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"Ficamos do lado de fora, vendo a estação pegar fogo", relata brasileira que sobreviveu a incêndio na Antártida

Brasileiros que sobreviveram ao incêndio na Antártida chegaram ao Rio na madrugada desta segunda-feira - Ricardo Moraes/Reuters
Brasileiros que sobreviveram ao incêndio na Antártida chegaram ao Rio na madrugada desta segunda-feira Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Vitor Abdala

Da Agência Brasil, no Rio

27/02/2012 07h40

Cerca de 40 integrantes da Estação Antártica Comandante Ferraz, entre eles pesquisadores e servidores civis da base, chegaram por volta da 1h15 de hoje (27) à Base Aérea do Galeão, no Rio. O avião C-130 Hércules, da Força Aérea Brasileira (FAB), decolou de Punta Arenas, no Chile, na tarde de ontem (26) e, antes de chegar ao Rio, fez escala em Pelotas (RS) para o desembarque de quatro pesquisadores.

No momento do desembarque no Galeão, no rosto da maioria transparecia o cansaço. Um dos passageiros chegou a levantar as mãos ao céu, como se agradecesse por ter chegado bem ao Brasil. A pesquisadora Terezinha Absher, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ainda estava assustada ao falar com a imprensa.

“Eu estou assim, porque foi realmente assustador tudo aquilo. Nós ficamos do lado de fora, vendo a estação pegar fogo. Eu nem vou falar muito porque ainda estou emocionada. Foi traumatizante porque, há 20 anos, eu trabalho na estação Antártica, passo muitos meses lá. Era como se fosse minha casa pegando fogo. A estação é de todos os brasileiros, mas eu me sentia como se fosse a minha casa. Perdi tudo. Todo o meu material de pesquisa e todos os objetos particulares. Não sei se voltaria para lá”, disse Terezinha, que trabalha com invertebrados marinhos.

Jasson Mariano, servidor civil da Marinha na manutenção da base, conta que ajudou a tentar apagar o incêndio na casa de máquinas. “Fomos acordados pelo nosso superior, nos chamando apavorado, dizendo que estava pegando fogo na base. Nós saímos com o uniforme de trabalho e fomos apoiar o grupo-base para tentar combater o fogo. Tentamos esticar a mangueira para pegar água do mar com as bombas, mas o incêndio se propagou muito rápido. A luta foi grande, mas não conseguimos”, relatou ele, que estava desde novembro na estação e retornaria ao Brasil no fim de março.

Também servidor da Marinha, Marcos da Conceição, demonstrava muito cansaço. “A família sempre vinha na minha cabeça. Na cabeça de todos nós. Estou muito cansado. Está até difícil falar com vocês agora”, disse.

A bióloga Fernanda Siviero, que estava desde o início do fevereiro na estação Antártica, conta que os integrantes da base passaram por grande susto. “A gente estava na base quando foi dado o alarme de incêndio, a gente fez o procedimento de evacuação e ficamos seguros em uma parte da base [isolada]. Ficamos muito consternados e assustados com essa situação toda do incêndio. A gente não acreditou, na verdade, que fosse tomar uma proporção tão grande. Imaginamos que fosse de fácil controle. Achamos que ia ser só um susto e que, daqui a pouco, estaríamos de volta. Infelizmente não foi.”

Já o pesquisador da Universidade de São Paulo Caio Cipro lamenta a perda das amostras de sua pesquisa. “As amostras são insubstituíveis. Eu estava participando de um projeto de hidrografia e a gente perdeu as amostras todas que foram coletadas desde dezembro [do ano passado]. Elas foram perdidas, porque têm que ficar congeladas. Como a estação está sem energia elétrica, uma vez descongeladas, as amostras não servem mais”, explicou.

O sargento da Marinha Luciano Gomes Medeiros, que ficou ferido quando tentava combater o incêndio, foi o último a desembarcar. Com as mãos enfaixadas, ele foi colocado em uma cadeira de rodas e encaminhado a uma ambulância, para ser levado ao Hospital Naval Marcílio Dias.

Além de deixar o sargento ferido, o incêndio provocou duas mortes, a do suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e a do sargento Roberto Lopes dos Santos, ambos da Marinha.