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Polícia investiga sumiço de quase R$ 1 mi em cheques apreendidos em operação em Alagoas

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

17/04/2012 15h30

A pedido do MP (Ministério Público Estadual), a Polícia Civil de Alagoas abriu inquérito para investigar o desaparecimento de R$ 959 mil em cheques apreendidos durante a operação Espectro, que investiga desvio na ordem de R$ 300 milhões dos cofres estaduais. O desvio teria ocorrido de dentro da delegacia onde os cheques estavam guardados, e alguns dos cheques teriam sido descontados na rede bancária.

A operação Espectro foi desencadeada pela polícia e pelo MP em 6 de março para desarticular um suposto grupo criminoso acusado de fraudar licitações na venda de alimentos ao governo do Estado. Ao todo, 17 pessoas foram presas, e 34 mandados de busca e apreensão, cumpridos.

O desaparecimento dos cheques está cercado de mistérios e pode ser marcado por uma sucessão de erros. Segundo o coordenador do Gecoc (Grupo Estadual de Combate às Organizações Criminosas), promotor Alfredo Gaspar de Mendonça, a diferença entre o valor apreendido e o que resta na polícia foi percebida na última sexta-feira (13).

Naquele dia, o advogado Ricardo Omena, que defende um dos acusados, procurou o MP para denunciar o desconto de alguns dos cheques apreendidos com o empresário Délio Xavier --um dos suspeitos de integrar o grupo-- e que estão sob poder das autoridades. A partir daí, falhas foram constadas.

“Imediatamente após recebermos a informação, chamamos a direção da Polícia Civil e foi feita uma pericia, que constatou que havia R$ 959 mil a menos do que constava no termo de apreensão [R$ 4,25 milhões em cheques e R$ 234 mil em dinheiro, que permanece correto]. Requisitamos a abertura de inquérito para apurar as devidas responsabilidades e para sabermos o porquê dessa diferença”, disse Mendonça.

O promotor informou que já há pelo menos um indício de irregularidade: os peritos constataram que o lacre que fechava o saco onde estavam os cheques pode ter sido violado, já que não foi fechado corretamente e oferece condições de retirada.

BB não quis custodiar os cheques

Segundo o promotor, houve uma “falha clara” da polícia ao guardar o dinheiro e os cheques apreendidos em uma delegacia. Segundo apurou o UOL, os cheques ficaram na Delegacia de Combate aos Crimes contra Ordem Tributária e Administração Pública, em Maceió, que está à frente das investigações da operação Espectro. O motivo para acomodação no prédio seria que o Banco do Brasil teria se recusado a custodiar os cheques.

“O local de guardar numerário não é uma gaveta ou em uma estante de delegacia. A Polícia Civil é que vai ter que dizer por que esse dinheiro foi guardado lá. Se fossemos nós, nessa gestão do Gecoc [Mendonça tomou posse na semana passada], que estivéssemos à frente dessa operação, jamais permitiríamos a guarda desse numerário em uma delegacia”, disse, sem apontar supostos responsáveis pela falha.

“As autoridades públicas à época firmaram o montante, que está no termo de busca e apreensão. Para o MP e a Polícia, o montante apreendido é o que foi firmado [R$ 4,25 milhões]. A investigação é que vai dizer se o montante foi contado errado, se foi retirado após a guarda, enfim, o que houve com esses cheques”, disse.

Em contato com o UOL, a Polícia Civil informou que a direção geral da corporação designou o Deic (Divisão Especial de Investigações e Capturas) para analisar o suposto desaparecimento dos cheques.

Responsáveis

Um inquérito já foi aberto nesta segunda-feira (16), que iniciou a tomada de depoimentos, que incluem o advogado que denunciou o desconto indevido dos cheques e policiais que participaram a operação e os que eram responsáveis pela segurança do material apreendido.

Ainda segundo a polícia, o caso está sob responsabilidade da delegada Ana Luiza Nogueira, que deverá apresentar resultado em 30 dias. Na investigação, também será analisado o fato de os cheques terem permanecido na delegacia, e não custodiados em um local seguro, como reclamou o MP.

O UOL também tentou contato com o advogado Ricardo Omena, que denunciou o desconto dos cheques ao MP, mas a secretária dele informou que Omena estava ausente durante todo o dia do escritório e não repassou o número do telefone celular do advogado.