava uma ligação telefônica entre Albuquerque e Maurício Guedes, conhecido como “Chapéu de Couro”, já falecido e acusado de contratar os pistoleiros. O contato foi feito semanas antes do assassinato de Ceci.
No áudio, Talvane chama o pistoleiro “meu amigo” e diz que “estava doido para lhe ver.” “Já arrumei o litro de mel, o rapaz que o senhor pediu”, diz "Chapéu de Couro", perguntando “quantos” Talvane iria querer. “Acho que dois tá bom. Três, como é?”, retrucou Talvane ao telefone.
Para o MPF, o termo “litros de mel” era um código para disfarçar a palavra pistoleiro. A gravação foi apontada como a principal prova do envolvimento do deputado no crime, que teria contratado os serviços de "Chapéu de Couro".
Já os cinco réus no processo negaram a autoria do crime. Durante as falas dos acusados e advogados, o argumento era o de que o mandante do crime seria o ex-governador Manoel Gomes de Barros, e a execução teria sido realizada por policiais. A afirmação foi baseada em uma suposta dívida que Ceci teria com Barros, e a morte teria ocorrido por vingança.
Sobre a gravação apresentada pelo MPF, Talvane Albuquerque afirmou que não havia entendido as expressões usadas por "Chapéu de Couro" e estava tentado “tapear” o pistoleiro, com quem afirmou não ter relação pessoal. “Ele tinha me ligado sete vezes antes, e me ligou mais cinco depois e eu não mais o atendi. Isso mostra que eu não queria conversa com ele, e só atendi essa ligação porque foi um assessor meu que atendeu a ligação e me passou o telefone”, afirmou, citando ser vítima de uma trama que resultaria em sua indicação como autor do crime.
Pelo menos dois dos acusados chegaram a usar depoimentos de testemunhas, afirmando que teriam sido vistos em praça pública em Arapiraca. Porém, os álibis foram contestados pelo MPF, que afirmou que processará os depoentes por falso testemunho.
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