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Advogado diz que filho de Eliza Samudio poderá passar por regressão; especialistas reprovam

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

28/06/2012 17h02

O advogado José Arteiro Cavalcante, representante da mãe de Eliza Samudio em Minas Gerais, afirmou que o filho da ex-amante do goleiro Bruno Souza poderá ser submetido a uma técnica conhecida como regressão com o objetivode, supostamente, retornar mentalmente ao dia em que Eliza teria sido assassinada, e, assim, apontar os culpados.

A paternidade da criança é atribuída ao jogador. Bruno e mais sete pessoas vão a júri popular, ainda sem data definida, pelo desaparecimento da moça. De acordo com as investigações da Polícia Civil mineira, Eliza foi levada, em junho de 2010, juntamente com a criança, para a casa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, e teria sido morta por ele, no imóvel localizado em Vespasiano (região metropolitana de Belo Horizonte).

Cavalcante disse que a pretensão deverá ser colocada em prática se o júri popular não for marcado para esse ano. “Tomara que o júri popular seja marcado ainda para esse ano. Porque senão, quem vai ser a maior testemunha contra ele (goleiro Bruno) será o filho dele, o Bruninho. Porque o Bruninho recorda de tudo que ocorreu”, afirmou Cavalcante, apesar de a criança ter à época pouco mais de quatro meses de vida.

“Vou pedir para fazer a regressão e um laudo psiquiátrico”, disse o advogado que, no entanto, não divulgou na qual isso seria feito. Sônia Moura afirmou ao UOL que a criança, quando são apresentadas a ela fotos dos suspeitos da morte de Eliza, diz a frase “homem ruim”, apontando, por exemplo, para Bruno e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, ex-braço direito de Bruno e um dos réus no processo. 

Sem valor jurídico

Apesar de dizer que não poderia opinar diretamente sobre o caso, por não ter participado dele, a juíza Maria Isabel Fleck, da 1ª Vara Criminal do Fórum Lafayette, em Belo Horizonte (MG), afirmou que a pretensão não tem embasamento jurídico.
“Isso não tem previsão legal no processo penal propriamente dito. É um instituto que já foi experimentado (regressão) em nível de investigação policial no Paraná, mas apenas como contribuição investigativa. Isso nunca valeria como prova”, afirmou.

A magistrada ainda afirmou entender que a criança deveria ser preservada mesmo que o processo ajudasse nas investigações. “Eu não sei se é conveniente essa criança, que em tese já foi tão agredida de várias formas, ser submetida a esse tipo de procedimento. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) preconiza que o Judiciário preserve a criança, tanto a criança vítima quanto a criança testemunha. Eu acho que jamais uma criança poderia ser submetida a isso sem uma avaliação para aferir o custo-benefício”, afirmou.

Na mesma linha, Alcino Laudares, diretor do Instituto Mineiro de Hipnoterapia, não recomenda a hipótese de a técnica ser usada na criança. “Eu acredito que, de algum modo, isso para a criança seria reviver traumas desnecessários e com resultados duvidosos. O bem maior que eu vejo que precisa ser tutelado é o bem estar dessa criança. Eu não faria isso”, disse. Segundo ele, no instituto a técnica é usada como terapia, com a anuência dos pais, em crianças a partir de oito anos de idade.

O que é

A regressão consistiria na indução do paciente, que permanece acordado, a uma espécie de “transe hipnótico”, e é conduzido pelo profissional a regredir mentalmente e relembrar acontecimentos marcantes de sua vida, vividos de forma traumática consciente ou inconscientemente, com o intuito terapêutico de compreendê-los e assim minorar algum distúrbio psicológico observado atualmente na pessoa, observou a psiquiatra e hipnoterapeuta Sofia Bauer.

Ela afirmou, no entanto, que a intenção de Cavalcante seria “inócua”. Para a especialista, crianças desenvolvem plenamente a consciência de fatos vivenciados somente a partir dos sete anos de idade. “Normalmente, é a partir dos sete anos que a gente vai ter o córtex pronto para guardar as memorias corticais, ou seja, aquilo que de verdade a gente lembra”, explicou.

O UOL tentou a opinião de psicólogos forenses, mas a assessoria do Fórum Lafayette afirmou que nenhum se dispôs a falar sobre o assunto porque alegaram não trabalharem com a técnica de regressão - no fórum ou fora dele.