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Paralisação de caminhões prejudica abastecimento em São Paulo; PM vai montar operação

Do UOL*, em São Paulo

06/03/2012 11h12Atualizada em 06/03/2012 14h46

A paralisação dos caminhões distribuidores de combustível já causa desabastecimento na cidade de São Paulo. Os caminhoneiros ligados ao Sindicam-SP (Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo) protestam desde ontem contra a proibição de circular na marginal Tietê –medida implantada em dezembro do ano passado, mas apenas com caráter educativo até ontem (5), quando a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) começou a multar os infratores.

A marginal foi incluída na zona onde os veículos pesados de carga não podem trafegar das 5h às 9h e das 17h às 22h de segunda a sexta-feira. Nos sábados a interdição é das 10h às 14h.

Segundo a assessoria de imprensa do Sindicam, há 255 mil caminhoneiros ligados ao órgão em todo o Estado, sendo 54 mil na capital. A paralisação foi decidida em assembleia no último domingo e, segundo cálculos do Sindicam, há 800 caminhões que fazem o abastecimento de combustíveis parados. Estão sendo abastecidos apenas os serviços de emergência, como bombeiros, polícia, aeroportos e serviços de saúde. 

O sindicato afirma que a adesão é de 100%, mas motoristas que tentaram furar a paralisação foram impedidos de trafegar nesta manhã --caminhões que tentavam sair de uma distribuidora em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, foram apedrejados por manifestantes. Em nota com data de ontem, o Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes), entidade que representa as principais companhias distribuidoras de combustíveis, afirmou que manifestantes também obstruíram o acesso de caminhões-tanques nas bases de Guarulhos e Barueri.

A Polícia Militar vai divulgar na tarde de hoje, em uma entrevista coletiva, um esquema para garantir que os postos de gasolina recebam os caminhões-tanque. Segundo o Sindicam, o ataque na manhã de hoje foi um ato isolado e não representa o movimento.

O Sindicom ainda não divulgou uma estimativa inicial dos prejuízos causados pela paralisação. Segundo uma fonte ligada ao setor, membros do sindicato se reuniram com executivos da Prefeitura de São Paulo e homens da Polícia Militar para que fossem organizadas escoltas aos caminhões que tentam deixar as bases de abastecimento para distribuir combustíveis.

"Infelizmente, estas manifestações se dão de forma violenta, com depredações de veículos e ameaças a funcionários e motoristas", afirmou a entidade em nota. O Sindicom disse ainda que tentaria providenciar "meios legais" para garantir proteção a suas atividades.

Falta de combustível nos postos

Um funcionário de um posto de gasolina na avenida Prof. Francisco Morato, no Butantã, na zona oeste de São Paulo, relatou a falta de combustível. “O último abastecimento foi no sábado. Estamos sem gasolina especial desde ontem à tarde. Está acabando a gasolina comum e até meio-dia acaba o álcool”, afirmou Humberto Fialho. “Se até quarta não normalizar, nenhum posto em SP vai ter combustível.” 

Gerentes e proprietários de postos de combustíveis afirmam que estão sem informações sobre a volta do abastecimento. O gerente de um posto na zona oeste de São Paulo, Luís Augusto Corbisier, previa ficar sem combustível na tarde de hoje. "Vou ficar completamente esgotado.” Ele estima já ter prejuízo de cerca de R$ 6.000 a R$ 7.000.

A médica veterinária Carina Lourenco Cantagallo conta que já na noite de segunda-feira percebeu que os postos estavam muito cheios. No fim da manhã desta terça, ela aproveitou para também encher os tanques dos carros da família. "Os postos estavam muito cheios, aumentaram os preços já.” 

O presidente do Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo), José Alberto de Paiva Gouveia, foi procurado para comentar a paralisação nos postos de combustível, mas ainda não retornou as ligações da reportagem. Ontem, Gouveia afirmou que os postos da cidade não receberam “uma gota de combustível”. Ele estimou que, se o movimento for mantido, os estoques durarão apenas até quarta-feira (7).

Gouveia disse que vai encaminhar um ofício à prefeitura pedindo a volta das negociações com os caminhoneiros. “Não estamos pedindo nem a solução, porque não é problema que nós possamos resolver. Mas que eles pelo menos voltem à mesa de negociação.”

Ontem, o presidente do Sindicam falou por telefone com a secretário dos Transportes, mas as partes não chegaram a nenhum acordo. Não há previsão de reunião para se chegar ao fim da paralisação.

Desabastecimento em outras áreas

O primeiro segmento a aderir foi o de combustíveis, mas hoje também paralisaram as atividades os caminhoneiros que trabalham com materiais de construção, caminhões-caçamba e, de tarde, devem parar também os caminhões que abastecem os supermercados da capital, segundo o Sindicam.

"A intransigência das autoridades municipais tem levado vários segmentos a aderirem à manifestação", destacou em nota o presidente do Sindicam-SP, Norival de Almeida Silva. 

O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo informou que os estoques das empresas de ônibus que atendem a capital paulista são suficientes para garantir o abastecimento da frota até quarta-feira (7).

Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), Claudinei Pelegrini, os transportadores não têm condições de arcar com o aumento de custos com a mudança de percurso, definida após a restrição.

Com as interdições, a associação disse que um caminhão que vai de Barueri (SP) para São Paulo, que hoje percorre 32 km, passaria a rodar 143 km. “Quem vai acabar pagando a diferença desse custo é o consumidor final. É combustível a mais, pedágio a mais, horas de trabalho a mais para os caminhoneiros”, enumera Pelegrini.

Prefeitura

Na manhã de hoje, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) afirmou que poderia "aperfeiçoar" a restrição de caminhões na marginal, caso fosse necessário, mas ressaltou que não acreditava que haveria mudança no horário da proibição de circulação.

Em nota divulgada hoje, a Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo afirmou repudiar a paralisação e defendeu a restrição nas vias da cidade.

A secretaria disse ainda que está “trabalhando para que o abastecimento de combustível não seja prejudicado” e que “os sindicatos que incitam a greve e tentam marcar posição contra as novas regras de tráfego (...) sempre encontraram um canal aberto com a SMT”.

A Prefeitura de São Paulo procurou ontem o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado (Setcesp) e outras entidades representantes de caminhoneiros para negociar. Segundo o presidente do Sindicam, eles não foram convidados. "Se ele entrou em contato com algum sindicato não foi conosco. O único contato que tivemos com um órgão público foi com o secretário de Transportes, Marcelo Cardinale Branco, que também não deu retorno sobre o que conversamos ontem", afirmou.

*Com reportagem de Ana Paula Rocha e das agências Brasil e Estado